Colheita 2016

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Seja bem-vindo! E que nunca nos falte o pão, o vinho e a saúde e alegria para compartilhar!

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Expovinis 2012 - último dia

Acabou ontem a 16a edição da Expovinis, maior feira da vinhos da América Latina.
Neste ano, confesso, desejei que a feira tivesse um dia a mais, pois o trabalho foi grande e o tempo escasso...
Deixei de falar com muitas pessoas com as quais queria ter falado, de provar novidades que queria ter provado e deixei de circular para ver o que estavam fazendo os outros expositores.
Mas enfim, para mim ao menos a feira foi muito interessante e achei que os brasileiros se apresentaram bem – embora em menor número do que no ano passado – e que trouxeram muitos produtos de excelente qualidade!
Cheguei cedo, então as duas fotos abaixo mostram corredores mais transitáveis e também os estandes de pequenos produtores que vieram para a feira pela primeira vez, como a Antonio Dias (do alto rio Uruguai, com seu impecável Chardonnay) e a Larentis (do Vale dos Vinhedos, com um surpreendente Pinotage).

No meio do caminho tinha um elfo. Tinha um elfo no meio do caminho (ou duende, como quiser). Era uma promoção da importadora Cantu, com o vinho Herú da Ventisquero, um Syrah muito gostoso que leva o nome de um dos seres elementares que vivem no Chile (eu digo que nessa feira tem de tudo).
Provei também os vinhos da Vinícola Hiragami de Santa Catarina, cujos vinhedos são os mais altos do Brasil, e estavam sendo apresentados pelo proprietário Fumio Hiragami, importante fruticultor de São Joaquim...
 ...e os da Vinícola Santa Augusta, da cidade de Videira, apresentados pela Taline de Nardi, uma das proprietárias...
 ...depois de uma agradável entrevista com Leônidas Ferraz, presidente da Acavitis, provei a novidade de sua vinícola – a Monte Agudo –, o espumante Sinfonia, um rosé delicado e convidativo...
 ...e fui também provar os lançamentos da Salton, como o espumante Gerações, edição limitadíssima em homenagem ao patriarca da família que imigrou da Itália, Domenico Salton. Um corte (e método) tradicional com partes iguais de Chardonnay e Pinot Noir...
 ...junto comigo estava meu pai, bem feliz em meio às taças e aos vinhos que ele me ensinou a conhecer e respeitar...
...e quase no final do dia fomos até o movimentadíssimo estande da VCT (Viña Concha y Toro), onde a enóloga Alejandra nos serviu várias delícias, como as duas últimas safras do Don Melchor (2007 e 2008) e dois varietais da linha Marques de Casa Concha.
Para quem vê de fora pode parecer muito, mas a verdade é que entre os 400 expositores da feira eu visitei menos de 30, o que é pouco para alguém que é do mundo do vinho.
Mas o bom desse meio é que os vinhos estão aí, à nossa espera, prontos para serem descobertos.
Bom final de semana e bons goles para todos!

quinta-feira, 26 de abril de 2012

"La Revancha del Vino"

Esta postagem tem trilha sonora e ela é da banda Gotan Project, um grupo que inclui um suiço, um francês e um argentino, entre outros convidados de variadas nações. Eles foram os responsáveis por trazer o tango para a modernidade e seu primeiro disco (ainda em LP), de 2001, fez e ainda faz um tremendo sucesso. O nome do disco é "La Revancha del Tango" e o vídeo acima é uma das faixas, chamada 'Chunga's Revenge', uma homenagem ao álbum de 1970 de Frank Zappa.
A versão deles é um tango eletrônico onde são falados nomes de importantes personagens da música, entre eles Astor Piazzola e o próprio Frank Zappa.
Escolhi abrir esta postagem com esse vídeo para falar do dia de ontem na Expovinis e para fazer uma ligeira paródia com essa música, por isso peço que a escutem primeiro e depois leiam a minha brincadeira.
"Galvão, André e Rosana, Tapia, Viny e Toninho, Francisco, Christian e Miguel, es la revancha del vino!
Cândido, Pizzol e Larentis, Salvador, Dunamis e Sanjo, Pizzato, Valduga e Augusta, es la revancha del vino!"

