Colheita 2016

Colheita 2016
Seja bem-vindo! E que nunca nos falte o pão, o vinho e a saúde e alegria para compartilhar!

sexta-feira, 30 de março de 2012

Terminou a colheita no Vale dos Vinhedos

Recebo hoje as informações do final da colheita no Vale dos Vinhedos-Bento Gonçalves (RS) e reproduzo a seguir o release enviado pela assessoria de imprensa da Aprovale:


Vale dos Vinhedos comemora a melhor safra de sua história

Uvas chegam a registrar 22º babo. Destaque para a branca Chardonnay e a tinta Merlot

“Esta foi a melhor safra que o Vale dos Vinhedos já viu”. A afirmação é do diretor técnico da Associação de Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), Daniel Dalla Valle, mas a avaliação é unânime e a comemoração é geral. Do início ao fim, a vindima teve excelente desempenho devido ao comportamento favorável do clima. As uvas chegaram a atingir 22º babo, o que resultou em uma produção alcoólica natural de 14,5º no caso do Merlot, por exemplo.

Viticultores, enólogos e cantineiros do Vale, embriagados de felicidade, já projetam vinhos e espumantes com qualidade superior. Os atributos contemplam todas as uvas, mas o destaque ficou com as emblemáticas uvas da região, a branca Chardonnay e a tinta Merlot, variedades que simbolizam e representam a identidade do Vale dos Vinhedos e são predominantes na Denominação de Origem.

No Vale dos Vinhedos, a vindima estreou no início de janeiro e encerra esta semana. Os primeiros espumantes e vinhos brancos mais jovens começarão a chegar ao mercado ainda no final deste ano, mas é em 2014 que os grandes vinhos do Vale poderão ser degustados na taça. “O brinde da Copa do Mundo de 2014 já está assegurado. Agora só falta a seleção brasileira fazer a sua parte”, festeja Dalla Valle, que já treina a comemoração de muitos gols para o setor vitivinícola do Vale. “Somos a primeira região a obter uma Indicação Geográfica no Brasil, conquistamos o reconhecimento da União Europeia e estamos em contagem regressiva para a primeira Denominação de Origem de vinhos do Brasil. Nossa qualidade pode ser degustada na taça”, exalta.

Com este desempenho, as vinícolas do Vale dos Vinhedos agora se dedicam a extrair o máximo da matéria prima, empregando toda sensibilidade dos enólogos na elaboração dos vinhos, que já projetam rótulos memoráveis. “Teremos vinhos, especialmente os tintos, mais estruturados, com pH equilibrado e maior longevidade”, destaca Dalla Valle. O enólogo explica que as uvas utilizadas para a elaboração de espumantes também se destacaram, apresentando ótima relação entre açúcar e acidez, 17º babo e pH baixo próximo de 3.0, ideais para a bebida.

Em 2011, as vinícolas associadas à Aprovale produziram 6,9 milhões de litros de vinhos finos e espumantes, o equivalente a 9,2 milhões de garrafas.


terça-feira, 27 de março de 2012

Vinho Verde! Conhece?

Ao longo das próximas semanas (começando amanhã em SP) eu vou estar em variadas cidades do estado de São Paulo, numa parceria com os SENACs locais, em seminários sobre o Vinho Verde português.
Velho conhecido (mas pouco entendido) das pessoas de mais de 40 anos, esse vinho fresco e muito particular, continua um campeão de consumo, vindo de uma das maiores regiões demarcadas da Europa, no norte de Portugal.
Quem quiser saber mais (e degustar seis vinhos) acesse a página do SENAC. As palestras serão conduzidas por mim e pelo meu colega Eduardo Milan. É só encontrar a cidade mais próxima de você e a data e horário mais conveniente. O seminário é gratuito.
www.sp.senac.br/vinhoverde
Inscreva-se!


segunda-feira, 26 de março de 2012

Alive and Kicking

Da seção "querido diário - eu e o vinho".
Apenas alguns poucos irão entender mas, na verdade, esta é uma conversa ao espelho...

ALIVE AND KICKING - Simple Minds
You turn me on, you lift me up
And like the sweetest cup I'd share with you
You lift me up, don't you ever stop, I'm here with you

Now it's all or nothing
'Cause you say you'll follow through
You follow me, and I, I, I follow you

What you gonna do when things go wrong?
What you gonna do when it all cracks up?
What you gonna do when the love burns down?
What you gonna do when the flames go up?

Who is gonna come and turn the tide?
What's it gonna take to make a dream survive?
Who's got the touch to calm the storm inside?
Who's gonna save you?

Alive and kicking
Stay until your love is, alive and kicking
Stay until your love is, until your love is, alive

Oh you lift me up to the crucial top, so I can see
Oh you lead me on, till the feelings come
And the lights that shine on
But if that don't mean nothing

Like if someday it should fall through
You'll take me home where the magic's from
And I'll be with you

What you gonna do when things go wrong?
What you gonna do when it all cracks up?
What you gonna do when the love burns down?
What you gonna do when the flames go up?

Who is gonna come and turn the tide?
What's it gonna take to make a dream survive?
Who's got the touch to calm the storm inside?
Don't say goodbye (2x)
In the final seconds who's gonna save you?

Oh, alive and kicking
Stay until your love is, love is, alive and kicking
Oh, alive and kicking
Stay until your love is, love is, alive and kicking

Oh, alive and kicking
Stay until your love is
Alive and kicking
Stay until your love is
Alive and kicking


domingo, 25 de março de 2012

Algumas observações...

Recomendo a leitura da seguinte postagem no blog do Sérgio Inglez de Souza, uma das poucas pessoas que realmente conhece os vinhos brasileiros e não é produtor de vinhos:
http://todovinho.blogspot.com.br/2012/03/salvaguardas-obscura-manobra-com-ranco.html
É uma visão bastante límpida e que me agrada.
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Acho que pouco se falou, nestes últimos tempos de verborragia enoterrorista, sobre quão intrincado é nosso mercado produtor, seja entre as vinícolas pequenas, médias ou grandes. Temos várias cooperativas que precisam responder aos interesses de muitas pessoas, várias vinícolas nacionais que também são importadoras de vinhos, outras que têm como donos estrangeiros aqui radicados há décadas e que acreditam no potencial de nosso terroir, muitas são empresas familiares de longa tradição na plantação de uvas mas curta na produção de vinhos (especialmente os de uvas vitis viníferas), e várias outras ainda cujos produtos são distribuidos por importadoras (isso sem contar as tantas e tantas vinícolas familiares). Enfim, é um cenário muito mais múltiplo do que a gritaria geral leva a crer, e que não pode ser analisado pela ótica simplista de mocinhos e bandidos.
Entendo, e já falei claramente para alguns amigos enólogos e enófilos, que quem não se manifesta nem contra e nem a favor, assina em baixo do que está ocorrendo, e acaba com sua imagem comprometida simplesmente pela omissão. Mas também sei que há, como já disse aqui, muito mais borra por baixo das barricas do que pode ser visto por nossos olhos de fora do negócio e que - coisa que me assusta muito - o caso agora está nas mãos de burocratas e de políticos, e é quase impossível que seja analisado pela ótica da diversidade (a melhor e mais importante coisa do mundo do vinho) e da qualidade. Isso sim é muito triste e pode, como muitos têm falado, fazer nossas opções como consumidores retrocederem aos anos 1980.
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Fui convidada pelo Ibravin para um encontro entre suas lideranças e os jornalistas e enófilos daqui de São Paulo, com o objetivo de esclarecer alguns pontos dos pedidos entregues ao governo, que geraram essas manifestações enoterroristas nas últimas semanas.
Infelizmente não poderei comparecer, mas tenho colegas que lá estarão e que, provavelmente, poderão me manter informada do que será dito.



