Colheita 2016

Colheita 2016
Seja bem-vindo! E que nunca nos falte o pão, o vinho e a saúde e alegria para compartilhar!

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Retrospectiva 2012


Eu tenho um problema com fé e religião.
Cada vez que vejo alguém sinceramente religioso, cada vez que observo uma manifestação de fé numa pessoa, tenho um fio triste de inveja que me percorre.
O passar dos anos tem me feito ainda mais cética e mais consciente dessa 'inveja branca' de quem 'acredita'. Eu gostaria de ter o conforto da religião, mas não tenho.
Este ano que se encerra foi para mim mais uma demonstração de que quase tudo na vida é movido por interesses econômicos ou favores pessoais - o que não raro dá no mesmo.
Foi um ano de altos e baixos e em anos assim a minha visão (crença talvez? que ironia!) de que escolhemos fazer o bem (ou o mal) por conta de nossa natureza sem que isso seja capaz de influenciar o curso das coisas - ao menos no aqui e no agora - é correta.
Eu escolhi (e continuarei escolhendo) fazer o bem. Continuarei reportando, escutando e fazendo o possível para me comportar com a máxima correção, na minha profissão e fora dela. Mas confesso que o que vejo ao meu redor não é nada disso.
Vejo corrupção em variadas formas, vejo desamor aplicado entre familiares, entre amigos, com animais e até mesmo com os anônimos que cruzam nossas vidas.
Vejo favorecimentos em cadeia e isso gera reações cujos resultados depois ninguém parece entender.
Vejo 'os poderosos' em pequena e grande escala tratando os outros como se não houvesse amanhã e seus interesses pessoais estivessem acima de toda e qualquer ética.
Não acredito que haja 'salvação' para nada disso e cada dia menos desejo me meter nessas disputas.
Infelizmente, a minha realidade profissional me faz estar junto de muitas disputas e a presenciar atos, conversas e comportamentos que me entristecem e me colocam no oposto do espectro da fé.
O filósofo Aristóteles disse que "O homem é por natureza um ser social", mas não se prolongou sobre como ser 'sociável' numa sociedade conturbada onde, nas palavras de outro filósofo: "O homem é o lobo do homem". Muitas vezes eu me canso de ser um ser social, sociável ou coisa que o valha.
Recebi um prêmio neste ano, e esse simples evento me desencadeou uma série de considerações que me deixaram boquiaberta.
Em princípio achei que não era merecedora da honraria, mas logo compreendi que ser homenageada por pessoas que você admira é um privilégio. Depois vi as manifestações de alegria sincera e não sincera de meus pares. É difícil precisar se é mais estranho quem lhe cumprimenta por educação e por pensar que não 'deve se opor' a você ou quem simplesmente finge que não viu.
Eu, provavelmente como pessoa, não preciso de nenhum desses dois estilos de gente em minha vida. Mas sou obrigada a conviver com ambos.
A premiação também lhe dá um senso renovado de responsabilidade, não compartilhável com quem nunca passou por isso ou com quem sente inveja ou medo do que alguém (ha ha ha!) 'premiado' possa fazer.
Acredito numa coisa: que tudo passa, que tudo é transitório. Então por alguns instantes agradáveis e bem vindos para o ego, eu fui homenageada. Mas amanhã será outra pessoa, e depois outra e assim por diante. Nenhuma realização humana é para sempre, por isso não entendo a inveja e o cinismo que corroeram muita gente próxima a mim neste ano.
Outra coisa na qual acredito é que 'o mundo gira a lusitana roda', ou seja praticamente tudo o que jogamos para o mundo acaba por voltar para nós, quer percebamos ou não, assim nossas atitudes (boas ou más) retornarão para nossas realidades. É óbvio que não é 'olho por olho, dente por dente', como dizia a pena de Talião, mas é quase isso. O que parece iludir as pessoas é a sua não percepção de que não é o 'tapa na cara' que volta, mas a agressão cometida de alguma forma.
Meu marido diz que eu levo as coisas todas para o lado pessoal. Ele está certo. Eu me chateio, eu fico magoada, eu reajo mal a algumas coisas e, infelizmente, algumas (poucas, felizmente) vezes eu desejo reagir MUITO mal.
Ou seja, viver não é ter fé que as coisas vão dar certo. Viver é aprendizado, é conhecimento, é observação, é superação. É 'não reação' muitas vezes, um aprendizado complicado.
O inefável nessa questão, ao menos para mim, não é nenhum ser supremo ou celestial. É o amor "que não obedece a dicionários ou a regulamentos vários", como disse o poeta.
O amor sustenta, alegra, consola, agrega. E não estou falando apenas de amor por outros seres (pessoas ou animais) estou falando de ter olhos de amor para com a natureza, a terra que nos sustenta e nos suporta, para com as coisas que fazemos e criamos, para com a vida em geral, frágil e poderosa ao mesmo tempo.
Amei estar na Itália e na Argentina neste ano. Amei levar o 'Vinho Verde' para muitas cidades do interior de São Paulo, amei participar do Carnaval do vinho em Porto Alegre e conhecer novas vinícolas pelo país. Amei poder editar uma revista inteira, do índice ao café e a conta. Amei e sofri nos desafios.
Amei e sofri ao me deparar com a pessoa que desejo (e posso) ser mas que ainda não sou, e que precisa de ajuda e atenção. O mundo gira a lusitana roda.
Amei ter amigos próximos e distantes e de alguma forma poder me relacionar com pessoas que aprecio de forma mais aberta.
Amei poder celebrar os 50 anos de meu marido e os 70 de minha mãe, poder passar um ano desfrutando de saúde e disposição que me permitiram honrar meus compromissos.
Senti as perdas de gente inteligente que nossa nação sofreu, senti o sofrimento de gente amiga doente e senti que muitas vezes não fui capaz de ajudar.
Mas há muito mais para ser feito, há muito pelo que lutar para manter a vida e poder desfrutá-la com a consciência limpa e leve.
Há um novo ano pela frente, uma nova safra, novos amigos, novos vinhos, novas edições de revistas, novos desafios para enfrentrar.
Não acredito que faça diferença no calendário do universo a passagem de 31 de dezembro para 1o de janeiro. Mas acredito SIM que nossos desejos e anseios tem o poder de 'limpar o ar' para os novos dias e com eles me alinho, para que sejamos melhores, mais honestos, mais éticos, mais bondosos em 2013!
Feliz Ano Novo e excelentes brindes!




