Colheita 2016

Colheita 2016
Seja bem-vindo! E que nunca nos falte o pão, o vinho e a saúde e alegria para compartilhar!

domingo, 31 de julho de 2011

PRECONCEITO - Substantivo Masculino

Segundo o Dicionário Novo Aurélio Século XXI: preconceito  [De pre + conceito] 1. Conceitos ou opinião formados antecipadamente, sem maior ponderação ou conhecimento dos fatos; ideia preconcebida. 2. Julgamento ou opinião formada sem se levar em conta o fato que os conteste; prejuízo. 3. Por extensão: Superstição, crendice; prejuízo. 4. Por extensão: Suspeita, intolerância, ódio irracional ou aversão a outras raças, credos, religiões etc.



E você? Tem preconceitos?
Aposto que vai dizer que não.
Vai dizer que nunca fecha o vidro quando vê pedintes no semáforo ("Não é preconceito, é medo"), que nunca pensou que outros estados brasileiros são mais pobres por conta das pessoas que neles vivem ("É cultural, não vai mudar, é da natureza deles"), que nunca olhou para um gordinho na fila da salada da churrascaria e pensou "ah tá bom que ele come salada", que nunca deixou de comprar uma peça pois embaixo dela estava escrito "Made in China".
Não, você não tem preconceitos, os outros é que têm.
Claro que você nunca foi a um casamento onde estavam servido espumantes brasileiros e pensou "que pobreza, será que não dava para servir um lambrusquinho, um prosequinho", claro que você nunca foi a uma reunião de queijo e vinho na casa de um amigo e deixou de levar aquela garrafa de vinho brasileiro pois "ia pegar mal chegar lá com uma garrafa de vinho brazuca".
É claro que você não é assim. Afinal, se fosse não estaria lendo este blog, certo?
Então você não é preconceituoso, você apenas oculta um pouquinho a verdade quando lhe convêm. Puxa, tudo mundo faz isso certo?
Sim, aparentemente em nossa sociedade todo mundo faz isso. Triste, mas verdadeiro em uma enormidade de casos.
MAS...isso não faz as coisas ficarem certas, isso não auxilia nem conserta nada. Não contribui com nada.
Ontem eu estava assistindo (tentando assistir ao menos) a extremamente tediosa cerimônia de sorteio das chaves da Copa do Mundo de Futebol, que aconteceu na Marina da Glória, no Rio de Janeiro. Puxa como aquilo foi chato! Mas era necessário e foi o primeiro evento oficial, em solo brasileiro, da enorme competição que está por vir.
Não vou entrar no mérito de que vai dar tempo de construir tudo o que tem que ser construído, consertar o que precisa de reparos ou limpar o que está sujo. Muito menos vou falar da qualidade do futebol praticado por jogadores que faturam por mês o mesmo que algumas cidades do interior arrecadam.Deixo isso para os blogueiros do esporte.
No final das contas, até que fiquei contente com a transmissão. Achei as piadinhas dos apresentadores mal ensaiadas mas inofensivas, achei que o palco (meio "cerimônia do Oscar") estava adequado, achei as apresentações musicais ruins (à exceção do neto do Jobim), mas ainda assim corretas para aparecermos no exterior, e fiquei pensando no quanto teremos que lapidar, martelar, dirimir e engolir nossos preconceitos para podermos sediar uma Copa do Mundo.
E aí? Vamos servir Prosecco na Copa? Vamos servir 'reservado' sulamericano, vamos servir 'super toscanos' para provarmos que somos globalizados, que temos dinheiro?
E você? Qual é a imagem do país onde você vive, que você sustenta, que lhe dá o sustento, que lhe dá as raízes, que você vai querer apresentar para o mundo todo que vai estar nos observando e julgando?
Para falar mal ou bem é preciso conhecer, senão fica como a explicação do dicionário "Conceito formado sem maior apreciação ou conhecimento dos fatos", e olha que não vale aquela sua experiência de dez anos atrás, com sua turma, quando todo mundo estava meio bêbado e bebeu a porcaria de vinho de garrafão que estava na frente.
Que fique claro que eu não vou deixar de beber Proseccos, vinhos chilenos, argentinos, italianos, espanhóis, portugueses, australianos, sulafricanos, alemães etc, até que minha saúde assim o permita.
Mas se quando eu vou à Itália sou apresentada aos vinhos italianos (todo mundo sabe que nem tudo o que se faz lá são Proseccos DOCG, grandes Barolos, super toscanos, etc) de todos os estilos e tipos, quando vou ao Chile ou à Argentina acontece a mesma coisa, porque quando vem um estrangeiro ao Brasil eu tenho vergonha, preconceito, ou o que quer que seja de apresentar o que é feito aqui?
Toda caipirinha é boa? Nem todas. Caipirinha é coisa séria e é difícil de fazer. Toda feijoada é gostosa? Nem todas, aliás poucas são realmente boas.
O vinho é sim uma de nossas tradições herdadas, não apenas dos portugueses que nos colonizaram, como dos italianos e espanhóis que vieram habitar em nossas terras há muitos, muitos anos.
Tradição por tradição estaríamos bebendo cauím até hoje e nada mais.
Então, precisamos conhecer mais, saber mais sobre quem somos, sobre o que fazemos. Deixar a arrogância, a soberba, o preconceito de lado por algum tempo e provarmos os vinhos brasileiros de coração aberto. É preciso conhecer para criticar e ouso dizer que também é preciso conhecer para apreciar.
Isso haverá de enriquecer não apenas a nossa forma de receber os estrangeiros, mas a nós mesmos, que poderemos nos orgulhar de nossos produtos, de nossa herança cultural e de nosso aprimoramento tecnológico.
Pense nisso, sem preconceitos, por favor!