 Teve de tudo ontem na Expovinis, perfomance no estande da Dunamis, onde um bartender free style preparou coquetéis com vinho ao som de música de balada...
 ...encontro com ex-aluna e a família da Don Guerino reunida (Salete e os dois filhos)...
 ...lançamento de espumante brut com ouro 23k dentro, na Domno...
 ...encontro de gerações e enólogos na Aurora (Flávio Zílio, André Peres Júnior e André Peres pai e Alem Guerra)...
 ...encontro com novos vinhos de Álvaro Cézar Galvão e Franco Perini com as linhas Arbo e Fração Única...
  ...Galvão Bueno em entrevista exclusiva sobre seus novos rótulos da Bueno Estate (Pinot Noir e Sauvignon Blanc), com direito a muitas risadas e bons goles...
 ...corredores movimentados de gente interessada e menos 'bélica'...
 ...lançamento da nova edição do Guia Descorchados no estade da revista ADEGA...
 ...e até mesmo momentos de tietagem, com Christian Burgos e Patricio Tapia (o jornalista chileno que degusta e escreve o Descorchados, que eu tive o prazer de traduzir pelo segundo ano consecutivo), e com Adriano Miolo e Galvão Bueno, com Pinot Noir da Campanha Gaúcha na taça.
Hoje tem mais! Bons goles e muitas alegrias, pues es la revancha del vino!

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Expovinis 2012

 Começou a Expovinis 2012, no pavilhão azul do Expo Center Norte, aqui em São Paulo. Ontem, hoje e amanhã.
O primeiro dia é sempre um tanto confuso, errático.
Como meu foco principal são os vinhos brasileiros, e eu tenho que conhecer o maior número possível de produtores do mercado, esse dia é mais de boas vindas do que de qualquer outra coisa.
Mas isso faz parte, e faz bem encontrar as pessoas que a distância geográfica quase sempre isola.
Comecei fazendo algumas fotos e, inevitavelmente, bebendo alguns vinhos. Bebendo mesmo, pois ontem ainda não consegui degustar muita coisa, mas brindei com amigos produtores, com ex-alunos do curso de sommelier e com alguns enólogos.
Tem muita novidade boa para provar por lá!
Abaixo vocês podem ver uma parte do sempre movimentado estande da ACAVITIS (a associação dos produtores de vinhos finos de altitude de Santa Catarina).
 Fui provar alguns dos vinhos (dois brancos e um espumante rosé) feitos pela SANJO, com a consultoria do enólogo Anderson Schmitz (na foto abaixo). O Sauvignon Blanc deles sempre me agrada, com suas notas herbáceas pronunciadas e seu final seco.
 Passei também no estande da Miolo, que está cheio de novidades. Três brancos poderosos estão entre os muitos lançamentos: um Gewurztraminer meio-seco, das terras altas e frias de Campos de Cima da Serra, um Sauvignon Blanc da Bellavista Estate (do Galvão Bueno) e um Alvarinho, da propriedade do Seival, na Campanha. Filhote mais novo do enólogo português Miguel Ângelo Vicente Almeida, uma das grandes cabeças da enologia da Miolo.
 Achei a movimentação boa e a organização dos espaços eficiente. Fiquei sabendo que alguns erros organizacionais continuam acontecendo, mas não acredito que tenham comprometido o que os clientes viram do lado de fora.
Nota dissonante foram algumas pessoas que se aproveitaram do evento para fazer protesto contra o projeto das salvaguardas. Protesto esse muitas vezes deselegante e até grosseiro em alguns casos. Como já dizia a passagem do livro sagrado dos cristãos: "Há tempo para tudo na vida, tempo de nascer e tempo de morrer, tempo de plantar e tempo de colher" (Eclesiates), e eu acho que muita gente confundiu um tempo com outro. Isso enfeia as coisas um pouco.




