Vejam só leitores, na taça ao lado está o melhor vinho do mundo! Como eu sei disso? Eu sei porque eu estou dizendo, porque eu sou uma "formadora de opinião premiada", "renomada jornalista", blogueira, sommeliére, bartender, degustadora e isso tudo me qualifica não apenas para lhe dizer que a taça ao lado é do melhor vinho do mundo como também para dizer que você deverá prová-lo e apreciá-lo, senão você está de fora do clubinho!
Entendeu?
E não interessa se ele custa 12 dinheiros e você tem uma ideia de que isso talvez seja "muito barato" para um vinho de alta qualidade ou - ao contrário - se ele custa 1.200 dinheiros (o que para a maioria das pessoas normais pode parecer demais para uma garrafa de vinho) e que você deve fazer tudo ao seu alcance (como genuíno apreciador de vinhos) para ter esse dinheiro, comprar essa garrafa e beber esse que é melhor vinho do mundo.
Sim, estou sendo irônica. Para garantir é melhor dizer que estou sendo MUITO irônica. Esta semana está difícil, entre a péssima frase "Vinho bom é o que você gosta" e a igualmente idiota "Este é o melhor vinho do mundo" fica um abismo muitas vezes preenchido por uma infinidade de bobagens que assolaram a mídia nos últimos dias.
Como alguém pode se advogar saber qual é o melhor vinho do mundo? Como alguém pode ter bebido todos os vinhos do mundo nas safras atuais e antigas e dizer que esse acima é um deles? Como alguém pode fazer uma prova (paga por importadores, frequentada por gente que só bebe de graça) e sair afirmando que os vinhos provados lá estão entre os 5/10/22 melhores vinhos do mundo?
É muita besteira minha gente! É achar que todo mundo é idiota e está disposto a pagar por isso.
É rir na cara de quem tenta trabalhar sério, estudar, conhecer, viajar, avaliar sem amarras. De quem tenta fazer melhor todos os dias para que a informação passada (apesar de sempre com um viés pessoal) seja a mais clara e objetiva possível.
Apenas nesta semana eu li uma pesquisa de um americano que faz vinhos e precisava arranjar uma maneira de justificar o fato das pessoas não gostarem de seus vinhos. Ele afirmava 'cientificamente' que os "melhores" degustadores do mundo não dão notas iguais para os mesmos vinhos nem mesmo numa mesma degustação. Mas ora...é claro que não. Vamos discutir gosto, paladar, a variação de uma garrafa para outra, a temperatura, a percepção, o embuste de colocar vários vinhos iguais numa prova onde as pessoas pensam que estão bebendo coisas diferentes?
Dizia um filósofo grego que um homem vai todos os dias ao rio buscar água para beber, para ele o homem que vai ao rio todos os dias não é o mesmo de ontem, assim com o rio que corre em sua frente não é mais o mesmo de ontem.
Mudar é natural e necessário. O movimento faz parte da vida, a alteração das escolhas faz parte de um ser em evolução. O conhecimento faz evoluir, seja o paladar sejam as células cerebrais.
Também ouvi uma pessoa da mais alta ineptitude dizer numa rede social que fazia assinaturas de graça de uma revista só para jogá-la fora e demonstrar 'seu descontentamento'. Não tenho palavras para alguém assim, e essa pessoa se considera um alto conhecer dos meandros da imprensa.
Por fim, vejo informação comprada aos montes (e por muitos dinheiros) sendo passada adiante como se fosse verdade universal, vindo da boca de 'renomados' fulanos, 'reconhecidos' ciclanos, 'importantes' beltranos, além das fontes 'oficiais'. Informação que chega às pessoas que não têm como saber da veracidade de tudo isso, e que a única coisa que podem fazer é tentar acreditar naqueles que 'se dizem' da imprensa.
Imprensa essa de amigos bem pagos, de inimigos bem conhecidos, de vendidos inomináveis que tentam andar ao sabor da maré, sorrindo hoje, apunhalando amanhã e levatando a taça e dizendo: "Bebam! Este é o melhor vinho do mundo".
Que gente bouchonée...
sexta-feira, 5 de julho de 2013
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Silvia... Li uma matéria na "Adega" hoje e fiquei apaixonado por você (Gosto se discute!). Um primor de texto. Então resolvi conhecê-la melhor e cheguei até aqui.
ResponderExcluirVocê escreve muitíssimo bem. E metido que sou, estou me permitindo essa afronta. Ali em cima li
"Seja bem vindo! E que nunca nos falte o pão, o vinho e a saúde e alegria para compartilhar!"
e fiquei pensando: - Qual o porquê do "bem vindo" sem hífen?
Parabéns! Grande beijo.
Obrigado pelas palavras M4R.
ExcluirE a razão da falta de hífen é um computador da Apple com um corretor da Zâmbia ou da China, acho...
Vou tentar corrigir, pois confesso que não tinha reparado.
Abraço,
Excelente seu texto...Eu sinceramente rio desses grupos de pessoas denominados "intelectuais "que não passam simplesmente de pessoas que necessitam de atenção para se sentirem melhores.
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