quinta-feira, 28 de julho de 2011

Vinho e Fondue

Já pensando no final de semana que se aproxima (o último do mês de julho), resolvi falar sobre vinhos e fondues.
Sim, tudo no plural, pois os fondues de carne, queijo e chocolate não são os únicos que existem.
Aqui pelo Brasil eles são, sim, os mais populares, mas basta ir até nossa vizinha Argentina que nas estações de esqui, e mesmo na cidade de Bariloche por exemplo, é possível comer o fondue chinês (legumes, carnes magras ou frutos do mar) preparados em um saboroso caldo, e lá na Itália existe a bagna cauda, uma espécie de molho, também servido em uma panelinha refratária sobre uma fonte de calor, preparado com azeite, anchovas e alho, que é uma entrada que acompanha legumes crus,  para mergulhar nesse generoso tempero.
O fondue de queijo, talvez o mais conhecido e apreciado por todos, é sempre melhor quando feito em casa, a partir de uma receita suiça muito simples que leva apenas seis ingredientes. Ela está logo abaixo da foto.
Fondue Clássico de Queijo
Para quatro pessoas você vai usar 600g de queijo emmenthal e 600g de queijo gruyére cortados em fatias finas, 1 dente de alho cortado ao meio que será usado apenas para untar o fundo e os lados da panela, 400 ml de vinho branco seco, 1 colher de sopa de amido de milho diluída em 60 ml de kirsch (se não tiver esse destilado de cerejas, use grappa ou outra aguardente de fruta), pimenta do reino moída na hora e uma pitada de noz moscada e pão italiano em cubos para servir.
Diretamente na panela que irá à mesa esfregue o dente de alho e descarte, coloque o vinho branco e deixe ferver em fogo brando por dois minutos. Coloque os queijos de mexa sem parar (não em círculos mas em zigue-zague) até derreter bem. Coloque a pimenta e o destilado com a maisena e misture bem até ficar homogêneo. Sirva imediatamente sobre o réchaud com fogo médio-alto.




A foto acima mostra as uvas Fendant, a variação suiça da francesa Chasselas, cultivadas perto de Genebra. Sim, a Suiça tem vinhedos e produz tintos e brancos. Mas o consumo local é grande e a produção não é, portanto é raro vê-los fora do país. Enfim, o vinho branco seco da uva Fendant é o tradicional acompanhamento do fondue de queijo, mas se aqui ele não existe, vale trocar por um Chardonnay sem madeira como o da Pizzato, por um Sauvignon Blanc como o da Sanjo ou com um Pinot Grigio da Miolo (feito na Campanha). 
Mas se você não resiste à tentação de queijo e vinho tinto (e quer arriscar a dor de cabeça que pode acompanhar essa combinação), tente o Pinot Noir da Salton (da linha Volpi), que é mais leve e menos tânico e pode funcionar no prato e no estômago.
 Na foto ao lado está o fondue chinês (ou bouillon), que é um caldo enriquecido onde são cozidos pequenos pedaços de peixe, camarões, frutos do mar e legumes. É delicioso e muito mais leve do que qualquer outro. Para harmonizar, vale continuar nos brancos, mas aqui podem entrar algumas opções até mais aromáticas, como um Viognier.
Também vale provar um bom espumante, que nesse caso pode ser um feito pelo método Charmat ou até mesmo o leve espumante da uva Glera (aqui no Brasil ainda chamada de Prosecco), como o Alto Vale, da Domno.