Mendoza!!! - Parte 2


No segundo dia das degustações do concurso Malbec al Mundo, a equipe organizadora se reuniu para uam foto oficial e para os aplausos dos degustadores. Quem participa e/ou promove esse tipo de evento sabe o pesadelo logístico que ele é. Assim, chegar ao final com bons resultados é sempre um momento de comemoração.

Nós, o grupo de degustadores estrangeiros, fomos levados para um agradável e informal almoço na casa de hóspedes da vinícola Terrazas de los Andes, que pertence ao poderoso grupo internacional LVMH. É nesse mesmo local que é produzida uma parte dos espumantes da Chandon argentina, que - diferentemente do Brasil - porduz por lá seus espumantes pelo método tradicional. Tive o provilégio de conhecer o chef de cave da empresa, que está lá há mais de 20 anos.

A casa abriga um restaurante e lindos quartos que funcionam como uma pousada de luxo, em meio aos belos jardins e a paisagem sempre imponente da cordilheira. Não é à toa que o nome da vinícola é 'Terraço dos Andes'.
Saindo da programação oficial eu havia planejado daqui do Brasil uma visita à bodega Catena Zapata.
Vamos dizer que não ir à Catena Zapata quando em Mendoza é o equivalente a não ir à Miolo quando no Vale dos Vinhedos, ou não assistir a um show de tango quando em Buenos Aires...enfim, vocês entenderam a comparação.
Para minha alegria, o enólogo Luciano Vian resolveu me acompanhar na visita, assim na ensolarada tarde da sexta-feira, chegamos ao distinto prédio que abriga a vinícola fundada do Nicolás Catena.
Sua arquitetura foi inspirada numa pirâmide latinoamericana e sua parte interna é realmente impressionante, com o maciço de pedra se sobrepondo a abrindo vãos onde a luz intensa da região penetra e desenha ângulos.
Nas altas escadas que levam desde o subsolo onde fomos recebidos pelos enólogos na sala de degustação (que por sua vez dá vista à sala de barricas em forma de meia lua) até o topo da pirâmide de  onde se avistam os parreirais e a cordilheira, toda a arquitetura é de volumes, vazios e luz.
Impressiona, mas não sei se acho bonita, confesso com absoluta modéstia.
Degustamos alguns dos mais importantes vinhos dessa bodega que se transformou num ícone argentino, desde que o fundador se inspirou no trabalho feita na Califórnia e resolveu subverter o que - até então - era comum na região. A Catena trabalha com altos padrões de qualidade e com um marketing também poderoso, assim colhe os ricos frutos do que cultiva com cuidado.
Aproveito para fazer uma propaganda pessoal aqui: quem quiser ler um pouco mais sobre Laura Catena, filha do fundador e atual administradora da vinícola, é só comprar a edição deste mês da revista SABORES, onde o enófilo Guilherme Velloso escreveu um belo perfil dela.