Por fim, na imagem acima, está o decanter em forma de taça que Wandér Weege da Pericó mandou fazer especialmente para a feira, assim como algumas taças diferenciadas que chegarão hoje ao estande.
Desejo para todos um bom dia, com tranquilidade, respeito e bons brindes! Amanhã tem mais!

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Para onde o vinho leva - 2

Olhe as fotos abaixo:




Não, eu não fui para a Europa.  As fotos que aparecem aqui são de Campos do Jordão, a mais famosa cidade serrana do estado de São Paulo.
Foi lá, na semana passada, que aconteceram duas palestras sobre o Vinho Verde. Nas fotos que seguem, a fachada do Senac, que fica dentro do Grande Hotel Senac de Campos e a sala de aula, pronta para o começo do seminário.



Como tenho um pouco mais de meio-dia de folga entre uma palestra e outra, fui passear. Primeiro tentei ir fazer uma caminhada no Horto Florestal, mas 12 km de serra depois, descobri que o parque fica fechado às 4as feiras. Uma simples placa no começo da estrada facilitaria bem o passeio, não?
Fui ao Morro do Elefante, de onde fiz uma das fotos que aparecem no começo e me rendi a ir passear entre as lojinhas do centro, buscando um lugar bacana para comer uma das especialidades de região, a truta.
 Confesso que não foi fácil. Primeiro que ainda está bem difundida a ideia de que os pratos devem ser para duas pessoas, e por isso quem come sozinho acaba pagando muito mais caro, o que chega a ser um contrasenso uma vez que uma porção de truta para dois serão dois peixes, enquanto que para um é um peixe só. Explicar isso fica até ridículo, mas verdade seja dita, andei olhando cardápios por todo lado, bem boquiaberta com os preços que vi. Nos lugares que tinham o prato individual ele custava em média 45 reais. Um peixe com alcaparras, manteiga e batata cozida. Ai, ai, ai...
Finalmente vi um banner que anunciava um 'prato turístico', com opções como truta, carne de porco, frango ou carne de vaca, com acompanhamentos de uma salada de entrada, por R$ 38,50.
 Não é barato, mas valeu a pena. O restaurante é bonito (chama-se La Gália), suas especialidades são as carnes de caça. É muito bem cuidado e eu fui super bem atendida pelo garçon David.
Pedi, inclusive, uma entrada, a porção de pinhões salteados no azeite e alho dourado. Acompanhei com uma taça de Torrontés da Susana Balbo.
O vinho fez boa companhia, mas sempre me chama a atenção o fato de não haver mais opções de vinhos brancos em taça e poucas em meia-garrafa. Brasileiros então? Quatro ou cinco rótulos apenas. Fiquei salivando uma meia garrafa do Chardonnay da Pizzato, confesso.
 Não fotografei a salada, mas estava boa e bem servida, mas segue aqui a foto da saborosa truta!
 Café bem tirado para finalizar e uma sensação boa de comer bem num local bonito e envolvido pela luz do outono. Os vinhos poderiam (e deveriam) ser um pouquinho mais baratos, mas todo mundo que frequenta Campos do Jordão sabe que é uma cidade cara. No entanto, com o turismo forte que existe lá, duvido que não venderiam mais vinhos se os preços não fossem um pouquinho mais acessíveis.
A foto abaixo é bem no centro do bairro de Capivari, onde as oliverias estão assim, carregadas!

Já perto do hotel onde eu estava hospedada (fora da parte turística) achei a linda lojinha das fotos abaixo. Um charme e um bom gosto na escolha dos objetos como raramente se vê em lojas assim. Fiquei perdida lá dentro xeretando as coisas, uma delícia...