Para o fondue de carne (ou foundue Bourguignone), o vinho precisa de mais peso e acidez, pois a mistura onde as carnes são fritas é, originalmente, feita com óleo vegetal e manteiga (meio a meio).
Assim vale ficar com um espumante mais encorpado (o Pinot Noir da Aurora por exemplo) ou alguns tintos com boa acidez, como o Cabernet Sauvignon da Casa Venturini, o Rastros do Pampa da Guatambu ou ainda o Mundus Malbec, da Casa Valduga, feito na Argentina.
Aliás, esse último vinho pode ser uma combinação ousada e também muito agradável com o foundue de chocolate que, para sermos bem fiéis aos princípios da harmonização, precisaria de um vinho com açúcar mais alto do que o prato. Claro que os vinhos do Porto são uma excelente escolha (assim como os Madeira), mas a quantidade de álcool nesse vinhos inviabiliza que eles acompanhem todo o prato.
Então, você deve provar, claro, um pouco de Porto com seu fondue de chocolate, (uma opção nacional é o Portento da Quinta Santa Maria) mas deve tentar também o Malbec e, por que não, um fresco espumante da uva Moscatel, como o da Vallontano ou da Garibaldi.
Uma dica importante é pensar na variedade dos acompanhamentos, para que essa refeição comunitária não fique enjoativa. Com o fondue de queijo coloque também alguns legumes cozidos ao dente, pequenas batatas aperiivo e até alguns pedaços de de maçãs verdes.
O mesmo vale para o fondue de carne, que pode ser acompanhado de uma variedade de molhos diferentes e também de alguns legumes e até rodelinhas de linguiça defumada.
Para o fondue de chocolate, a diversidade das frutas frescas é fundamental, mas não esqueça de frutas secas (ameixas, damascos, tâmaras), e pedaços firmes de bolo.
Por fim, segue uma foto  da bagna cauda, que pode ser uma opção para acompanhar o fondue de queijo e o de carne, com seu tempero forte e as muitas opções de legumes (rabanetes em metades, mini-abobrinhas, pimentões em fatias, salsão, erva-doce, cebolinhas, brócolis, couve-flor e couve de bruxelas já escaldados, cenoura e pepino japonês em palitos firmes).
Para fazer essa receita coloque em uma pequena panela 150 ml de azeite, cinco dentes de alho amassados e umas dez ou doze anchovas em azeite. Leve ao fogo baixo até a o alho doure e as anchovas desmanchem. Coloque quatro colheres de sopa de manteiga e deixe derreter devagar. Apague o fogo e coloque mais duas colheres de manteiga, batendo com o garfo para dar uma encorpada. Coloque no rechaud e sirva. 
Não coloque sal nos legumes, mas deixe um potinho com sal gourmet (mais grosso que o refinado) que ele dará um toque aos legumes, uma vez que a bagna cauda já é salgada por conta das anchovas.
A bagna cauda e seus legumes vão muito bem com espumantes secos, com Sauvignon Blanc e com Sangiovese, como o da Cristofoli.
Bons goles e bom apetite!




terça-feira, 26 de julho de 2011

Gente do Vinho

Volta e meia não resisto a fazer uma seção 'Caras' por aqui. Mas desta vez é apenas com gente do mundo do vinho.
Vamos lá: vou começar pelas 'meninas' que estavam na gravação do programa 'E por falar em vinho', que vai ao ar no Canal Rural. Se vocês não as conhecem, devem ao menos conhecer os vinhos que elas fazem que são, antes de mais nada, espumantes impecáveis, entre outros.
Na foto estão: Taline de Nardi (Vinícola Santa Augusta-SC), Beatriz Dreher Giovanini (Vinícola Dom Giovanni-RS) e Hortência Ayub (Vinícola Campos de Cima-RS).
Alguns dos vinhos que suas famílias produzem são o Espumante Brut e um branco doce de Moscato Giallo da Santa Augusta em Videira (da Taline, a de branco), os elegantíssimos espumantes da Don Giovanni de Pinto Bandeira (da Beatriz, a de vermelho) e o espumante brut e o Ruby Cabernet da Campos de Cima de Itaquí, na Campanha (da Hortência, a de preto). Se não tiverem oportunidade de conhecer essas três mulheres interessantíssimas (e lindas, não?), ao menos conheçam seus vinhos.
Na foto abaixo, feita no último final de semana no Chile (no bar de vinhos da Casas del Bosque no vale de Casablanca), estão o enólogo Meinard Bloem e o winemaker/empresário David Giacomini, dividindo um vinho e muitas histórias.
O enólogo Meinard trabalha para o braço chileno da Bodega O.Fournier e faz saborosos Sauvignon Blanc e alguns cortes tintos deliciosos. David é brasileiro, mas tem um pé 'plantado' no Chile, onde possui um vinhedo que produz uva Sauvignon Blanc para nada mais nada menos que a Viu Manent (se você não conhece os vinhos dessa vinícola, deveria conhecer!). Em comum esses dois têm a paixão pelos vinhos brancos.
Não tive tempo de mostrar antes, mas mostro agora uma foto (não muito boa pela falta de luz do local), do dia em que a Miolo fez a apresentação de alguns de seus novos vinhos e seus projetos, com a presença do enólogo consultor, o francês Michel Rolland. Na foto estão Fábio Miolo, a jornalista Liane Szabo e Michel Rolland, numa noite cheia de bons vinhos e boas conversas.
Logo no dia seguinte desse evento tivemos uma agradável degustação dos vinhos franceses da Mas de Daumas Gassac, oferecida pela importadora Mistral.
Na foto abaixo, com os dentes ainda brancos, estão Didú Russo (de amarelo) e Eduardo Milan, duas boas companhias para qualquer degustação.
Ontem, como disse aqui, estive em dois eventos que aproximaram o Rio Tejo do Rio Douro de forma nunca antes imaginada. Um estava no restaurante Praça São Lourenço e o outro no Baby Beef Rubayat, com apenas 2,5km de distância um do outro. Coisas de São Paulo.
No evento do Tejo conheci Luisa (foto abaixo), da casa Agrícola Paciência, que veio mostrar um vinho branco delicioso, o Ping'amor, uma combinação inusitada das castas brancas Fernão Pires e Chardonnay, com um ligeiro toque frisante. Divertido que só. Vejam o rótulo na outra foto.