A paisagem de tirar o fôlego (acima) só é possível graças ao que ocorre abaixo, a irrigação constante dos vinhedos, por gotejamento, numa estrutura complexa e eficiente que domina discretamente a paisagem.
De volta à cidade de Mendoza, tivemos duas horas de descanso para fazermos as malas e nos prepararmos para a festa de premiação.
Na foto abaixo estamos, da esquerda para a direita, Luciano Vian enólogo brasileiro, Mariana jornalista chilena, Alejandro enólogo uruguaio, Estela presidente da associação dos enólogos do Uruguai, Alfonso enólogo chileno e eu.
Na mesa que ocupamos estavam também os presidente da organização dos enólogos da Argentina, Ricardo Godoy (ao lado de Luciano) e a presidente da OIV, Claudia Quini (ao lado de seu marido de gravata amarela).
Nos intervalos da premiação e durante todo o jantar, um grupo de bailarinos do corpo de baile da cidade de Mendoza mostrou um pouco das tradições do país, traduzidas pelo tango...
...pelo bailado criollo muito semelhante às danças típicas gaúchas...
...numa demonstração emocionante da preservação e apreciação interna da cultura do país.
Confesso que nesse ponto os argentinos são extremamente mais orgulhosos do que nós brasileiros, que parecemos sempre prontos a assimilar e assumir outras culturas que estão 'na moda'.

Saí de Mendoza na madrugada do sábado, menos de 72 horas depois de chegar à Argentina, com a sensação de que não conheci quase nada nessa visita tão breve a um território tão rico, mas que pude vislumbrar o porque do argentino se orgulhar de seus vinhos, a razão do sucesso da uva Malbec como emblema do país e me deleitar um pouco com essa gente que tem o campo por bandeira e suas tradições no coração e na alma. Algo que nós, brasileiros, poderíamos valorizar mais em nossos terroirs.








quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Começou a safra 2013!

A Cooperativa Vinícola Aurora, com sede em Bento Gonçalves, começou sua colheita de uvas hoje! Tecnicamente essa é a safra 2013 chegando à cantina para processamento.
Nas imagens abaixo, as primeiras caixas de uva Pinot Noir chegando à empresa, que até o final da semana serão transformadas no começo de um vinho base para espumantes.
O enólogo André Peres Júnior comentou que a safra adiantou devido ao inverno que terminou um pouco mais cedo e assim tudo no campo foi mais depressa:"Essas primeiras uvas já estão com a qualidade e acidez necessárias para se tornarem os vinhos base para espumante, assim não podemos esperar o calendário e nem o 'fim do mundo'" brincou.
Fazia vários anos que a safra não se adiantava dessa forma, o que também pode representar um sintoma das mudanças climáticas que estão ocorrendo em todo o globo.
Para quem estranha esse fato, é bom dizer que as uvas que são transformadas em vinhos que são a base para os espumantes (ou seja, vinhos que serão refermentados) precisam ter acidez mais elevada do que as uvas que serão tranformadas em vinhos tranquilos, assim é normal que a colheita dessas uvas seja feita antes das demais.
Como explicou o enólogo, o tempo frio - embora acentuado na medida para o descanso anual da parreiras - terminou antes, e a subida das temperaturas fez com que o ciclo de brotação, floração,  crescimento e amadurecimento se adiantasse.
Mas cabe aqui uma explicação final: das centenas de cooperados da Aurora, apenas alguns deles (marcadamente do Vale Aurora, uma bela região de Bento Gonçalves) começaram a colheita. Cada pequena região evolui de uma forma diferente e em momentos diferentes.
De qualquer forma, bem vinda safra 2013! Que tenhamos excelentes vinhos!