Por fim, um reflexo do 'outro lado'. Estive ontem na loja de uma importadora que costumo frequentar e notei um aumento no preço dos rótulos da ordem de 15%, principalmente nos vinhos mais baratos. Como o dólar está razoavelmente estável nos últimos tempos, me pergunto se isso já não é um reflexo dos importadores aproveitando-se do fato de que os consumidores estão escutando apenas o 'eco' das discussões que dizem 'que o vinho importado vai subir de preço', para ganharem uns trocados a mais. Triste, muito triste.

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Acabo de ler a matéria que está em VEJA.com e recomendo para todos, pois é uma visão muito relevante do que está acontecendo em nosso país agora, que vai além do mundo do vinho e prova como há muito mais a ser discutido do que 'picuinhas', e que o poder econômico fala muito alto e acaba por reverberar dentro de nossas taças.
http://veja.abril.com.br/noticia/economia/governo-retoma-o-circulo-vicioso-e-letal-do-protecionismo

sexta-feira, 23 de março de 2012

Os vários lados de uma mesma história


Nos últimos dias o mundo do vinho viveu cenas dignas do filme 'Apocalypse Now' do diretor americano (e produtor de vinhos na Califórnia) Francis Ford Coppola, com o agravante da semelhança desta também ser uma guerra na qual todos perdem, e a infelicidade de não ser uma obra de ficção (embora baseada em fatos reais).
Enfim, os textos que reproduzo aqui não são meus, e eu não vou emitir nenhuma opinião sobre o teor deles.
Eles estão sendo publicados pelo simples fato de que eu sigo acreditando que medidas extremas não são positivas e que devemos favorecer o diálogo e a discussão entre todas as partes.
O primeiro que foi enviado foi o comunicado (Carta Aberta) de Ciro Lilla, dono das importadoras Mistral e Vinci. O segundo foi o comunicado oficial para a imprensa enviado pela Vinhos Salton e o terceiro, recebido hoje, foi o comunicado para a imprensa do Ibravin. Eles serão publicados na ordem que foram recebidos nesta semana.
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Proteção sem limites ao vinho nacional
Caro amigo,

O mundo do vinho no Brasil vive momentos decisivos. Agora é mais do que necessário fazer um alerta a nossos clientes sobre algumas notícias muito preocupantes para os amantes de vinho.
Por incrível que pareça, surgem outra vez notícias a respeito da pressão dos grandes produtores gaúchos sobre o governo para que haja um novo aumento de impostos sobre o vinho importado, como se a gigantesca carga tributária atual não representasse proteção suficiente para o vinho nacional. Fala-se agora em “salvaguardas”, como se a indústria nacional estivesse em perigo, em risco de falência, quando na verdade as notícias enviadas à imprensa reportam um grande crescimento de vendas. Afinal, é preciso definir qual discurso é o verdadeiro: o vinho nacional vai muito bem ou vai muito mal? Os comunicados e números oficiais dizem que vai muito bem, o que invalida o argumento a favor das “salvaguardas”. Além do que, os impostos atuais já são altíssimos, e representam o verdadeiro grande inimigo do consumo de vinhos no Brasil.
Além do aumento de impostos  — pediu-se um aumento de 27% para 55% no imposto de importação, o primeiro da longa cadeia de impostos pagos pelo vinho importado — desejam também limitar a importação pelo estabelecimento de cotas para a importação de cada país. Ficariam livre das cotas apenas os vinhos argentinos e uruguaios. Incrível: cotas de importação para proteger ainda mais um setor, o de vinhos finos nacionais, que cresceu cerca de 7% em 2011 — ou seja, nada menos do que quase o tripo do crescimento do PIB brasileiroSe forem adotadas salvaguardas para um setor que cresceu o tripo do PIB em 2011,  que medidas de proteção se poderia esperar então para o restante da economia? Repito porque parece incrível, mas é verdade: pedem salvaguardas para um setor que cresceu cerca de 7% em 2011! É preciso dizer mais alguma coisa?!
Além de mais impostos e das cotas, os mesmos grandes produtores pedem também ainda mais burocracia, como se a gigantesca burocracia que já envolve a importação de vinhos no Brasil também não fosse proteção suficiente para o vinho nacional. Nem bem foi implantado o malfadado selo fiscal e já se pede agora que o rótulo principal do vinho, o rótulo frontal, contenha algumas das informações que hoje já constam dos contra-rótulos obrigatórios. Essa nova medida, se for adotada, vai afetar — como sempre acontece com a burocracia no caso dos vinhos — apenas os vinhos de alta qualidade e pequenos volumes, já que os grandes produtores mundiais não terão nenhuma dificuldade em imprimir rótulos especiais apenas para o mercado brasileiro. Isso, por outro lado, obviamente não será possível para aqueles produtores que embarcam menos de 50 ou 100 garrafas de cada vinho para o nosso país. 
Quem, afinal, seria responsável pelo aumento no interesse pelo vinho no Brasil? Certamente são esses pequenos produtores, de tanto charme e história, cuja vinda se tenta dificultar aumentando a burocracia, em uma medida sobretudo pouco inteligente. A importação desses vinhos deveria ser incentivada por todos, inclusive pelos grandes produtores nacionais, porque são eles os grandes veículos de propagação da cultura do vinho no mundo inteiro.
Para completar esse quadro preocupante, agora também são os vinhos orgânicos de pequenos produtores que têm sua posição ameaçada em nosso país. A partir de Janeiro deste ano, os vinhos orgânicos ou biodinâmicos — mesmo os certificados como tal em seus países de origem ou por órgãos certificadores internacionais — não poderão mais ser identificados como tal no mercado brasileiro, a menos que sejam certificados por organismo certificador brasileiro. Expressões como “orgânico”, “ biodinâmico”,  “bio”,  etc, são proibidas agora nos rótulos, privando o consumidor dessa informação esencial — com exceção dos vinhos certificados por organismo certificador brasileiro. Acontece que o processo de certificação brasileiro é caro e demorado, sendo na prática inacessível aos pequenos produtores do mundo todo. Acreditamos que apenas os grandes produtores mundiais conseguirão se registrar aqui como orgânicos ou biodinâmicos, privando assim o mercado do conhecimento de um número já muito grande e sempre crescente de produtores orgânicos. O vinho é um produto muito particular e específico, em que a maior parte da produção mundial de qualidade está nas mãos de produtores muito pequenos, que não terão recursos para obter a certificação brasileira. Sem dúvida acreditamos que é o caso de adiar a aplicação dessa medida para os vinhos, pelo menos até que sejam assinados acordos de reciprocidade, que permitam o reconhecimento mútuo dos processos de certificação no Brasil e no exterior. Afinal, a quem interessa dificultar a propagação dos vinhos orgânicos a não ser a quem não tenha a intenção de produzir vinhos dessa forma?