Quem está olhando para a garrafa com curiosidade é a Alessandra, nossa querida assessora de imprensa, cujo filhote ainda no ventre já deve saber a diferença de aroma entre um Touriga Nacional e um Tinta Roriz!
E no último evento do dia, a dupla Cristiano Van Zeller e João Roquette, em um momento que mostrou o nível de descontração da apresentaçnao de algumas jóias da vinicultura do Douro.
Portugal, com toda sua história e conhecimento sobre vinhos, tem encontrado espaço em seus corações e taças para se renovar, de forma genial, e reconquistar mercados que já foram estratégicos para eles e que andavam perdidos para chilenos e argentinos.
Ontem, Tomás Roquette, da Quinta do Crasto, contou que o Brasil voltou a ser, em 2010, o mercado exportador número um para sua empresa, o que não é pouca coisa para uma empresa poderosa e importante como a deles.
O que me chamou mais a atenção, novamente falando de 'pessoas', foi o fato de que ao final da longa degustação (mais de 20 rótulos), foram apresentados três Portos Vintage. Quase ninguém usou as cuspideiras disponíveis. Ou seja, mesmo depois de muitos (e bons vinhos) pois a enorme maioria tinha estado presente ao evento do Tejo também, os vinhos do Porto apresentados não podiam ser desperdiçados.
Grande vinhos, grandes pessoas, muitos bons brindes!




segunda-feira, 25 de julho de 2011

Herança

Quantos de vocês já pararam para pensar de onde viemos?
Não é uma questão metafísica, que questiona o universo e nem tão pouco a existência de Deus.
É apenas a percepção de que a nação brasileira, submetida a tantas influências, tem uma herança primordial, a portuguesa.
Quase nunca pensamos nisso, quase nunca falamos disso e é bem verdade que, em 1808, quando a família real veio (fugida de Napoleão) para o Brasil, nós passamos a ser 'Europa', ou seja, a sede do reinado era aqui.
Lembrei-me disso por dois motivos. Um deles é que conversei recentemente com um tradicional produtor de vinhos italianos que encontrei em Bento Gonçalves e depois aqui em São Paulo e ele me perguntou o por quê de termos, com a tradição vitivinicultora herdada dos italianos que ocuparam o sul, um estilo de vinificação tão francês.
Eu, a princípio, fiquei sem saber o que responder, mas pensando bem me dei conta de que os franceses foram muito melhores do que qualquer outra nação produtora de vinhos para disseminar sua cultura. E não interessava que os locais onde ela iria ser implantada não tivessem nada em comum com a terra de onde vinha a tecnologia, o 'know how'.
Os portugueses deixaram aqui os vinhos, por motivos vários que entram na seara da política e da economia, e por muitos anos tudo o que bebemos de 'estrangeiro' por aqui foram vinhos portugueses e alguns poucos italianos.
Argentina e Chile, hoje tão populares aqui no Brasil, beberam na fonte francesa também. Embora o Chile, mais adaptável e rico, tenha sofrido muitas influências e algumas delas do moderno mundo do vinho, onde a Austrália saiu na frente. Assim, essas influências se misturaram e casaram-se em várias garrafas, hoje quase indefiníveis em estilo.
Os europeus ainda conseguem "se ver" como criadores de estilos únicos, em geral por conta de uvas autóctones e de estilos de vinificação criados muito mais pela necessidade do que pela técnica adequada, mas o Novo Mundo do vinho bebeu em muitas fontes, assim as influências se misturaram de uma forma sem volta.
O Brasil é, hoje, uma combinação de cultura ítaloportuguesa, com estilo de vinificação francesa que, em muitas vinícolas, ainda quer copiar a potência dos vinhos 'bomba de frutas' do Novo Mundo.
Mas a outra coisa que me fez pensar em herança foi o fato de que hoje vou a dois eventos de produtores portugueses. O primeiro é do TEJO, que resolveu se 'rebatizar' para conseguir uma diferenciação em um mercado onde a marca tem tanto poder quanto o produto.
Fizeram muito bem, pois são grandes vinhos que precisavam de uma 'coletividade' para poderem trabalhar em prol do bem comum, e controlar melhor os vinhos produzidos na região.
Provavelmente amanhã trarei novidades sobre isso.
O outro evento será a reunião de cinco 'jovens senhores' produtores de grandes vinhos da região do Douro. Eles, numa divertida cartada de marketing, adotaram o nome de 'Douro Boys' e rodam o mundo apresentando seus vinhos e a região com um olhar menos sisudo sobre vinhos muito tradicionais.
Coisa boas para provar e escutar.
O divertido release enviado pela assessoria diz o seguinte:

Os “Douro Boys” não são uma banda de música pop, como o nome pode parecer, mas um grupo de amigos e familiares proprietários de cinco prestigiadas vinícolas do Douro: Quinta do ValladoNiepoort, Quinta do Crasto, Quinta do Vale Dona Maria Quinta do Vale Meão. Em 2002, eles decidiram se associar informalmente para promover a região, seus vinhos de alta qualidade e, claro, para se divertirem.

Eles representam a modernidade e a revolução na enologia do Douro. Mas "uma revolução tranquila", como costumamjustificar, já que buscam a renovação de vinhos seculares, porém respeitando as características desta tradicional região, a primeira demarcada no mundo. Os Douro Boys trabalham para mostrar, cada vez mais, as potencialidades dos vinhos do Douro e conquistar o lugar que eles merecem estar, entre os vinhos mais reputados do planeta.


Assim, tenho certeza de que voltarei com muitas novidades, mas deixo aqui uma questão, para quem faz vinho, para quem bebe vinho, para quem estuda vinho: ainda precisamos copiar alguma coisa? A tecnologia está disponível para todos (tem preço, claro), as diversidades são apreciadas cada dia mais em um mundo que tende a se padronizar com coisas 'genéricas' e os caminhos, embora tendo sido traçados por nossos antepassados, recebem agora os nossos passos e devem ter a nossa assinatura.
Conhecer de onde viemos nos dá tranquilidade, história, segurança e também a enorme possibilidade de fazer diferente, melhor, único.
Boa semana e EXCELENTES brindes para todos!


terça-feira, 19 de julho de 2011

TEMPO

Caros leitores, sei que as pessoas só retornam a um blog pois ele tem assuntos interessantes e é constantemente atualizado.
No entanto, nesta semana estou impossibilitada de escrever as postagens que quero, por pura falta de tempo.
Peço desculpas e garanto que no próximo final de semana retomarei as postagens.
Obrigado pela compreensão!
Bons brindes!

domingo, 17 de julho de 2011

O Sal


 Estou lendo um livro chamado 'O Banquete', que é o trabalho de um pesquisador inglês que foi diretor de museus importantes como o Victoria & Albert e a National Gallery, em Londres.
Ele analisa, através dos tempos, as mudanças e costumes associados ao hábito de comer coletivamente.
Há muitas coisas interessantes nesse livro, especialmente para alguém como eu que tem imenso interesse em Alimentos e Bebidas, interesse esse que eu adoraria ter a chance de aprofundar em um estudo sócioantropológico. Claro que a minha vida não me permite esse luxo, então vou lendo livros, testando receitas, apurando o senso crítico e estético de forma bastante amadora, mas ainda assim educativa. Foi assim, buscando expandir algumas informações do livro, que cheguei ao texto que reproduzo a seguir, sobre o sal.
Confesso que tenho particular apreciação por esse tempero, que ao meu paladar é muito mais agradável do que o açúcar. Óbvio que tenho que controlar essa apreciação, pois a medicina e a nutrição moderna nos ensinam que o excesso de sal na alimentação causa muitos danos à saúde.
Uma das maneiras que encontrei para controlar a quantidade foi utilizar um sal menos refinado em minha comida. E assim passei a ser fã do sal granulado, um intermediário entre o sal fino e o grosso.
Mas vamos ao texto (que não é meu, e sim de uma empresa que beneficia sal aqui no Brasil):