domingo, 16 de dezembro de 2012

Mendoza!!! - Parte 1


Há anos eu desejava conhecer Mendoza, é um desses lugares que o enófilo que se diz 'sério' precisa conhecer, no meu entender.
As argentinos são aqueles vizinhos que admiramos e invejamos ao mesmo tempo, e suspeito que a recíproca seja verdadeira. Assuntos de futebol à parte (porque também ninguém quer comprar essa rivalidade em sã consciência), as praias daqui, a neve de lá, o carnaval daqui, o tango de lá, são deliciosamente complementares e indo mais além, São Paulo em seus bons dias é uma pequena Nova Iorque e Buenos Aires tem aquele ar de Europa que ninguém consegue negar. Nossos governos são irmanamente ineficazes, nossas ditaduras foram perigosamente semelhantes e na fronteira são todos gaúchos, de vinho, carne e bombacha, aqui e lá!
Assim, tendo estado na Argentina várias vezes mas nunca em Mendoza, imaginem como estava a minha ansiedade para ir participar do concurso Malbec al Mundo, como jurada, convidada por Ricardo Godoy, presidente da APEAA (Associação dos Profissionais de Enologia e Alimentos da Argentina).
Claro que nem sempre as coisas acontecem com nós queremos e a greve geral na Argentina aconteceu exatamente no que seria meu primeiro dia de viagem, portanto tive que ir um dia depois, e perdi o começo do evento. Mas é preciso se adaptar e entender que o povo argentino é muito melhor de protestos do que nós. Eles efetivamente pararam o país por um dia. Tem seu valor!
Chegar lá também não é fácil. É preciso voar até Buenos Aires (ou até Santiago do Chile) e esperar por um bom tempo (no meu caso mais de 6 horas) pelo vôo de conexão para Mendoza. A cidade fica no norte do país, bem mais perto de Santiago (por estar do outro lado da Cordilheira) do que de Buenos Aires.
Mas cheguei, num final de tarde lindo como o da foto abaixo na praça central, cansada mas feliz por estar na cidade pela primeira vez.


Chegar em outro país é sempre interessante, ao menos para mim que sou uma apaixonada por lugares diferentes, ainda mais se esses lugares forem produtores de vinho (risos). Mas Mendoza tem uma coisa muito distinta: é um oásis num deserto pedregoso, excessivamente quente e igualmente gelado, e é só por conta das nascentes e da água de degelo da Cordilheira dos Andes que a cidade cresce e se mantêm verde. No entanto, basta sair por apenas alguns quilómetros para fora da cidade, em áreas não irrigadas, para se perceber que deserto é aquilo.
Na foto abaixo se vê uma das calhas de irrigação que correm pela cidade e pelo campo. Elas são vitais para a economia local.

A mão humana (e seu poder transformador) fez toda a diferença. Fica bem claro a razão dela (a ação do homem) ter sido incluída na moderna definição de 'terroir'.
Logo após chegar, tivemos (o grupo de jurados internacionais, que incluia também o enólogo Luciano Vian, diretor técnico da Don Giovanni em Pinto Bandeira) um jantar com visita na central da Bodega Trapiche (foto abaixo).


A vinícola é histórica e pertence a um dos grupos mais poderosos de produtores argentinos. A estrutura para receber turistas é muito boa e a vinícola (se vocês repararem na foto acima) parece uma estação de trem. E era, de certa forma. A linha férrea passava dentro da propriedade e de uma sala hoje utilizada como sala de eventos, com piso de madeira de ipê brasileiro e enormes portas duplas, as barricas de vinho eram roladas e embarcadas nos vagões, para serem distribuídas pelo país. Ainda é possível ver toda essa estrutura, bem preservada e bela.
Na foto abaixo fica a mesa onde jantamos, com o piso de vidro que deixa ver a sala de barricas onde amadurecem os vinhos mais especiais.


O agradável jantar foi seguido do merecido descanso (eu estava acordada há 22 horas já, por conta dos horários malucos dos vôos) para no dia seguinte juntar-me ao grupo de degustadores.
O concurso foi realizado num local chamado de Nave Cultural, uma antiga estrutura industrial de galpões contínuos que foi remodelada e transformada num moderno espaço de eventos, exposições, auditório e café.
Os três dias de degustações (dos quais eu participei de dois) aconteceram lá.



A mesa onde eu estava alocada foi presidida num dos dias pelo enólogo Mariano di Paolo (foto acima), diretor técnico da Rutini Wines, velha conhecida de nós brasileiros.
Confesso que estava numa mesa de 'feras' onde a única pessoa não formada em enologia era eu. Mas degustar é, também, técnica e como toda a degustação seguia os ditames da OIV (Organização Internacional da Uva e do Vinho) e eu já havia sido jurada aqui no Brasil e na Itália seguindo esses preceitos, as coisas vão ficando mais fáceis de seguir.
Na metade da degustação ocorre uma parada para descanso, e como as chuvas na região são esparsas, o café era servido na área externa, junto ao jardim. E como tantos outros, eu também não resisti a fotografar a mobília externa que, além de bonita, era confortável.