Diante desse panorama triste, a pergunta que se impõe é a seguinte: qual o limite para a proteção necessária aos grandes produtores nacionais para que possam competir no mercado? Ou tudo isso seria apenas uma busca por maiores lucros? Algumas das medidas adotadas recentemente, como o malfadado selo fiscal, atingem fortemente os pequenos produtores nacionais também. Vale repetir que os pequenos produtores brasileiros deveriam ter um papel importante no panorama vinícola nacional, uma vez que não existe país com alguma relevância no mundo do vinho onde o mercado seja dominado por apenas alguns grandes produtores. Afinal, todos nos lembramos do período anterior ao início dos anos noventa, quando o mercado pertencia a um pequeno grupo de gigantes da indústria nacional, a maioria multinacionais, e a alguns gigantes da industria vinícola internacional — situação que obrigava o consumidor brasileiro a consumir vinhos caros e medíocres, quando no país nem sequer se sabia o que significava a palavra sommelier. 
Estaríamos na iminência de uma volta a esse passado triste para o vinho em nosso país? Será que serão perdidos todos os ganhos dos últimos anos, quando, à custa de tantos esforços, aumentou enormemente a cultura do vinho no Brasil, com o surgimento de muitos milhares de profissionais ligados ao vinho, de inúmeras publicações sobre essa bebida maravilhosa, de tantos novos empregos e de tantas novas possibilidades de crescimento profissional? Seriam os muitos milhares de brasileiros que trabalham nesse novo mercado criado pelo vinho importado, em particular o verdadeiro exército de sommeliers, menos brasileiros do que aqueles que trabalham nas grandes empresas produtoras de vinho nacional? E vale lembrar que de cada 5 garrafas de vinho consumidas no Brasil, entre vinhos finos, espumantes e vinhos comuns (produzidos com uvas de mesa), nada menos do que quase 4 (77.4%) já são de vinhos brasileiros! Os números de vendas e de crescimento do vinho nacional são gritantes, e tornam absurdo se buscar ainda maior proteção
O consumidor precisa se manifestar, precisa dizer não a esses verdadeiros abusos! 
É preciso ter uma agenda positiva para o vinho no Brasil, com todos lutando juntos para um aumento do consumo, para que o vinho obtenha o tratamento tributário de um complemento alimentar — como em diversos países da Europa — e não um tratamento punitivo com ocorre aqui, onde o ICMS pago pelo vinho é o mesmo pago por uma arma de fogo! É preciso também lutar para diminuir a burocracia, que tanto atrapalha os pequenos produtores de vinhos de baixo volume e alta qualidade — aqueles que criam mercado para o “produto vinho”. 
É importante que se compreenda o quanto antes que o vinho não é uma commodity, onde o único fator a influenciar a compra é o preço. Vinho é cultura, é diversidade, é terroir, é arte. É como o mercado de livros: o brasileiro lê pouco, assim como bebe pouco vinho. E dificultar a venda de livros de autores estrangeiros não apenas não serviria para aumentar a venda de livros de autores brasileiros, como certamente inibiria ainda mais o hábito da leitura. O mesmo ocorre com os vinhos. É uma ilusão achar que encarecendo o vinho importado o consumidor vai substituí-lo automaticamente pelo vinho nacional. Na verdade o mais provável é que substitua por outro vinho importado mais barato, ou pela cerveja gourmet, ou pelo whisky, por exemplo. O que é preciso é popularizar o consumo do vinho pela diminuição dos preços e da burocracia, tanto para os vinhos nacionais como para os importados. Na verdade eles são aliados, e não inimigos como acreditam aqueles que defendem um protecionismo ainda maior para o vinho brasileiro. 
O amante do vinho precisa reagir contra essa situação. Ou teremos todos que aceitar uma volta à situação de 20 anos atrás, com a perda de todo o esforço, todo o trabalho e toda a evolução obtida nesse período.
Cordialmente,

Ciro de Campos Lilla
Presidente das importadoras Mistral e Vinci

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Nota à imprensa

A Vinícola Salton esclarece que são as entidades representativas do setor, Ibravin, Uvibra, Fecovinho e Sindivinho que estão à frente do movimento para salvaguardas dos vinhos nacionais. A Salton, compreendendo que estas medidas podem restringir o livre arbítrio de seus consumidores, encaminhou ao Ibravin um documento informando que não apoiará a causa. Reforçamos ainda que a Salton, uma empresa centenária e brasileira, se preocupa muito com seus clientes e consumidores e que busca constantemente o melhoramento de seus processos e produtos, por meio de investimentos em novas tecnologias e programas de qualidade, para concorrer, de forma justa, com produtos nacionais e importados.

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NOTA DE ESCLARECIMENTO À IMPRENSA  
EM DEFESA DO VINHO BRASILEIRO 
O Instituto Brasileiro do Vinho (IBRAVIN), a União Brasileira de Vitivinicultura (UVIBRA), 
a Federação das Cooperativas do Vinho (FECOVINHO) e o Sindicato da Indústria do 
Vinho do Estado do Rio Grande do Sul (SINDIVINHO) reafirmam que foram estas – e só 
estas – as entidades representativas do setor vitivinícola brasileiro que entraram com 
o pedido de Salvaguarda no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio 
Exterior (MDIC). Entretanto, contamos com o apoio de dezenas de instituições. 

Nenhuma vinícola brasileira, de forma isolada, deve ser responsabilizada pelo pedido, 
feito em 1o de julho de 2011. Várias empresas tiveram informações colhidas, de 
acordo com a legislação, para embasar tecnicamente o pedido de Salvaguarda. A 
petição foi apresentada pelo setor, por meio das suas entidades representativas. 
A Salvaguarda é um instrumento previsto pela legislação brasileira e internacional, 
reconhecido pela OMC (Organização Mundial do Comércio), para regular e equilibrar 
as relações comerciais entre os países. É, portanto, uma medida legal e temporária 
que objetiva dar condições para que os setores afetados possam, a partir da 
implantação de um Programa de Ajustes, melhorar sua competitividade e concorrer 
em igualdade de condições com demais partícipes do mercado.  
A melhora da competitividade do vinho fino brasileiro possibilitará produtos com mais 
qualidade, custos menores e preços acessíveis ao consumidor.  
É importante ressaltar que não pedimos e não queremos o aumento de impostos 
para os vinhos importados!  
O resultado esperado com a implantação da medida e do Programa de Ajustes é 
garantir a participação da produção brasileira de vinhos finos no mercado, que nos 
últimos anos cresceu apenas para os produtos importados. Dos 91,9 milhões de litros 
de vinhos finos comercializados em 2011, apenas 21,3% eram nacionais. Nosso 
objetivo é resgatar a nossa capacidade competitiva para permanecer neste mercado e, 
se possível, elevar nossa participação em alguns pontos percentuais. Caso contrário, o 
setor produtivo nacional corre o risco de desaparecer em poucos anos.  
Vale ressaltar que, há poucos anos, o vinho fino brasileiro possuía uma participação 
muito maior no mercado nacional, e o quadro abaixo demonstra como isso se inverteu 
em muito pouco tempo. 
O que se espera são medidas temporárias e transitórias que permitam o reequilíbrio 
do mercado, tais como as cotas – que a União Europeia e muitos outros países 
aplicam a inúmeros produtos brasileiros. Por que eles podem aplicar estas medidas e a 
indústria vitivinícola brasileira não? As regras da OMC são válidas para todos os países 
participantes. 