O sal nos costumes

Na alimentação
O homem pré-histórico obtinha sua dose de sal graças à carne crua de suas caças. Foi a passagem para a agricultura e para uma alimentação à base de grãos que introduziram a necessidade de complemento. O sal teve grande impacto também na história das civilizações: graças ao seu poder de conservar os alimentos facilitou a sobrevivência e a mobilidade das populações. Antes da Idade Média, pescadores holandeses já sabiam salgar o arenque para armazená-lo, tornando o peixe acessível longe do mar e durante o ano inteiro. O bacalhau salgado também é anterior à Idade Média.
No artigo “Na Bahia Colonial”, Taunay descreve o entusiasmo do viajante Pyrard de Laval na Bahia, em 1610. “É impossível terem-se carnes mais gordas, mais tenras e de melhor sabor. (...) Salgam as carnes, cortam-na em pedaços bastante largos, mas pouco espessos (...). Quando estão bem salgadas, tiram-nas sem lavar, pondo-as a secar ao sol; quando bem secas, podem conservar-se por muito tempo.”
Os indígenas brasileiros não conheciam o sal. Era das carnes da caça que vinha a porção de que necessitavam. Seus temperos eram as pimentas, e seu método de conservação era o moqueio – defumação lenta sobre braseiro de folhas e gravetos. O sal foi introduzido no Brasil pelos portugueses e seu emprego como conservante influiu decisivamente na ocupação do território brasileiro. O charque, ou carne-seca, foi a base da alimentação dos boiadeiros do Nordeste, que avançaram pelo interior em direção ao sul, em busca de terras para a pecuária, e dos bandeirantes paulistas, que tomaram o rumo noroeste, em busca de novas riquezas.
Nos rituais
O sal está presente em rituais religiosos de diversas épocas e civilizações. Foi usado por gregos, romanos, asiáticos e árabes. Mas talvez nenhuma tradição lhe tenha dado tanto destaque quanto a judaico-cristã. O Antigo Testamento menciona o sal com freqüência, ora no contexto da vida prática, ora simbolicamente. Sal significa, por exemplo, pureza e fidelidade. No Novo testamento, a menção ao sal torna-se mais metafórica. Jesus diz a seus apóstolos - “Vós sois o sal da terra”.
Até o início da industrialização e em diferentes civilizações, o sal na mesa significou prestígio, orgulho, segurança e amizade. A expressão romana para exprimir ser infiel a uma amizade era “trair a promessa e o sal”. Desde aqueles tempos a ausência de um saleiro sobre a mesa representava um presságio, tanto quanto o sal derramado. Ao pintar sua famosa “Santa Ceia” Leonardo da Vinci tratou de colocar diante de Judas um saleiro derramado.
Abolido por Lutero no ritual de batismo da religião protestante ainda no século 16, o uso do sal perdurou no batizado católico até 1973, simbolizando a expulsão do demônio e o sinal de sabedoria sobre o recém-nascido. Ainda hoje, as batatas e ovos cozidos servidos no Pessach, a Páscoa judaica, são regados com água salgada, que simboliza as lágrimas derramadas pelos judeus na travessia do deserto, durante a fuga do Egito.

Nas bruxarias
Nas crenças populares, ele é um ingrediente obrigatório para afastar demônios e feiticeiras. No Brasil, senão uma prática, o banho de sal grosso é uma expressão comum para designar proteção contra o mau-olhado. Recipientes com sal e uma cabeça de alho podem ser vistos com freqüência não apenas em casas, mas também em lojas e escritórios. A final, que las hay, las hay... 
Acredita-se que foi a Igreja que tomou emprestado esse uso para seus rituais, sobretudo os de exorcismo, e não o contrário. A explicação de um demonólogo francês do século 16 para os poderes anti-diabólicos do sal: “ele é a marca da eternidade e da pureza, porque jamais apodrece ou se corrompe. E tudo o que o diabo procura é a corrupção e a dissolução das criaturas, tanto quanto Deus busca a criação. Daí a obrigação, pela lei de Deus, de colocar sal na mesa do santuário...”
Povos antigos atribuíram ao sal poderes afrodisíacos e acreditavam que sua carência reduzia a potência sexual dos homens. Uma gravura satírica francesa do século 16 (abaixo) mostra mulheres de diversas classes sociais numa atividade insólita: debruçadas sobre maridos sem calças, que esperneiam, aprisionados em barris, elas esfregam com sal, vigorosamente, suas partes íntimas.


Para quem, por fim, ficou curioso sobre 'Vinho e Sal', é importante dizer que há apenas um vinho capaz de fazer frente aos alimentos realmente salgados, como alcaparras, presunto cru, azeitonas, aliche etc, o espanhol Jerez, em suas versões mais secas. Uma combinação realmente espetacular.
Boa semana para todos!