Ao final das degustações do dia, nosso grupo era levado para almoçar e visitar uma vinícola. Nesse meu primeiro dia saímos da cidade em direção a região de Luján de Cuyo, para conhecer a Bodega Calle. Pequena e acolhedora, ela é dirigida por argentinos, mas uma parte de seu capital é americano e por conta disso muito de sua produção é diretamente exportado. O enólogo, Sérgio Montiel, é muito jovem e seria, no dia seguinte, o presidente da mesa onde eu estava degustando.


A fachada discreta da vinícola não dá a entender que essa seja mais do que uma casa antiga bem conservada. Toda a estrutura da vinícola está num galpão ao lado, discretamente protegido por um muro alto e tudo que se vê de fora é uma calma casa senhorial.


Sob o calor de mais de 30 graus, fomos recebidos por uma equipe atenciosa, num local fresco e bem cuidado e, principalmente, com uma deliciosa taça do branco Torrontés, gelado e perfumado, que rapidamente afastou o calor do dia.
Em seguida, enquanto nos apresentávamos aos anfitrões, as empanadas de carne, quentes e macias foram servidas, além de pequenos sanduíches de presunto tipo Parma em pão de miga. Percebendo nossa fome, o garçon nos seguiu pela visita às intalações, com sua cesta de delícias. Cada um de nós levava sua própria taça, num passeio descontraído e relaxante.


A mesa posta era linda em sua simplicidade. Como decoração apenas folhas de parreira em potes brancos e a beleza da sala antiga que se abria para o vinhedo ensolarado.


O cardápio foi Mendocino: carnes, é claro, com saladas, pão e empanadas para acompanhar. Isso tudo com a linha completa de vinhos da Calle à disposição.


Na volta para a cidade, alguns dormiam na van, depois do lauto almoço e dos vinhos ingeridos em significativa quantidade.
Eu, que não durmo à tarde de maneira nenhuma, aproveitei para absorver a paisagem nova. Árida, é bem verdade, mas de uma beleza rústica, terrosa e bem menos rural do que eu imaginava.
Verdade seja dita, Mendoza é uma cidade com mais de um milhão de habitantes, o que a deixa longe de ser uma cidade interiorana, mesmo estando a mais de 500 km de distância da capital do país.


A programação da noite incluiu uma visita à Bodega Familia Zuccardi. Seu centro de recebimento de visitantes recebe, por ano, quase o mesmo número de turistas que o Vale do Vinhedos inteiro, ou seja, mais de 100 mil pessoas.
É um lugar lindo, com loja, restaurante, bar, uma belíssima área externa com mesas sob as parreiras e outros luxos.

Nosso grupo nesse jantar era um pouco maior, com a presença do presidente da associação do enólogos, Ricardo Godoy, a presidente do concurso, Maria Alejandra e a presidente da OIV, a enóloga Claudia Quini, que é argentina mas tem dividido seu tempo entre Mendoza e Paris, onde fica a sede da OIV.
Nesse jantar fomos recebidos pelo presidente da empresa, José Alberto Zuccardi, que herdou de seu pai a vinícola e tem passado uma boa parte dela para seus três filhos. Um deles, inclusive, é apaixonado por azeites, e fez desse mais um dos negócios do grupo.
Em nossa mesa de jantar, quatro tipos de azeites produzidos na região eram servidos (e degustados) por um orgulhoso pai (na foto abaixo, atrás das garrafas).





Elegante e muito bem servido, o jantar foi a autêntica parrilla argentina, com todos os tipos de carne, legumes grelhados, saladas, empanadas e uma enorme sequência de vinhos.
Um jantar inesquecível, mas que muitos dos convidados (eu inclusive) preferíamos que tivesse sido um almoço, pois toda aquela deliciosa comida acabou sendo excessiva para o jantar.



Fato é que a simpatia de José Alberto (ao fundo na foto abaixo), as boas conversas, a qualidade da comida do parrilleiro (foto acima), acabaram por fazer com que todos nós comêssemos mais do que deveríamos e nada mais há para culpar do que os anfitriões excelentes que são os Zuccardi.