Com o pedido de Salvaguarda e implantação do Programa de Ajustes, acreditamos 
estar garantindo o futuro dos vinhos brasileiros, produto gerado em uma cadeia 
produtiva que emprega mais de 20 mil famílias só no campo, e que hoje já alcança 
nove estados brasileiros (Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas 
Gerais, Espírito Santo, Goiás, Bahia e Pernambuco).  



Além disso, buscamos equalizar os impostos estaduais (ICMS), que vão de 12% a 30% 
sobre o vinho. Alguns Estados beneficiam com a redução de ICMS as importações de 
vinhos e tributam os nacionais, inclusive os produzidos no próprio Estado, como é o 
caso de Santa Catarina e Espírito Santo. Já foram realizadas reuniões com secretarias 
da fazenda de quatro Estados para tratar desse assunto.  

Nosso objetivo é promover o consumo, criando igualdade de condições de mercado, 
sem a necessidade de aumentar o preço (como se tem sugerido, maquiavelicamente, 
por quem defende os produtos estrangeiros sem se preocupar com a produção, os 
empregos e as agroindústrias nacionais).  
Deve ficar claro que a Salvaguarda é uma medida temporária e pode ser facilmente 
compreendida, assim como quando o Brasil limita a importação de automóveis do 
México, regula a entrada de calçados da China, aceita cotas de comércio com a 
Argentina, sofre taxação na venda de suco de laranja para os EUA, é impedido de 
vender carne suína para a África do Sul e a Rússia, sofre barreiras sanitárias da União 
Europeia para produtos alimentícios, tem cotas para exportar para diversos países, 
precisa atender a todas as especificações da legislação para onde exporta, e outros 
tantos exemplos. Não somos os primeiros nem os únicos a estabelecer isso. Faz parte 
das regras do comércio internacional leal o estabelecimento de princípios que 
garantam igualdade de condições. 
Estamos trabalhando pela redução de impostos há pelo menos uma década. Já 
conseguimos a desoneração dos vinhos espumantes, que antes tinham IPI de 30%. 
Agora o IPI dos espumantes – nacionais e importados – é de 20%, mas, por definição 
de atos específicos, o percentual cobrado sobre os espumantes é de 10%.  
O Brasil possui hoje uma infinidade de vinhos importados. Quando falamos em 
estabelecer cotas para os vinhos estrangeiros, isso não quer dizer que queremos 
restringir a variedade atual. Se a Salvaguarda for implantada, as cotas de entrada de 
vinhos por países serão estabelecidas por uma média dos últimos três anos. O que 
queremos é regulação, não restrição.  
Por fim, para o setor vitivinícola brasileiro, a Salvaguarda não é uma “dádiva”, pois o 
setor terá, neste período, que implantar medidas de ajuste, principalmente 
estruturantes, que o auxilie a tornar-se mais competitivo.  
As ameaças e pressões comerciais, como a proposta de boicote aos vinhos verde- 
amarelos, que têm circulado nas redes sociais e que pretendem restringir a presença 
dos rótulos brasileiros no mercado, só aumentam, comprovam e justificam ainda mais 
a necessidade de implantação das medidas de Salvaguarda.    
Independentemente das interpretações equivocadas divulgadas nos últimos dias, 
baseadas no desconhecimento e na falta de informações, reafirmamos nossa firme 
disposição em seguir com o pedido de Salvaguarda em defesa do vinho brasileiro.  
Atenciosamente, 






terça-feira, 20 de março de 2012

Um Brinde à Excelente Safra 2012!

O outono começou. Para mim a estação mais linda do ano, de cores sem disfarces, dando um brilho extra à todas as coisas, resfriando ânimos calientes e dando à natureza um pouco do merecido descanço.
Em meio a tantas discussões e batalhas verbais que levam à quase nada (no budismo há uma ação virtuosa que é a da utilização da 'palavra correta' e à ela eu acrescento uma coisa na qual acredito: que não sai da boca aquilo que não está no coração) perdemos um pouco a noção de quão linda e próxima da inatingível perfeição foi esta safra que se encerra no Rio Grande do Sul (para falarmos de Santa Catarina teremos que aguardar mais um pouco).
Agradeço ao meu amigo Daniel Salvador por me lembrar disso!
Discutindo as políticas do 'talvez seja', perdemos a chance de falar mais do que 'é'!
Para quase todos os enólogos com os quais conversei nos últimos tempos, a safra de 2012 se iguala e até supera, em alguns casos, a safra de 2005, tida como a mais emblemática da vitivinicultura de qualidade no Brasil.

Isso não é pouco (aliás é muito), até porque, para um país que trabalha com alta qualidade há pouco mais de 20 anos, os últimos sete anos (a diferença entre as duas safras) significam mais tecnologia na cantina e vinhedos mais bem estabelecidos.
Desta safra teremos grandes vinhos e muitas (muitas novidades). Todos os vinhos premium das grandes empresas serão feitos (aqueles que só aparecem em anos diferenciados) e as pequenas terão não apenas novos vinhos, como excelentes produtos em suas linhas.
O que há de melhor nisso tudo é que até mesmo os vinhos mais baratos saem beneficiados, pois uva boa é uva boa, não precisa de consertos dentro da cantina e isso faz com que todos os vinhos sejam mais genuínos e fiéis aos terroirs de origem.
Portanto, até com um pouco de atraso, segue meu brinde à essa linda safra! Que seus frutos sejam transformados em grandes vinhos, que as pessoas ao prová-los percebam neles a riqueza maior de nossa terra, que é sua gente, seu trabalho, sua dedicação. Que esses vinhos tenham a capacidade de nos unir em cada brinde, de nos alegar em cada gole, de nos orgulhar em cada garrafa!
E como disse Voltaire no século XVII: "A apreciação é uma coisa maravilhosa: ela faz com que aquilo que é excelente nos outros também nos pertença"!

segunda-feira, 19 de março de 2012

Boas novidades vindas de Santa Catarina!

