Colheita 2016

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quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Preocupações


Acredito que mesmo quem não é de São Paulo deve estar acompanhando a onda de violência que está tomando conta da cidade onde vivo.
Para ser bem correta, fico em dúvida se essa onda desgraçada nunca diminuiu e a mídia apenas deixou de falar no final do ano para não comprometer as compras e o 'espírito' natalino.
Mas vamos lá: São Paulo sempre foi uma cidade perigosa, isso não é novidade. Trinta anos atrás, quando eu era adolescente e comecei a estudar no centro da cidade, a maior preocupação de meus pais (e minha também) era poder voltar em segurança para casa utilizando o transporte público e andando por zonas notadamente complicadas da cidade.
Daí em diante sempre 'fiquei esperta'. Trabalhei e dirigi de madrugada durante mais de uma década e, confesso, conto nos dedos de uma mão as vezes que me senti ameaçada nesses tempos. Atenta, mas nunca com medo. A cidade, grande, enorme, parecia sob controle nas zonas não periféricas e de pobreza extrema da capital.
Como sabem, sou jornalista, assim em meu caminho as drogas sempre estiveram, desde os tempos de colégio. Nunca fui usuária, nem eventual. Nunca precisei de drogas para nada e nem tive curiosidade, pois observava os efeitos em alguns conhecidos e não achava que aquilo fosse 'bacana'.
Mas o objetivo aqui não é fazer apologia da 'caretice'. O meu objetivo é lançar um questionamento em razão do que tenho visto pelas ruas. E nem vou tocar no gravíssimo problema da cracolândia, que (infelizmente) destrói seus usuários com rapidez impressionante.
Dirijo aproximadamente 50 quilómetros para ir e voltar para a redação da revista onde atuo. É um caminho conhecido pela Marginal do Pinheiros, cruzando zonas consideradas nobres de SP. No entanto, tenho observado nos dias de calor, quando as pessoas dirigem de janelas abertas, que muitos motoristas estão conduzindo seus carros enquanto fumam cigarros de maconha. Em plena luz do dia.
Sim, isso mesmo. Esse fato começou a chamar a minha atenção há uns 3/4 meses.
Em paralelo vejo nas redes sociais apologias discretas ao consumo, dizendo que isso não é nada, que não causa problemas.
De novo, não vou entrar na 'caretice', mas tenho que perguntar: maconha não altera a atividade cerebral das pessoas? Não 'dá barato'? Meu pouco conhecimento de farmacologia me informa que sim, pois se não desse barato ninguém usaria, certo? E nem seria chamada de 'droga'.
(Um parêntese: se eu for pega fumando maconha e dirigindo meu carro, nada me acontece. Eu seria usuária e por isso não levaria nada mais que 'um pito' de um policial. Mas se eu for pega depois de tomar uma taça de vinho, pago multa de quase dois mil reais e perco o direito de dirigir por um ano, tendo que me submeter à reciclagem depois disso. Vamos falar de dois pesos e duas medidas?)
O que, parece-me, a maioria das pessoas não percebe é que seu consumo 'eventual' de uma 'maconha recreativa' não apenas altera sua atividade cerebral, queima neurônios e 'blá-blá-blá', como também (e principalmente do meu ponto de vista) favorece o narcotráfico, que favorece a violência, que estimula os jovens (já sem opções por conta da falta de educação de base e lazer ou cultura) a entrarem numa atividade de lucro fácil, de 'entretenimento', onde se sentem 'poderosos' sobre os 'mauricinhos' dependentes das drogas.
É um caminho triste, esse que eu tenho observado, jovens e adultos em seus carros modernos e caros, circulando por regiões nobres, fumando seus cigarros de maconha no trânsito da cidade, completamente  alheios ao fato de que a criminalidade que tanto condenam e que os faz ter medo de ir para a balada (onde consomem mais drogas), seja causada por eles mesmos.
Do outro lado fico eu, observando isso tudo e com receio de ser pega em uma blitz e perder minha carteira por conta de ter participado de uma degustação de vinhos que (ironia das ironias) faz parte de meu 'ganha pão'.
Álcool também é droga, eu nunca me esqueço disso. Também altera a atividade cerebral e compromete nosso discernimento. Mas, bebidas alcoólicas são parte de uma indústria legal neste país, enquanto a produção e comercialização de drogas não é. E o consumo controlado de certos tipos de bebidas alcoólicas, em pequenas quantidades e por pessoas saudáveis, pode até diminuir o risco da ocorrência de algumas doenças.
Por outro lado, milhões de pessoas 'fumando um baseado' estão dando milhões de reais para um indústria de morte e destruição, que sustenta-se utilizando toda sorte de violência.
Até quando vamos fingir que não é conosco?Até que ponto podemos reclamar da violência sem perceber qual a nossa parte na geração dela? Até quando vamos eleger engraçadinhos que nada fazem pela educação, pela saúde, pela geração de emprego, deixando cada vez mais e mais pessoas à margem da sociedade? Até quando vamos achar que nossos erros são perdoáveis porque nós 'pagamos nossos impostos e contas em dia'?

Como disse no começo, este é um apenas um questionamento, uma indignação de quem vê sua cidade ser mal tratada por quem administra e por quem vive nela também, egoístas de ambos os lados.
Assim como são as mesmas pessoas que jogam lixo pela janela do carro as que reclamam das enchentes, que cortam árvores porque elas sujam os carros e depois dizem que não há 'permeabildade' no solo.

ACORDA GENTE! Nós também somos responsáveis por tudo isso.


Um comentário:

  1. Oi Silvia,
    Td bem?
    Qto tempo...como estão as coisas?
    Postei aqui minha mensagem pois seu email que eu tinha não está mais funcinando.

    Gostaria de participar de algum tipo de curso / aulas sobre degustação, etc...

    Tem alguma coisa para me indicar?

    bjos.

    Cassiano Whitaker Barreto
    cassiano@icepropaganda.com.br

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