Eu entendo que o paraíso é uma criação particular. Eu, por exemplo, gosto mais de frio do que de calor, então a minha visão de paraíso é um local menos tropical do que o sonho da maioria das pessoas. Eu prefiro montanhas do que planícies, prefiro árvores do que areia. Cada um com seus sonhos, certo?
Mas acabei de descobrir um local que é um verdadeiro jardim das delícias para o meu gosto (e pelo sucesso do empreendimento, não devo ser a única a pensar assim, talvez esse paraíso seja até mais coletivo do que eu imaginava). É o Wine Garden que fica na propriedade da Vinícola Miolo no coração do Vale dos Vinhedos (RS).
As sócias (Morgana Miolo e Gabriela Jornada) viajavam pelo mundo do vinho a trabalho e por prazer e numa dessas viagens se depararam com um espaço que vendia vinhos e que as encantou: "Começamos a amadurecer a ideia e pensar no que faria diferença no enoturismo do Vale dos Vinhedos, pois já havia várias coisas e não seria viável fazer mais do mesmo", explica Morgana (foto abaixo).
Para chegar ao formato que criaram, elas se colocaram no lugar de turistas e pensaram em como gostariam de vivenciar o vinho de uma maneira menor formal "tirando a gravata' como afirma Morgana. E aproveitando o grande fluxo de turistas que a Miolo já recebe todos os dias, surgiu a ideia de aproveitar o bem cuidado jardim da propriedade.
O Wine Garden foi inaugurado oficialmente no Carnaval de 2015 com a aprovação do conselho da empresa e depois de muito trabalho para montar uma estrutura que fosse complementar à paisagem e que acomodasse as necessidades de uma pequena produção culinária aliada ao conforto.
Levou um ano para que eu conseguisse ir até lá visitar e fiquei feliz em ver o sucesso que ele se tornou.
Quem viaja pelo mundo do vinho sabe como as vinícolas sabem aproveitar sua paisagem, sua estrutura para fazer o negócio de vender vinho se multiplicar.
Isso, no Brasil, ainda é raro. No máximo o que as vinícolas conseguem é ter um restaurante e muitos deles só abrem para grupos.Com isso o visitante passeia pela estrutura da vinícola e vai na loja, mas se estiver num local bonito, com bela paisagem natural à sua volta, ele não tem como aproveitá-la mais.
É por isso que o Wine Garden ganha cada vez mais visitantes não apenas turistas, mas muitos residentes e colegas vinhateiros que chegam para aproveitar o espaço. É bom para quem tem filhos, pois as crianças podem brincar no gramado e nos brinquedos à disposição, excelente para casais que querem ficar juntinhos nos tapetes, para empresas que querem fazer eventos fechados e apenas para relaxar e tomar uma taça de vinho.
No pequeno cardápio, pães artesanais, bruschettas, queijos e frios montados com capricho. Geléias da região, suco de uva integral e, é claro, vinhos e espumantes.
Morgana conta que os espumantes são campeões em venda, especialmente o rosé, mas que o fato de venderem em taça o vinho ícone da família (Miolo Lote 43), faz desse tinto elegante e encorpado um dos mais vendidos do espaço.
Para quem não sabe, o nome do vinho é uma homenagem ao lote recebido pela família Miolo quando chegou ao Brasil no final do século XIX. A região foi dividida em lotes e à eles coube o de número 43, que é uma parte de onde está a vinícola e o jardim. Tomar um vinho onde as uvas foram cultivadas, onde ele fermentou e amadureceu, é um luxo que qualquer enófilo aprecia.
O único senão do Wine Garden é precisamente sua condição física: ao ar livre. O tempo instável da região faz com que em muitos dias o espaço não possa ser montado. Por isso é bom consultar a página deles no facebook para saber se vai funcionar ou não. Mas uma coisa é certa, se estiver pela região é um passeio obrigatório!
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016
Ecomuseu Dal Pizzol em Faria Lemos (RS)
Uma vez que eu me sinto uma paulistana com a alma itinerante (que neste época do ano prefere estar na Serra Gaúcha) vou responder a uma pergunta que sempre me fazem: Quais são meus lugares preferidos na Serra?
Pois bem, um dos principais é o Ecomuseu da Vinícola Dal Pizzol, no distrito de Faria Lemos - que pertence a Rota das Cantinas Históricas. E como já escrevi várias vezes sobre esse lugar, pedi para a amiga Paula Brum (gauchíssima advogada e viajante apaixonada) a licença para colocar o link (abaixo) de sua visita ao local. Estávamos juntas, num grupo de jornalistas, e eu adorei o olhar dela sobre esse lugar que tanto me apaixona.
Espero que vocês aproveitem e façam o possível para ir lá conhecer!
http://www.mochilinhagaucha.com.br/2016/02/vinicola-e-ecomuseu-dal-pizzol-vinhedo.html
P.S.: Abaixo o link do meu texto, escrito para este blog em 2011, quando foi feita a primeira colheita no 'Vinhedos do Mundo' da Dal Pizzol, pra quem quiser saber mais.
http://vinhoverdeamarelo.blogspot.com.br/2011/02/vinhedo-do-mundo.html
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016
Vinho e Preconceito
Vinho e Preconceito
Sou fã confessa da escritora inglesa Jane Austen, que morreu em 1817 e deixou livros que - embora classificados como romances - são um testemunho (e uma crítica) da sociedade inglesa de sua época.