Da seção "não me inveje, trabalhe" existe gente fazendo acontecer enquanto outros passam os dias reclamando e fomentando a discórdia.
Me faz lembrar daquele desenho animado da Hanna Barbera que tinha uma hiena depressiva, chamada Hardy, que dizia: "Oh vida, oh azar".

Que bom que o mundo não é ocupado apenas por essas hienas depressivas que - na natureza - adoram se alimentar da carcaça já meio comida que outros animais (mais fortes e corajosos) já abandonaram. É uma boa figura de linguagem, e bem apropriada para o momento!
Mas vamos às novidades!
 A charmosa cidade litorânea de São Francisco do Sul (em Santa Catarina, a 52km de Joinville) é uma das vilas mais antigas do Brasil e abriga um casario colonial invejável. E é precisamente numa dessas charmosas casas coloniais que a importadora Porto Mediterrâneo inaugurou, no último dia 10 de março, a sua primeira loja de vinhos: "Porto Mediterrâno Wine Store e Delicatessen".
Além dos 250 rótulos que já pertenciam ao portfólio da importadora, a loja tem um diferencial que me deixa particularmente feliz: 100 rótulos de vinhos feitos no estado de Santa Catarina.
Como eu já havia falado aqui, uma das falhas mais graves para a comercialização dos vinhos nacionais é a distribuição (sem contar os preços muitas vezes elevados, claro), que é um problema tão sério que afeta não apenas os consumidores como também os próprios produtores.
Assim, a iniciativa da Porto Mediterrâneo de fazer de sua loja um local que favorece a diversidade de rótulos não apenas estrangeiros como também brasileiros, merece aplausos.

O diretor da empresa, Julio Cesar Schimitt Neto, declarou para a imprensa durante a inauguração o seguinte: São Francisco do Sul é uma cidade linda. Possui um centro histórico muito bem preservado e ótimos restaurantes, além de praias fantásticas e forte atividade econômica. Encontramos aqui, em um casarão com mais de 200 anos, o ambiente ideal para trabalhar a cultura, os aromas e sabores dos vinhos do mundo e do Brasil”.
Para quem não sabe, a Porto Mediterrâneo que é catarinense, está há mais de quatro anos no mercado e comercializa mais de 270 rótulos de sete países. Sua iniciativa de montar as lojas (que congregam produtos gourmet, vinhos e chocolates, não se restringe à cidade de São Francisco o Sul. 
Amanhã (dia 20) uma filial da loja será inaugurada no Espaço Viapiana, da vinícola de mesmo nome em Flores da Cunha (RS) e no final do mês a terceira loja será aberta em Palhoça, dentro do Shopping Center Via Catarina, a 57km de Florianópolis.
As duas fotos acima foram feitas pelo jornalista Janquiel Mesturini.


Por absoluta falta de tempo eu não pude estar na abertura oficial da vindima em Santa Catarina, que ocorreu no último sábado, dia 17 de março, nas depedências da Quinta Santa Maria, em São Joaquim. Na foto ao lado (feita pela Acavitis) vocês vêem de camiseta verde o agrônomo Nazário dos Santos (da Quinta Santa Maria), de camiseta amarela o governador do estado de SC Raimundo Colombo e de boné laranja o presidente da Acavitis, o médico e viticultor Leônidas Ferraz (vinícola Monte Agudo).
As terras altas e frias de Santa Catarina, responsáveis por vários vinhos de grande qualidade e muito diferenciados dos outros vinhos brasileiros vem chamando a atenção há alguns anos.
Hoje a Acavitis (Associação Catarinense de Produtores de Vinhos Finos de Altitude) já conta com 28 associados, dos quais 18 já tem seus produtos no mercado, somando mais de 150 rótulos com produção anual que chega perto de 1 milhões de garrafas. 
Como região alta e fria que é, as uvas de destaque são a Cabernet Sauvignon e a Pinot Noir entre as tintas e a Chardonnay e a Sauvignon Blanc entre as brancas. Mas o que mais me chama a atenção em alguns vinhos da região é o seu potencial de guarda e sua elegância. Quem nunca provou, precisa conhecer. 
Por fim, recebi a foto acima do enólogo Jefferson Sancineto Nunes, do ENOLAB de Flores da Cunha, mostrando a evolução dos vinhedos da vinícola Santa Augusta, em Videira (SC), um dos raros vinhedos biodinâmicos do Brasil. A foto foi feita na última quarta-feira.
Segundo conta Jefferson, as uvas tintas (Cabernet Sauvignon, Merlot e Cabernet Franc) estão amadurecendo lenta e delicadamente e neste momento a Franc é a que apresenta o mais alto nível de açúcar, o que - por enquanto - indica que será colhida primeiro. 
Mas como em Santa Catarina as coisas andam em outro ritmo (por conta das diferenças de temperatura e altitude), é esperar para ver.
Boa semana para todos e bons goles!

quinta-feira, 15 de março de 2012

Infectando...

Sobre a minha postagem abaixo (seção Dedo na ferida), preciso fazer alguns esclarecimentos pois estão circulando inverdades várias por aí,  que estão afetando pessoas de boa fé que trabalham honestamente e sem se venderem para alguns dos setores envolvidos.
É claro que quem está tentando infectar os fatos é quem tem culpa no cartório, e como é mais fácil apontar o dedo na direção dos outros do que admitir suas próprias falhas, a contaminação dessas pessoas é poderosa e rápida, num meio já tão corrompido.
Em primeiro lugar, quero dizer que os textos que indiquei para leitura aqui tinham o motivo único de posicionar os leitores que estavam por fora do assunto. NADA além disso, que fique bem claro. São textos profissionais, que expressam a visão de duas grandes empresas jornalísticas. O que por sí só já é muito mais do que se pode dizer de variados outros veículos.
Pseudojornalistas, para quem não sabe, são as pessoas que - sem a formação necessária - utilizam a informação em proveito próprio e não para informar as pessoas e disseminar cultura, novidades, polêmicas até. São pessoas que  - por vezes - escrevem bem, mas não foram treinadas para buscar a contrainformação, parcela importante quando se faz um texto jornalístico. Suas "fontes" são seus amigos e os releases (textos) já prontos das assessorias de imprensa. Existem muitos em nosso meio, da mesma forma que existem péssimos jornalistas também, as coisas não são auto-excludentes, que fique bem claro.
Por isso também que indiquei para as pessoas que lessem os comentários até mesmo antes dos textos, pois o que me preocupa é como os consumidores, as pessoas que compram vinhos estão vendo o que está acontecendo.
Em segundo lugar, quero esclarecer uma coisa da qual já falei aqui: essas opiniões são MINHAS e foram sendo captadas em repetidas viagens pelo Brasil, algumas delas feitas com o patrocínio do governo inclusive - é bom dizer isso antes que me apontem o dedo - mas o que você faz com o aprendizado e com as informações que recebe é coisa sua, certo? Ninguém nunca se enganou comigo, que eu sei bem.
E, por último, mas não menos importante: sei que ainda há muita sujeira por baixo das barricas. E alguns de meus bons amigos me mandam calar a boca antes que ela seja calada contra minha vontade.
Vou escutá-los, pois como tantos outros tenho que continuar trabalhando.
Mas isso não muda o fato de estarmos olhando para o lugar errado, de sermos presas de forças internas e externas muito mais fortes do que nossos desejos por uma boa (e honesta) taça de vinho, e de que pagamos muitos impostos para termos pouco em troca.