Como a história é longa e esta postagem já está comprida demais, amanhã conto mais...
A propósito, na foto acima está o 'Soleira', o vinho de sobremesa dos Zuccardi, feito com uvas Torrontés no mesmo método de solera dos maravilhos Jerez espanhóis. Ainda não estão no Brasil, mas quem sabe a Ravin (importadora da Zuccardi) traz também. Esse vinho pertence à conhecida linha dos vinhos de sobremesa deles, a Malamado.
Hasta pronto!



quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Nem só de vinho...





Eu gosto de cerveja e lendo, dias atrás, o blog do enólogo Adolfo Lona (Vinho sem Frescuras, o link está na barra ao lado), descobri que os vinhateiros são discriminados por beberem cerveja (e olha que eles bebem hein!!).
Mas peraí...depois da água e do leite de mãe, são as duas bebidas mais antigas da humanidade, dois fermentados de base absolutamente natural, com 5 mil anos de história nas mesas dos humanos.
E como preconceito para mim é um lixo tóxico, resolvi reforçar minha posição de apreciadora de (boas) cervejas, divulgando aqui o evento de um grupo de amigos que, além de apreciadores de bons vinhos nacionais, estão se tornando grandes conhecedores de cervejas artesanais.
É o 'Boteco dos Chefs', um evento que vai acontecer no próximo sábado - dia 15 -, na Estância Viamonte, pertinho de Porto Alegre.
Para quem não sabe, o Rio Grande do Sul é, há mais de uma década já, produtor de excelentes cervejas artesanais, e esse grupo prestigia não apenas essa produção como também a comida de boteco, feita com maestria e ingredientes de primeira.
É um 'pé-sujo carioca' de alma, mas com o apreço que os bons chefs costumam aplicar àquilo que, eles mesmos, gostam de comer. E quem há de resistir à boa comida de boteco?
Lisandro, o hoteleiro responsável pela Estância Viamonte ao lado do chef Zé Luiz (que muitos conhecem do programa da tv Bandeirantes 'Um Gordo na Cozinha'), me contou como foi a primeira edição do evento (que aconteceu dia 24 de novembro), original em forma e conteúdo: "Os três chefs dividiram suas inspirações em sete rodadas, todas harmonizados com cervejas diferenciadas da micro-cervejaria Rasen Bier de Gramado e da Amazon Beer de Belém do Pará. Os convidados contaram também, além dos pratos especiais, com um buffet com mais de 20 petiscos que ficaram a disposição até o inicio da Roda de Samba, que começou às 16h.
O ponto de encontro, juntamente com a primeira e a segunda rodadas das Comidinhas de Boteco, foi no restaurante “a Cantina” que trabalha exclusivamente com carnes exóticas na zona sul de Porto Alegre. Os proprietários ofereceram  Bolinho de Jacaré e Pastel de Capivara.
As demais rodadas já são realizadas na própria Estância Gourmet, e foram servidas as seguintes comidinhas de autor : Kibe, preparado pelo chef Fábio Camargo, Bolinho de Bacalhau e Copa na Cerveja Preta, preparado pelo chef José Luiz e ainda um Achadinho de Moranga com Charque e um Caldinho de Feijão produzido pelo chef Vini Lisboa."

Na foto abaixo o chef Vini Lisboa e o hoteleiro Lisandro Larréa (à direita), responsável pela organização e eventos da Estância Viamonte, uma das primeiras a implantar no Brasil o conceito de 'portas fechadas', onde os eventos são feitos com número certo de convidados e sob medida para atender as pessoas de maneira profissional mas mantendo o toque de informalidade.


Claro que tudo isso é favorecido pelo entorno da propriedade, uma fazenda com ares de agriturismo europeu, onde as pessoas se sentem mais do que 'clientes'.


Para o evento do dia 15 eu não sei se ainda há vagas, mas vale consultar através do link www.estanciagourmet.com. O ponto de encontro será às 12h no mesmo restaurante de carnes exóticas, embora o restante do programa mude um pouco, bem como as cervejas artesanais que farão a harmonização do dia.

Quem puder ir, aproveite! Afinal, está na hora de começar a tirar o pé do acelerador para o final de ano, de dar um tempo para as pilsens genéricas que abundam nas prateleiras dos supermercados e de ser tratado, como disse um dos participantes do evento do dia 15: "Com fidalguia e e espontaneidade", para terminar 2012 com delicadeza e graça (e no ritmo da roda de samba, claro!).