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Humor Etílico




















quarta-feira, 13 de julho de 2011

384 amostras de 72 vinícolas - ANV 2011


Fico imensamente feliz em dar esta notícia, que recebi ontem da assessoria de imprensa Conceito Comunicação, lá de Bento Gonçalves.
A 19º edição da Avaliação Nacional de Vinhos teve 384 amostras de vinhos inscritas, vindas de 72 vinícolas. Um aumento de 48% em relação ao ano passado, fato esse que mostra dois aspectos importantes, um deles é a qualidade da colheita deste ano (pois todos os vinhos inscritos precisam ser de uvas colhidas em 2011) e o desenvolvimento da indústria do vinho fino no país, representada por 72 empresas de seis estados.


Dentre todas essas amostras apenas 30 restarão ao final e 16 delas serão apresentadas na degustação coletiva (para mais de 700 pessoas), no último sábado do mês de setembro, no evento mais importante do calendário anual da vitivinicultura brasileira.
Na foto acima (feita pela assessoria de imprensa no ano de 2010) estão os enólogos associados da ABE (Associação Brasileira de Enologia) que não apenas organizam o evento como também vão retirar eles mesmos as amostras nas vinícolas (para que não sejam enviadas amostras "especiais" diferentes da safra em curso), e depois as degustam em grupos.
Esse processo de degustação, seleção e avaliação dura todo o mês de agosto e envolve mais de 100 enólogos, divididos em equipes que degustam às cegas, na sala de Análise Sensorial da Embrapa Uva e Vinho.
O grande objetivo dessa Avaliação não é conceder prêmios, medalhas ou pontos, mas sim mostrar quais foram os vinhos mais representativos da safra e, com isso, passar a compreender como está se comportando nossa indústria, nossas regiões e o trabalho dos homens de campo e de cantina que fazem nossos vinhos.
E, para o público como eu e você, é também uma enorme festa, a mais bem organizada que conheço, onde estão praticamente todos os nomes da indústria do vinho brasileiro, quer eles tenham suas amostras apresentadas quer não, reunidos em torno de um objetivo comum, bem definido pelo 'oráculo': 'Conheça-te a ti mesmo'.
É o que  precisamos fazer a cada dia, para compreender os desafios da técnica e da comercializiação dos vinhos neste país cheio de potencialidades.
Parabéns à ABE e aos 72 produtores que decidiram colocar seus produtos à prova!

terça-feira, 12 de julho de 2011

Tanto há por conhecer...

Volta e meia lembro-me de uma música que a Elis Regina cantava que, não por coincidência, postei aqui há quase exatos 365 dias, quando visitei o Salão do Turismo e me deparei com quão pouco conhecemos nosso próprio país. Os versos dizem: "O Brasil não conhece o Brasil, o Brasil nunca foi ao Brasil..."


E se isso é verdade para nós mesmos, seja em vinho, gastronomia, turismo, música, comportamento, diferenças culturais, literatura, que dirá então do que não conhecemos sobre nossos vizinhos (e quase vizinhos) de língua espanhola?
Fiquei sabendo, através de um amigo chileno no facebook, do assassinato de um cantor, poeta e compositor argentino chamado Facundo Cabral, na Guatemala neste final de semana.
Chamou-me a atenção a comoção que a notícia gerou entre as pessoas na rede social. Fiquei me perguntando quem ele era e estendi a pergunta ao meu amigo, enólogo-chefe da Viña Aresti.
Ele me escreveu não apenas contando um pouco sobre o desapego e lirismo manifestos na vida e obra de Facundo Cabral, como também me enviou hoje o poema que reproduzo a seguir:

Que espera Dios?
que el hombre vuelva a ser un niño
para recibirlo en su seno
perfecto, perfecto

No crezca mi niño, no crezca jamás
los grandes al mundo le hacen mucho mal

El hombre ambiciona cada día mas
y pierde el camino por querer volar

Vuele bajo porque abajo
esta la verdad
esto es algo que los hombres
no aprenden jamás

Por correr el hombre no puede pensar
que ni el mismo sabe para adonde va

Sigue siendo niño y en paz dormirás
sin guerras ni maquinas de calcular

Vuele bajo...

Dios quiera que el hombre pudiera volver
a ser niño un dia para comprender

Que esta equivocado si piensa encontrar
con una escopeta la felicidad

Vuele bajo...
Vuele bajo...

Imagino que entre os estudiosos e apreciadores de música, literatura, filosofia e (provavelmente) política latinoamericana, esse artista seja bem conhecido. Triste de minha parte não ter sabido dele quando em vida, pois nós aqui no Brasil estamos tão próximos e tão distantes ao mesmo tempo de nossos vizinhos.
Com certeza isso nos faz mais pobres culturalmente, ainda que acreditemos que somos 'globalizados'. É bem provável que a globalização tenha nos atingido muito mais através de produtos de consumo do que de produtos culturais. Que pena, perdemos todos...
Gracias Jon, por ese envío!



segunda-feira, 11 de julho de 2011

ANIMAL!