quarta-feira, 14 de março de 2012

Seção 'dedo na ferida'

Antes de mais nada sugiro que leiam dois artigos, se é que vocês se interessam realmente pelo mundo dos vinhos. Se só quiserem saber das novidades, nem percam tempo e voltem amanhã.
E mais, sugiro que no caso do artigo do site da Veja, comecem pelos comentários e depois leiam o texto, e desconsiderem o que a jornalista chama de 'uva de qualidade', ela quis dizer 'uva fina' mas como deve ser mais da área de economia, o erro até se justifica (vá lá...).

http://veja.abril.com.br/noticia/economia/vinho-tambem-entra-na-mira-do-protecionismo

http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/79417_AFASTA+DE+MIM+ESSE+CALICE


Agora faço algumas considerações que são minhas e que não representam necessariamente a visão de nenhuma das empresas para as quais eu sou prestadora de serviços (não trabalho para nenhuma importadora ou produtora nacional de vinhos), que isso fiquem BEM claro:
1- Estamos olhando para o lugar errado. O protecionismo aqui está relacionado a ENORME indústria dos vinhos de mesa, ela sim a grande prejudicada pela entrada dos 'reservados', 'santas do pau oco' e os lambruscones genéricos no mercado nacional.
Como eu disse há alguns dias, o brasileiro bebe mal. Todos os brasileiros bebem mal, inclusive a maioria dos muito ricos que só bebem bebidas estrangeiras pois elas têm marcas famosas.
O consumo de vinhos finos é ínfimo quando comparado ao consumo de vinho de mesa. Esses vinhos custam infinitamente mais barato, pois as uvas de mesa são muito produtivas, o vinho é mais fácil de fazer e se ficar muito ruim é só colocar açúcar que resolve.
Essa é uma das verdades que ninguém quer encarar.
Quando as pessoas pensam nas instituições representativas do setor, elas não pensam que esses setores representam também os vinhos de mesa.
É como se fosse possível olhar o Rio de Janeiro e não ver as favelas encostadas no morro. É impossível, mas mesmo com tudo aquilo na 'cara' da gente, chamamos a cidade de 'maravilhosa' e mudamos o nome das favelas para 'comunidades'.
Nós, arrogantes do mundo do vinho, fazemos questão de não ver nada disso.
E quando o mercado é inundado de produtos de baixa qualidade (muitas vezes feitos especialmente para o 'gosto' brasileiro por grandes empresas estrangeiras do setor) corremos para proteger o Bordeaux nosso de cada dia.
É fácil não ver que a conta de alguns dos bons vinhos finos nacionais é paga com muito Sangue de Boi, Chalise e São Tomé.
Quase todo mundo nesse chatíssimo mundo do vinho nacional (importadores, pseudojornalistas e enófilos) prefere não saber que existem centenas de milhares de famílias que vivem (isso mesmo VIVEM) da produção de uvas de mesa para a fabricação de vinho. 
Eu, em minhas andanças pelo sul, já cansei de escutar de produtores rurais que fizeram a mudança dos vinhedos de uvas de mesa para uvas finas e que estavam considerando voltar atrás. Por que? Pois é mais barato e mais rentável produzir uvas de mesa. Não há tanta necessidade de cuidados nos vinhedos (como os compradores de uvas finas exigem), os parreirais em latada podem produzir toneladas por hectare (no caso das uvas finas, pequena produção é uma das condições para a compra de uvas) e a diferença de preço entre as finas e as de mesa muitas vezes não compensa o investimento.
Dirigir essas uvas para o suco de uva tem sido uma alternativa viável e que tem mostrado bons resultados, mas ainda não a ponto de dar vazão à toda a produção.
E esse vinho de mesa é o que a enorme maioria das pessoas bebe. Que ninguém se engane.
Vou mais além: o gosto pelo açúcar domina nossos paladares e é por isso que os 'reservados' chilenos e argentinos ganham tanto mercado, são vinhos de uvas finas adoçados (demi-sec) e isso só está escrito no contrarótulo.
A briga para a mudança nos rótulos não se relaciona com os vinhos de alta gama e sim com essas coisas que entram no mercado dizendo que são uma coisa e são outra. Ninguém lê contrarótulo, só nós, os chatos dos enófilos.
É claro (quem nunca escutou?) que o consumidor médio vai dizer: "mas eu tomo aquele chileno reservado e ele não é amargo como o brasileiro que eu tomo".
Recentemente fiquei sabendo que uma importante marca argentina, vendida em muitos restaurantes do RS por mais de 60 reais, é um Malbec 'suave', mas isso está bem pequenino no contrarótulo.
Nós bebemos mal.
2- Muitas das pessoas que estão se colocando contra as medidas protecionistas (não estou dizendo que sou a favor delas, por que não sou) são pessoas malacostumadas a beber de graça, a fazer viagens de graça. Pior, muitas delas são pessoas que recebem bons salários como consultores das importadoras, como professores de 'instituições', como pseudojornalistas e que tem os grandes vinhos ganhos em suas adegas a perder, se essas medidas entrarem em vigor. Do meu lado, gente conhecida e até amiga em certos momentos, já pediu para o produtor brasileiro mandar uma caixa de vinhos para a casa dele, para ele 'divulgar'.
Sim, o produtor que faz isso está errado. Amarra-se à ilusão de que ganhou um aliado.
Mas pior, o enófilo que age assim é um canalha. E (felizmente não é a mesma pessoa da qual escutei o pedido da caixa de vinhos) já ouvi de outros - assim que o produtor nacional saiu da sala - o seguinte comentário "eu estou tentando tomar o vinho dele para ele não ficar chateado, mas que é ruim, é ruim".
Sinceridade pessoal! Sinceridade! Se não está bom fale, mas não em meio a outros 'formadores de opinião'. Se você tem cara de pau suficiente para pedir uma caixa de vinho, então tenha cara de pau de chegar ao produtor com colocações bem fundamentadas, para dizer para ele o que achou do vinho dele.
Pedir uma coisa pela frente e enfiar a faca pelas costas é coisa de gente que merece o governo que tem.
3- O vinho brasileiro custa caro. E o importado também. Semana passada, almoçando com uma amiga portuguesa, ela pediu um vinho de sua terra que custava na carta R$ 102,00. Um vinho caro, no meu entender. Perguntei para ela quanto esse vinho custava em Portugal e a resposta foi 8 euros! OITO! Algo em torno de 20 reais, que chegou à nossa mesa custando cinco vezes mais.
Sim, os impostos são caros, mas quanto custa a ganância? Ah! dessa ninguém fala não é?
Não falam pois é 'chique' poder tomar vinhos caros, vinhos importados. Se você está tomando um (bom) vinho caro nacional você é bobo, mas se está pagando cem reais por um vinho de oito euros você é bacana. E isso, como se explica? A margem de lucro dos importadores é insana, dos donos de restaurantes é impensável. Lembram daquele link do Oscar Daudt que eu reproduzi aqui, no qual ele fazia um estudo do preço de alguns vinhos na origem e aqui no país?
Pois é, dessa ganância do distribuidor nacional ninguém fala não é?
4- Uma pergunta: vocês acham justo que os vinhos chilenos, argentinos e uruguaios entrem no país sem pagar impostos enquanto os produtos nacionais pagam uma carga tributária altíssima (todo mundo sabe que os impostos no Brasil estão entre os mais altos do mundo)? Isso faz sentido? Isso gera alguma espécie de competitividade?
Isso posto, sou contra medidas protecionistas que afetariam muito mais o Chile e Portugal, pois existem acordos do Mercosul que viabilizam as trocas com Argentina e Uruguai.
Isso é sacanagem, é cobrir um santo descobrindo outro. (E estou apenas mencionando os países que mais exportam para o Brasil). É pensar que os consumidores não irão reagir.
Por que, ao invés disso, não discutimos impostos (em geral) mais razoáveis e damos à indústria nacional a possibilidade de ser competitiva mostrando qualidade e preço? Por que não proibimos (sim proibimos) a entrada de produtos adoçados no país ou aqueles carbonatados (como os Lambruscos genéricos)? Proíbam de vez, façam o consumidor encontrar alternativas, sejam elas importadas ou nacionais, mas em igualdade de condições e de preço.
Proteger os nacionais que continuam pagando impostos absurdos e sacanear com os importados que trabalham direito é uma vergonha. É querer ganhar inimigos onde precisamos encontrar aliados. É fazer com que as pessoas que já têm preconceito contra os vinhos nacionais alimentem um ódio nada silencioso. É um retrocesso.
Que o Brasil é a bola da vez, isso é verdade. E que ninguém se engane que alguém (produtor, importador, e muitos enófilos) está nessa história por amor à camisa ou pela 'arte' do vinho. O negócio é dinheirto gente, como sempre foi. Dinheiro grande, e essa briga é de 'cachorro grande'.
Com a crise européia e americana, os maiores mercados consumidores de vinhos estão retraídos e o Brasil se apresenta como a tábua de salvação para muitos países produtores, e não adianta querer ser graveto nessa enxurrada, pois ela vai continuar.
O brasileiro bebe mal, bebe marca e nome estrangeiro no rótulo e contra isso só educação e preço competitivo, que eu não acredito, será atingido com nenhuma salvaguarda.
Alternativas pessoal que manda!
Respeito pessoal que consome!
Bom senso pessoal que escreve sobre vinhos (a questão nunca tem apenas um lado)!
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OBS: Este assunto teve inúmeros desdobramentos em variadas mídias nos dias subsequentes à publicação desta postagem. Para saber um pouco mais do que foi publicado aqui no blog leia também:
http://vinhoverdeamarelo.blogspot.com.br/2012/03/os-varios-lados-de-uma-mesma-historia.html
http://vinhoverdeamarelo.blogspot.com.br/2012/03/algumas-observacoes.html

