Colheita 2016

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terça-feira, 19 de junho de 2012

Não existem 'acasos'...

Muitos de vocês devem estar estranhando a minha ausência e tenho vários motivos para ela, mas um deles se encerra com a postagem de hoje: como este é um blog que se dedica mais aos vinhos brasileiros do que a qualquer outra coisa, eu andava um pouco constrangida por colocar somente coisas que vi e provei na Itália.
Mas hoje, felizmente, eu consigo quebrar esse ciclo por conta de uma viagem/passeio rápido que fiz ao Rio Grande do Sul no último final de semana.
Fora alguns compromissos pré-agendados, eu tive um tempo para passear e fui jantar num lugar adoro, o Valle Rústico, sobre o qual falarei na postagem seguinte. E durante o jantar lá pedi uma garrafa do Tannat 2007 da Don Laurindo.
No dia seguinte, passeando pelo Vale dos Vinhedos, resolvi ir até a vinícola para comprar uma garrafa e trazer para São Paulo.
Ao chegar perguntei pelo enólogo Ademir Brandelli, pessoa que admiro e aprecio e daí as coisas começaram a acontecer.
Para quem nunca esteve na Don Laurindo (a vinícola tem o nome do pai de Ademir, que está agora com 81 anos e ainda caminha pelos vinhedos e dá pitacos nos vinhos) a visita é imperdível. A cantina que não é muito grande tem uma das reservas técnicas mais bacanas que eu conheço, até porque é possível ao menos conhecê-la, diferentemente de outras às quais não se tem acesso.


Uma reserva técnica é um 'arquivo' de vinhos de todas as safras já produzidas, que serve para os enólogos irem - ao longo do tempo - provando os vinhos e observando sua evolução. A enorme maioria desses vinhos não estão mais à venda, claro.
Mas Ademir Brandelli, apreciador confesso de vinhos evoluídos, faz degustações frequentemente e - o que é melhor - volta e meia resolve abrir as grades que 'aprisionam' suas preciosidades e libertar um vinho na presença de alguns amigos.
Desta vez eu tive a imensa sorte de estar lá.
E não apenas eu. Enquanto Ademir nos mostrava algumas garrafas raras, como as primeiras safras de seus vinhos, ainda com rótulos datilografados, uma pessoa que fazia parte de um grupo de turistas do Rio de Janeiro se aproximou. Como só era de se esperar, Henrique - o turista - não era tão turista assim. Profissional da comunicação da enogastronomia, ele se integrou ao grupo em minutos, bem como sua esposa e o casal de amigos com os quais viajavam.
Ademir então, vendo que as pessoas estavam francamente impressionadas por sua coleção de vinhos, me pediu que escolhesse uma garrafa para ser aberta naquele momento.
O que escolher? Tive que limitar minha vontade de escolher logo umas quatro ou cinco garrafas e fiz o seguinte raciocínio: eu vim comprar um Tannat, portanto vou pensar numa garrafa antiga da mesma uva, assim acabei escolhendo o Tannat 1996, ano de meu casamento.
Nesse ponto havia uma franca excitação entre as pessoas, apreciadores de vinhos claro, mas que pouco sabiam do potencial de envelhecimento de alguns de nossos produtos.
Aliás, para os que até hoje pensam que o vinho brasileiro é apenas o vinho jovem e leve, vai uma provocação: você está enganado. Os vinhos brasileiros (claro que não todos e nem se pode generalizar nesse assunto) quando bem feitos e de safras interessantes, têm excelente potencial de envelhecimento (até mesmo os brancos e os espumantes de método tradicional).
De qualquer forma, Ademir - enquanto abria a garrafa - resolveu avisar aos 'convidados' para que estivessem preparados para encontrar um vinho diferente, evoluído em cor e paladar, mas ainda assim fresco e saboroso. Aliás, a vinícola Don Laurindo foi a primeira vinícola brasileira a trabalhar com essa variedade, em 1995.


Confesso que não sei o que se passava pela cabeça dele nesse momento, pois cada garrafa aberta pode ser uma boa ou uma má surpresa para todos, com qualquer tipo de vinho e em qualquer lugar do mundo. Mas eu sei que eu estava bem ansiosa.


O vinho, no entanto, estava perfeito, íntegro, saboroso, amaciado pelos quase 16 anos de idade, mas igualmente poderoso e vivo. Os companheiros desse momento especial pareciam impressionados e os goles que a princípio eram pequenos e discretos foram ficando maiores, dada a grandeza do vinho. A garrafa se esvaiu com razoável rapidez e a foto abaixo mostra o grupo todo de taças nas mãos.

Por essa ocasião especial, pelo vinho, pela generosidade de Ademir e pela alegria dos convivas, sou extremamente grata!
Encerro esta postagem com uma imagem que fiz no vinhedo da uva Merlot, ao sair da vinícola, quando os trabalhadores amarravam os galhos já para a próxima estação.
Notem que as folhas estão mais secas do que o habitual nesta época (quando estariam amareladas) por conta da geada e do frio intenso de 10 dias atrás.

Boa semana e bons brindes! Estou de volta!

Um comentário:

  1. Bah!!! lembro de uma ocasião nos idos de 99 que tive a oportunidade de degustar um gran reserva da Don Laurindo....e era o Ademir Brandelli apresentando os vinhos na ocasião...impressionante esses gringos.. o nome é trabalho e o sobrenome é hora extra...
    saludos
    Zzé

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