Campos do Jordão tem lá seu charme, as belas montanhas que fazem divisa com o estado de Minas Gerais, o clima frio, as construções que recriam uma história que não é exatamente nossa - mas têm um apelo simpático e são bonitas de ver - algumas lojinhas atraentes como essa acima e alguns bons passeios pela natureza. No entanto, é uma cidade cujo objetivo turístico são os ricos, por isso tudo lá custa muito caro e algumas vezes parece carecer de um pouco mais de 'alma'.
Pessoalmente eu prefiro as cidades ao redor, bem próximas de Campos para repartirem a mesma natureza, mas distantes o suficiente para terem uma personalidade mais marcante, interiorana e ao mesmo tempo bem preparada para o turismo.
No entanto, como eu estava com saudade do frio e das montanhas, confesso que foi uma boa mudança de cenário. Na volta, é quase obrigatório passar pelo 'Leite na Pista', uma loja/café/entreposto bem gostasa, logo ao pé da serra, com seus animais de fazenda que passeiam tranquilos à volta do casarão que recebe os turistas e, nos finais de semana, as pessoas podem beber leite tirado diretamente da vaca (por isso o nome do local) o que - para muita criança paulistana - é uma experiência quase surreal.



Nesta semana fico com dedicação exclusiva para a Expovinis e para tantos amigos gaúchos e catarinenses que estão chegando em São Paulo. Estou curiosa para saber das novidades e provar os novos vinhos.
Mas na semana que vem retomo o caminho do Vinho Verde no Brasil, indo para Guaratinguetá.
Desejo à todos uma excelente semana, com bons brindes, saúde e alegrias!

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Um pouco de nacionalismo não faz mal!

Pedi para o Julio Kunz, da vinícola Dunamis (pequena e jovem vinícola da campanha gaúcha, cujos vinhos começam lentamente a ganhar espaço) para que me mandasse a imagem abaixo que eles divulgaram ontem.
Resolvi reproduzir aqui pois achei de bom gosto, e faz mais sentido para a pessoa que eu tento ser do que a palavra 'boicote', que anda rondando o diálogo de muita gente que se diz apreciadora dos vinhos brasileiros na mídia.
Não tenho vergonha dos vinhos que degusto e nem dos que bebo.
Tenho vergonha de diálogos irracionais.
Mas também entendo que eles servem para separar o joio do trigo, ou como prefiro dizer, o grão do engaço. Tem muita gente mostrando finalmente a sua verdadeira cara, embora ainda exista muito para descobrir, e confesso que algumas vezes me coça a mão para 'puxar alguns véus'.
Tenho vergonha de gente que não favorece a discussão (de todos os lados), de gente para as quais a política do "Gérson" (de levar vantagem em tudo) ainda continua sendo a melhor política.
Sim, existem interesses de todos os lados, sim a disputa é sobre dinheiro e poder (como tem sido desde o começo dos tempos), mas há também o vinho. Há muitos bons vinhos e muitos bons profissionais inclusive por detrás das empresas que estão mais enroladas nessa história do que parreira que cresce solta. Esses profissionais não podem ser desprezados, esses vinhos não merecem ser deixados de lado por conta de disputas empresariais.
Eu não me orgulho dos políticos brasileiros em geral, da mesma forma que não me orgulho de viver num país lindo e com o potencial que tem, onde a corrupção corre solta, permitindo turismo sexual no nordeste, comercialização de máquinas de caça-níquel no sudeste, entrada de celulares em presídios, agressão a menores e a animais, racismo e homofobia, contrabando de vinhos na fronteira, comércio de documentos como carteiras de habilitação e passaportes e todas essas coisas que vemos todos os dias na mídia, e que fazemos de conta que não é conosco, que não está ligado à nossa vista grossa, à nossa maneira de pensar que se 'não fui eu quem causou isso, não tenho como remediar'.
Não somos figurantes neste país e não conseguiremos mudar nada se a nossa resposta for simplesmente ignorar ou criticar.
Eu tenho vergonha de muitas coisas neste país, mas não tenho vergonha da maioria dos vinhos que são feitos aqui. Por isso eu ergo minha taça, sem preconceito, sem salvaguarda, sem boicote!
Bom final de semana!


terça-feira, 17 de abril de 2012

Programe-se: a Expovinis está chegando!