segunda-feira, 12 de março de 2012

Moças, mulheres, leitoras, participem!


É só entrar no blog do vinicius Santigo, que está nos favoritos aqui ao lado, escrever seu texto e concorrer!


quinta-feira, 8 de março de 2012

8 de Março

COTIDIANO - Chico Buarque

Todo dia ela faz tudo sempre igual:
Me sacode às seis horas da manhã,
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã.
Todo dia ela diz que é pr'eu me cuidar
E essas coisas que diz toda mulher.
Diz que está me esperando pr'o jantar
E me beija com a boca de café.
Todo dia eu só penso em poder parar;
Meio-dia eu só penso em dizer não,
Depois penso na vida pra levar
E me calo com a boca de feijão.
Seis da tarde, como era de se esperar,
Ela pega e me espera no portão
Diz que está muito louca pra beijar
E me beija com a boca de paixão.
Toda noite ela diz pr'eu não me afastar;
Meia-noite ela jura eterno amor
E me aperta pr'eu quase sufocar
E me morde com a boca de pavor.


terça-feira, 6 de março de 2012

Repensando o 'sucesso'

Volto a falar da comercialização de vinhos finos para tocar no assunto dos nossos espumantes. Produto que adoramos pensar que é o nosso maior sucesso e o carro-chefe dos vinhos brasileiros. Mas ao que parece o enredo desse samba não é bem assim.
A informação oficial passada pelo Ibravin é a seguinte:
"A comercialização de vinhos espumantes elaborados no Rio Grande do Sul cresceu 4,7% em 2011, na comparação com 2010. Foram colocados no mercado 13,2 milhões de litros de espumantes de janeiro a dezembro, ante 12,6 milhões de litros em 2010. “É o maior volume da história em relação à venda de espumantes, rompendo a barreira dos 13 milhões de litros”, comemora Alceu Dalle Molle, presidente do Conselho Deliberativo do Ibravin. O volume é 40,5% superior a média de comercialização de 2005 a 2010."
O que esses números dão a entender (de negativo) é que a comercialização de espumantes em 2011 corresponde a pouco mais de 5% do volume de vendas de vinhos brasileiros (finos e de mesa) do ano, que foi de quase 250 milhões de litros.
Ou seja, quando eu escuto muita gente dizendo que a estatística que afirma que cada brasileiro bebe por ano menos de 2 litros de vinho é errônea, vou ter que me lembrar de colocar esses números na mesa. É uma conta simples, dividir esses 250 milhões pelo número de brasileiros em idade legal para consumir bebida alcoólica. Dá menos de dois litros (e isso contando vinhos finos e de mesa).
Para ter esse número mais preciso (e que ainda fica abaixo dos dois litros) devemos levar em consideração o volume de vendas dos importados, um número difícil de estabelecer com precisão.
Conclusão: estamos bebendo mal. E eu nem diria que estamos bebendo pouco, pois a bebida nacional não é o vinho, é a cerveja pelo volume e a cachaça pela tradição. E, acredito, uma das razões para estarmos bebendo pouco é bebermos mal.
Vinho de mesa (por mais bem feito que seja - e alguns são) não é lá grande coisa. Não tem as nuances e nem a delicadeza de paladar dos bons vinhos finos.
Muitos dos vinhos importados que chegam ao país (muitos mesmo, e não me importa que o pelotão da fiscalização dos vinhos 'caros' venha gritar que não é isso) são vinhos de baixo valor, ou seja, lambruscos ordinários, "reservados" para brasileiros que bebem procedência e não qualidade, e uma porção de outras porcarias.
Daí que o vinho espumante brasileiro (escolhi como exemplo pois tem preço e qualidade para ser competitivo) fica com esses mirrados 5% num mar de vinho ruim, como se estivéssemos bebendo água parada pós-tsunami.
É claro que quem bebe 'bem' tem dificuldade para perceber essa realidade, mas espero muito que as autoridades do setor estejam conscientes disso - além daquilo que já vem fazendo, como a iniciativa de ter camarotes no Carnaval com espumantes, vender taças deles com preços bem 'possíveis' nas arquibancadas da festa e nas praias no verão (iniciativa essa da Miolo).
No entanto, temos fugido de uma discussão que eu mesma - agora preciso confessar - achei que poderia ser protelada por mais tempo mas que agora vejo que é urgente: nossos espumantes têm coração, mas não tem cara. E ainda que o ditado seja válido (que quem vê cara não vê coração), se já temos o mais difícil - que é um bom produto - por que ainda não temos um produto com a nossa cara?
Eu, na maioria das vezes, não gosto de falar sobre outros críticos de vinhos. Não é por que eu os ache sem mérito ou por me achar melhor do que eles, mas simplesmente por saber que uma prova única de um vinho nunca dirá tudo o que ele pode contar, ainda mais se ela vier acompanhada das ideias pré-concebidas (e são muitas) que vivem no cérebro dos degustadores.
No entanto, existe quase que uma unanimidade entre os degustadores estrangeiros que provam nossos espumantes, a de que eles são muito bons - e alguns deles são excelentes - e a pergunta que acompanha essa constatação é: "mas qual é cara, qual é o nome do espumante brasileiro"?
Todos os enófilos, jornalistas especializados e enólogos que se relacionam com os estrangeiros já escutaram essa pergunta, para a qual as respostas são insuficientes. Passam pelo "frescor", "juventude", "alegria" etc, uma série de generalidades.
