21a Avaliação Nacional de Vinhos
Há algo de reconfortante numa taça de vinho e, acredito eu, especialmente um vinho tinto. Não, não que eles sejam os meus preferidos. Cada vinho tem seu momento e sua hora ideal, por isso evito dizer que prefiro este ou aquele. Creio que, na verdade, prefiro todos os bons vinhos!
Mas há, num dia qualquer, um conforto em ter nas mãos uma taça de um bom vinho tinto. É um conforto sensorial em muitos sentidos. Seja na forma e volume de uma taça grande corretamente preenchida, seja nos aromas frutados ou amadeirados ou complexos ou fechados, seja na coloração violácea, carmesin, rubi ou negra, seja na densidade mais pesada ou mais leve, em sua textura na boca, nas sensações que provoca e no convite que deixa para mais um gole.
Participar da 21a Avaliação Nacional de Vinhos, em Bento Gonçalves, é para mim como ter uma taça de um reconfortante vinho tinto em minhas mãos, depois de um longo dia de trabalho, numa poltrona confortável, sob a luz difusa de um abajur.
Demorei para me sentir assim, uma vez que considero esse evento o equivalente do 'Oscar' do vinho brasileiro.
Não é uma competição, não é um concurso, mas guarda em si toda a ansiedade e todos os desvarios de um desafio entre vinícolas.
Nesta última edição, realizada no sábado dia 28 de setembro, uma frase muito repetida foi a de que a avaliação atingiu a maioridade total, aos 21 anos. Concordo. Havia no ar uma sensação de coisas bem assentadas, bem feitas, de ordem e dedicação que transmitem uma certa tranquilidade a um evento que une mais de 800 pessoas, por ao menos cinco horas consecutivas de palavrório e serviço de vinhos. Não é pouco para um evento que representa uma indústria de qualidade ainda tão jovem.
Minha percepção me falou de coisas contraditórias, como essa tranquilidade advinda da experiência de mais de duas décadas realizando um evento que cresce aos poucos, da organização primorosa da Associação Brasileira de Enologia, que atribui responsabilidades grandes à todos os envolvidos. Mas muitos desses envolvidos (e vai aí a contradição) são absolutamente jovens, vários deles pouco mais velhos do que a Avaliação em si, e trouxeram ao evento deste ano uma estabilidade incrível e, ao mesmo tempo, uma certa descontração que só a juventude é capaz de ter.
O vinho na taça precisa ser tudo isso. E tudo isso não é fácil. É um desafio e tanto para uma indústria que precisa se adequar a um país que não valoriza seus próprios produtos, a não ser no sentido fiscal.
Sentada entre os mais de 800 participantes, pensando nos excelentes brancos que passaram por minha taça, nas bases de espumantes e nos tintos promissores desta safra de 2013, olho as coisas com olhos de contemplação, com olhos de quem, finalmente, consegue enxergar um pouco além de rótulos. Penso nas variadas sensações do vinho, em seu poder a taça, em sua (pouca, infelizmente) participação nas mesas dos brasileiros, penso que o vinho nacional foi, enfim, tremendamente bem explicado na gaita de Renato Borghetti, que tocou ao final do evento: é tradição gaúcha, com sobrenome italiano, tocada como jazz, intrepretando uma poesia musical de Luiz Gonzaga. É Brasil, e é lindo de ver e bom de beber!