Todo mundo que aprecia vinhos precisa participar. É na semana que vem, no Expo Center Norte e algumas dicas são importantes:

1- Inscreva-se pelo site com antecedência, assim ao chegar a fila para pegar a sua credencial será muito menor. Vale a pena!
2- Faça uma refeição decente antes de ir para a feira, coma alguma coisa durante a feira, tome muita água todo o tempo, cuspa a maioria dos vinhos e, se for de seu costume, tome um engov antes.
3- Vá de ônibus ou metrô e volte de taxi. Não corra riscos desnecessários e prove os vinhos sem preocupação. Outro detalhe: o estacionamento lá é caríssimo e não importa se você ficou uma hora ou cinco, o preço é único e alto!
4- Use sapatos confortáveis, pois a feira é grande.
5- Se for profissional da área, leve seus cartões de visita. Essa é a hora de fazer contatos e conhecer pessoas e vinhos.
6- Não seja 'fominha': é de extremo mau gosto chegar num produtor e pedir para provar apenas o vinho top de linha dele. Escolha sempre mais do que um, você vai perceber a diferença de tratamento.
7- Deixe seus preconceitos em casa e aproveite a ocasião para conhecer coisas novas. Aquilo que está na prateleiras que você conhece, bem...está nas prateleiras que você conhece! Que tal provar um estilo diferente, um país diferente? Essa é a chance. Lembre-se de que a feira não é plataforma eleitoral, não é local para discussões políticas sobre o mundo do vinho. É um lugar para encontro, degustação e negócios. O restante fica para depois.
8- As grandes importadoras brasileiras (como Mistral, Decanter, Vinci, World Wine, por exemplo) não estão presentes pois elas organizam eventos próprios, onde não precisam dividir atenções. Mas outras tantas que são de outros estados e cidades, bem com associações de produtores estarão lá e vale a pena conhecê-las.

Boa feira, bons goles, bom senso e respeito!


domingo, 15 de abril de 2012

Meio século!

Hoje, domingo, meu marido comemora 50 anos de vida.
E eu, que tenho sempre muitas palavras para todas as coisas, quando se trata de falar sobre ele, fico sem saber o que dizer. Aconteceu o mesmo no dia de nosso casamento, quando o juiz de paz me deu o microfone para que eu fizesse meus votos. Travei.
O Cristiano para mim é não apenas a pessoa que eu escolhi (e me escolheu) para partilhar a vida, como é uma pessoa que respeita as mudanças e a evolução dos outros, fazendo sempre seu melhor para não julgar. Inteligente, dedicado e amoroso são apenas alguns dos adjetivos que posso tentar utilizar para falar dele.
Mas ainda assim isso é pouco.
Eu o amo, e isso sim é o bastante. E desejo que ele tenha uma vida longa e saudável, com muitas realizações e sucessos, para que possamos continuar brindando juntos a felicidade de termos nos encontrado!
Parabéns meu amor!


quinta-feira, 12 de abril de 2012

Um passeio na ladeira da memória...

Em inglês esse título me soa melhor "A trip down in memory lane".
Mas em qualquer das duas línguas, foi isso mesmo o que aconteceu ontem, uma viagem pela ladeira da memória.
Como já havia dito aqui, fui para Campinas (pouco menos de 100km de distância de São Paulo, e uma das maiores cidades do Brasil) para apresentar o Seminário dos Vinhos Verdes.
Foram três apresentações em dois dias, trabalhando ao lado de duas equipes excelentes, a do SENAC e a do hotel Palm Plaza Residence (como vocês podem ver na foto abaixo). Na ponta esquerda o sommelier e chefe de A&B do hotel, Luciano, um craque apaixonado pelo que faz! Bom trabalhar com gente assim, bem como as meninas da equipe do SENAC, proativas e sempre sorridentes, sem tempo ruim!