Não é isso que eles estão perguntando. E não é isso (apenas) que precisamos estabelecer para que esse produto (fácil, alegre, fresco) tenha a cara do Brasil e nos represente onde quer que estejamos.
Aqui vai um parêntese: espumante na região de Champagne na França, feito pelas regras rígidas de produção é Champagne. No restante da França é conhecido por outras denominações de acordo com o local e o estilo de produção, sob o nome crémant. 
Na Itália existem, é claro, os Lambruscos e Proseccos, embora Lambrusco seja uma uva tinta do norte do país e Prosecco seja hoje uma denominação legal do Vêneto, para vinhos DO feitos com a uva Glera. No mesmo país existem ainda os spumanti elegantes da região da Franciacorta (conhecidos com esse nome) e os Asti (também uma região produtora e DO).
Na Alemanha os espumantes são conhecidos como Sekt e na Espanha (aqueles produzidos segundo regras de DO também) recebem o nome de Cava.
O que eu quero dizer com tudo isso, e que responderia uma parte da pergunta dos estrangeiros e talvez nos auxiliasse a divulgar nosso produto é: qual é o nome do espumante no Brasil? Quais são suas principais características (uvas autorizadas, estilos), como ele deve ser produzido para ser "um" em meio a tantos?
Iniciei essa discussão com um amigo enólogo e pesquisador e por conta de algumas coisas que ele me falou e dos dados que recebi na semana passada, resolvi tornar pública essa conversa na forma desta postagem.
É claro que algumas coisas foram feitas no sentido de buscar uma identidade para nossos espumantes. Elas se materializam na forma da taça oficial do espumante brasileiro (como vocês podem ver na foto ao lado), na iniciativa como a dos produtores da cidade de Garibaldi, unidos em um consórcio que tem a consultoria de um orgão oficial de Champagne, para melhorar processos de produção, com as pesquisas e adequações da Embrapa que culminaram na Indicação de Procedência de Pinto Bandeira (região da serra da qual vem nossos mais elegantes espumantes) e na DO do Vale dos Vinhedos, entre outras ainda em andamento.
Mas é pouco. É pouco por que nossos amigos (e muita gente da imprensa graúda) ainda chamam os espumantes de "Champagne" ou "prosequinho". É pouco pois precisamos definir o que é esse produto, quais são seus limites (por exemplo, pode-se fazer espumante com qualquer uva aqui no país, mas deve-se fazê-lo? ou cada uva resulta num estilo e cada estilo é representativo de uma região/terroir?).
Agradeço ao meu amigo por ter me tirado do marasmo filosófico, pois essa questão estava no fundo de minha cabeça desde que estive no RS para o Concurso Brasileiro do Espumante, em outubro passado.
Mas como o assunto era delicado até para pensar, arquivei na pasta do 'quando tiver tempo' e não abri mais.
Nessa viagem visitei realidades diferentes dos espumantes nacionais e através delas vi como o produto precisa ser repensado e colocado dentro de parâmetros que nos permitam divulgá-lo e defendê-lo (se necessário). Visitei a Chandon pela segunda vez, mas foi a primeira com a presença do enólogo chefe Phillipe Mevel (foto abaixo).

É uma empresa poderosa, que tem o enorme mérito de fazer ano após ano um produto de qualidade com preço competitivo, beneficiando-se do poder da marca francesa (estão entendo onde quero chegar?). Mas é uma indústria, onde sempre ficamos com a impressão de que o terroir brasileiro é "apenas" conveniente para o negócio deles. Ninguém pode negar que a Chandon é o nascedouro de muitos dos grandes enólogos brasileiros e de um padrão copiado (e almejado) por tantos. Ponto para eles, mas não é a cara do Brasil.


O projeto da Domno (que não aparece nas fotos aqui), talvez seja mais a cara do Brasil, embora tenha sido criado 'do outro lado da rua da Chandon' e com a mesma busca por fazer um produto onde qualidade e preço estejam em harmonia e que tenha volume. Ponto para a família Valduga, dona do empreendimento. E eu acredito que mesmo com todo o poder conquistado nos últimos anos, os Valduga não fugiriam de uma mesa de discussão sobre a cara do espumante brasileiro.
Nas fotos acima aparecem alguns dos artesãos de nossos espumantes, atrás dos pupitres está Dall'Agnol  do Estrelas do Brasil e na foto abaixo os enólogos Luciano Vian (da Don Giovanni) e Christian Bernardi (da Winepark). Os três (entre outros tantos que deveriam aparecer aqui) trabalham com excelência e enfrentam muitos desafios nessa busca, mas são incansáveis e eu creio que seus espumantes necessitam do "poder" que uma marca forte e bem definida dá a um produto, facilitando a sua comercialização.
Como vamos fazer isso? Quando vamos fazer isso? Quem será chamado para a mesa de discussão?
Essas perguntas ficam no ar com uma resposta indigesta: 5%.
Eu gostaria de participar dessas discussões, mas gostaria principalmente de ver o setor unido por alguma coisa que muitos deles têm em comum - os bons espumantes - ao invés de discussões em torno de selo, de salvaguarda, de importados versus nacionais, de vinhos de mesa versus vinhos finos.
Temos um produto bom, que o público (mesmo que não consuma tanto) tem a percepção de que é bom, que os críticos louvam e querem saber mais, que tem valor agregado e pode ser feito em variados terroirs, assim, por que não estamos investindo uma parte considerável de nossos esforços para fazer dele a cara do Brasil?
É minha pergunta, de coração.