Uma das minhas obras preferidas é 'Orgulho e Preconceito', de 1813, onde a Srta. Elizabeth Bennet, segunda filha de uma familia numerosa e pouco influente, divide-se entre a atração e o orgulho (orgulho no sentido negativo da palavra) pelo influente e nobre Sr. Darcy. Ele, por sua vez, também sente-se atraído pela jovem Elizabeth, mas é atormentado pelo preconceito que sente pelos modos da família da jovem. Os dois sentimentos se intercalam e mudam de personagem conforme a trama do livro avança.
Orgulho e Preconceito são matéria corrente no mundo do vinho. Não apenas no Brasil, estejam certos. Suspeito até que existem em todas as partes, mas por motivos diferentes.
Nos países mais tradicionais, há preconceito das empresas mais velhas com as mais jovens, há arrogância de achar que porque fazem há mais tempo, fazem melhor. Nos países bem sucedidos do novo mundo há preconceito contra quem produz grandes volumes, contra as cooperativas (na Europa isso existe mas é mais discreto) e contra os pequenos produtores que atuam sós. O que todos parecem ter é um orgulho excludente, ao achar que o que fazem em suas caves é cantinas é o melhor produto e - por consequência - o que qualquer outro produtor faz é ruim.
Já o consumidor, principalmente o europeu, quer variedade, preço e - quando tem maior poder de compra - qualidade superior e elegância. Não interessa de onde vem. Pequeno, grande, nativo ou estrangeiro. O que é bom é bom. E ponto.
O 'bullying' com o vinho brasileiro
Nada é fácil neste país, não é mesmo? Apenas a vida dos políticos, ao que tudo tem indicado historicamente.
Orgulho, arrogância, preconceito e 'bullying' (palavra inglesa que significa usar a força física ou a intimidação psicológica para fazer com que alguém faça o que desejamos ou se comporte como desejamos) são matéria presente seja na produção de vinhos no Brasil ou no seu consumo.
O que me preocupa mais é o último. Concorrência entre empresas, produtores, importadores ou vendedores é brutal e, de certa forma, natural. O que não é bom para eles - preciso salientar - é que sejam menos capazes de buscar soluções conjuntas do que seria necessário num país que consome menos de 2 litros de vinho por pessoa ao ano. Mas essa é outra questão.
Meu ponto é o consumidor, ignorante ou enófilo, viajado ou residente, rico ou pobre que bebe procedência (o país de onde vem o vinho), propaganda e nome de uva. Em geral é esse personagem que profere frases como: "vinho brasileiro não presta", "o Brasil não tem terroir para produzir vinhos bons", "o Brasil copia mal o que se faz lá fora e vende isso caro", "só bebo se for estrangeiro". E por aí vai. Quem trabalha com vinho (brasileiro ou não) já escutou ao menos uma dessas.
O que está por trás desses comentários é um conjunto de fatores atuais e históricos. Os atuais são que o preço do vinho brasileiro ainda é caro em comparação com os do mercosul (e as raízes disso são políticas e econômicas, e não apenas do Brasil, mas de nossos principais concorrentes cuja produção de vinhos recebe incentivo de seus governantes, na direção oposta do que acontece no Brasil) e que o brasileiro recebe influências deleutérias da globalização e da publicidade estrangeira.
Isso sem contar que muitos brasileiros se sentem superiores ao falar mal do Brasil e bem de outras nações, achando que os produtos que vem dessas nações não são também frutos de bem estruturadas campanhas de marketing e que ele é a parte viva de uma ação que deu certo.
Por outro lado, o produtor brasileiro - muitos deles, infelizmente - parece não acreditar em publicidade séria, em ações contundentes de marketing, em mudanças de posicionamento. Ao agirem assim passam a imagem de que não acreditam que o próprio vinho tenha condição de competir com os outros e isso os atrasa.
Os fatores históricos dizem respeito ao fato de que 'história' no Brasil é matéria 'chata' e corrompida por tudo que não se pode falar ao longo dos anos de repressão, e que tudo que nos valoriza de alguma forma é apresentado no formato do 'bobo alegre' que - no final das contas - perde o mérito pela pobreza da execução.
O brasileiro não sabe (e isso é mais ignorância do que culpa específica) da nova realidade dos vinhos brasileiros. O brasileiro não foi convidado para essa festa regada a espumantes, brancos, rosés e tintos que exaltam nossas qualidades, nosso trabalho, o aprendizado de décadas e gerações, a tecnologia que o mundo todo utiliza e nós também, as pesquisas que seguem sendo feitas em Champagne e em Garibaldi, na Toscana e no Alto São Francisco.
O brasileiro não tem como se orgulhar de uma história que não lhe foi mostrada, de uma realidade não compartilhada. Mas ele poderia - ao menos - ter a humildade de tentar conhecê-la antes de ventilar seus preconceitos, de vociferar suas opiniões unipartidárias.
O mundo do vinho é múltiplo. Sempre. Tem para todos os bolsos, para todos os gostos e para todos os momentos. Quem gosta mesmo de vinhos não tem preconceito, não bebe 'preço', 'procedência' ou uva. Isso vai de encontro à própria natureza da produção, que precisa se curvar aos caprichos do tempo. Uma safra excelente, outra mediana, outra fraca. Se o 'gosto' das pessoas fosse assim "sério", cada vinho 'maravilhoso' feito numa safra ruim nunca mais seria provado.
É orgulho de ser bobo, é preconceito consigo mesmo, é bullying com quem faz e com quem vende. É vergonha de provar algo novo e ter que engolir a língua por ter falado mal.
É ignorância, e é triste.
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