Dizem que a gente precisa fazer uma loucura uma vez ou outra na vida, para que as coisas não fiquem tão assentadas como batina de padre em Roma, certo?
A minha foi ontem, largando o trabalho por quase 3 horas e indo para o centro da cidade conhecer um lugar que há muito pedia uma visita, o Bar da Dona Onça.



A 'Dona Onça' do nome é Janaína Rueda, uma linda morena de olhos azuis, que eu conheci no mundo do vinho há anos, quando ela trabalhava como sommelier da Pernod Ricard. Ela foi, naqueles tempos, minha avaliadora na prova prática do curso de sommelier.
Mas isso são 'àguas de macarrão' passadas.
Janaína casou-se com um dos grandes chefs de cozinha de SP, o Jefferson Rueda (que fez a fama do Pomodori), virou dona de bar, cozinheira e mãe de dois filhos, tudo isso em uns 6/7 anos apenas!
Continua linda e estava lá, dando expediente no domingo. Atenta ao movimento, tirando coisas das mesas, dando ordens com seu sorriso suave e, principalmente, comandando uma casa que é a cara de São Paulo.
A começar pelo fato de que fica no centro da cidade, bem perto da Praça da República, depois que está em um dos prédios-símbolo da cidade, o Edifício Copan e tem uma decoração externa e interna que - afora alguns toques mais contemporâneos - reflete uma São Paulo que eu considerava perdida para sempre: vidros grandes, lambris de madeira nas paredes, cadeiras escuras, bar espelhado e de teto baixo.
Logo ao entrar tive uma sensação boa de estar em lugar que sabe o que é, e não precisa ser pretensioso.
O cardápio é outra homenagem à cozinha que todos nós daqui conhecemos: picadinho com ovo, bife de porco à milanesa, frango com quiabo, caldeirada, peixe frito e até couve-flor à milanesa...sem medo de ser feliz! Na foto abaixo ela está acompanhada de outro 'clássico' paulistano: Caju Amigo, só que preparado com Vodca ao invés de Gim, como era feito no Pandoro na década de 1960/1970.


Movimentada todos os dias, a casa tem vários cardápios, incluindo os pratos do dia, que são servidos no almoço durante a semana, escritos no painéis das paredes, abaixo da cozinha ou nos espelhos que revestem as colunas largas.



Meu marido escolheu comer o picadinho de filé com ovo frito caipira e tartar de banana, acompanhado de farofa e creme de feijão. Tudo saboroso, cada bocado com um temperinho que mostrava que alguém por lá sabia o que fazia.


Sobre a mesa, uma seleção de temperos bem legal: flor de sal, três estilos e intensidades de molhos de pimenta, azeite e uma cumbuca com farinha de madioca.


Eu resolvi pedir um desses pratos que são tudo ou nada, ou estão perfeitos ou você se arrepende amargamente: um steak tartar, que para quem não sabe, é carne crua, magra, picada com duas facas afiadas e temperada no momento de servir, para não escurecer. É um clássico francês (vindo da tradição russa, onde era servido com um ovo cru), que lá foi servido com chips de mandioca super crocantes e salada verde mista. Tão bom, mas tão bom que ao escrever agora já tenho vontade de comê-lo novamente.
Eu sou assim, passo dias sem comer carne alguma e, no dia da loucura, caio de boca num steak tartar. Que para ser ainda mais sério, foi servido com um pote de mostarda forte de Dijon.


E como se tudo isso fosse pouco, a refeição majestosa foi completada com mini-churros com doce de leite cremoso e um trio de brasilidades (pudim de leite, brigadeiro de colher e mini-quindim) e mais café expresso bem tirado como raramente se vê nos restaurantes de São Paulo.



Melhor do que isso? Só trabalhar bastante para ganhar dinheiro e poder voltar e provar mais coisas do cardápio, como as receitas de carne de porco preto, e as massas artesanais do chef Jefferson Rueda, que está 'roubando minhas panelas' como disse a Janaína, enquanto sua nova casa não fica pronta.
E como dizia a banda Premeditando o Breque: "É sempre lindo andar, na cidade de São Paulo, o clima engana, a vida é grana, em São Paulo (...) Pra quebrar a rotina, num fim de semana, em São Paulo, lavar o carro comendo um churro, é bom pra burro!".
Para quem nunca ouviu essa música (e acha que São Paulo é apenas 'Sampa' do Caetano) segue aqui o link da música do Premê: http://youtu.be/GccpL1-Oah0

Boa semana para todos!