Como entre a primeira palestra e a segunda eu tive a manhã e o almoço livres, resolvi dar um passeio.
Campinas é, para mim, uma cidade cheia de memórias especiais, pricipalmente relacionadas com a minha infância e juventude.
Minha mãe trabalhava na cidade quando eu era criança e viajava todos os dias. Volta e meia eu ia com ela, conhecendo a cidade aos poucos, indo almoçar onde o 'pessoal do escritório' ia almoçar.
Mais tarde, uma parte de minha família se mudou para lá e começamos a ir visitá-los e, quando eu me tornei adolescente (minha mãe já havia voltado a trabalhar em SP) eu viajava sozinha na 6a feira, passava o final de semana com meus primos e voltava na tarde de domingo. As primeiras baladas, os primeiros namoradinhos, foram todos por lá.
Depois disso fiquei muitos anos sem ir para Campinas com frequência e só retornei para fazer a pós-graduação na PUCC e acabei ficando para dar aula por lá por mais um ano.
Mas sempre, guardado num lugar muito especial em minha memória, estavam dois restaurantes no centro da cidade, aos quais minha mãe me levava nos anos 1970. Por isso que me emocionei para valer quando - ao fazer uma pesquisa na internet - descobri que eles ainda existiam e que (não existem coincidências) ficavam perto do local das palestras.
Foi assim que, na manhã de céu azul e sol intenso de ontem, saí pelas ruas estreitas que levavam do hotel onde eu estava hospedada até os dois restaurantes.
No caminho, chamou a minha atenção o casarão da foto abaixo, um restaurante chinês chamado Hong Kong. Embora pareça charmoso assim visto de longe, de perto o casarão antigo e elegante merecia um cuidado maior, infelizmente.
Algumas travessas depois, cheguei até a rua Luzitana (assim mesmo, com 'z') que - no trecho do restaurante - é bastante estreita. Parei do outro lado da rua e fiz a foto abaixo, da "Cantina Alemã", com sua fachada exatamente igual ao que eu me lembrava.
Peguei o telefone e liguei para minha mãe para dizer onde eu estava.
Como ainda era um pouco cedo, decidi não entrar e segui para o outro restaurante do qual me lembrava, a menos de dois quarteirões desse, na rua Conceição.
Em minha memória, o bar do Faca era pouco mais do que um empório que passou a servir lanches e refeições rápidas, naqueles anos de 1970 e alguma coisa.
Lembro-me de nos sentarmos em bancos largos de madeira, em frente de mesas que  pareciam quase improvisadas num salão um pouco escuro e de pedirmos os sanduíches mais frescos e saborosos que já vi. Copa, salame, queijos, tomates em fatias finas, tudo bem arrumado e gostoso, num ambiente despojado.

Mas se a fachada ainda guarda alguma semelhança com o passado, o interior mudou muito. Vendido há seis anos pelos primeiros donos, o bar foi reformado para o modelo 'genérico' de boteco carioca, com paredes de azulejo xadrez e garçons de jaleco de mangas curtas.
Não posso dizer se os bons sanduíches ainda existem, pois não me animei a ficar por lá, mas a casa já estava movimentada.
Assim, depois de mais uma caminhada pelas praças arborizadas com altas palmeiras reais ali no centro, retornei para a 'Cantina Alemã'.
Alguém percebe a ironia disso? "Cantina", "Alemã", na rua "Luzitana"...
Mas vamos lá, empurrei a porta e o passado tomou conta de mim, até mesmo a estranheza de estar olhando aquele ambiente do 'alto' de meus 1,80m, que eu obviamente não tinha nos anos 1970...
 Sentei-me perto da porta e comecei a observar os detalhes, as luminárias de madeira, os pratos nas paredes também revestidas de madeira, a porta transversal com as janelas que iluminam o interior estreito e longo, as toalhas verdes de um xadrez de cantina, a antiga máquina registradora e a barriquinha que abriga a serpentina do chopp.
Ao atravessar aquela porta eu viajei de volta para o passado, como se há apenas alguns dias eu tivesse estado lá.
Eu não sou tão nostálgica quanto parece algumas vezes, mas nesse caso fui capaz de perceber o que aquele entorno provocava em mim: a lembrança de tempos que - para uma criança - pareciam perfeitos. A família, o passeio, a boa comida, o aconchego de um lugar que já me falava de terras distantes e de muitas novidades.
E tudo isso, até hoje, faz parte de quem eu sou. Era impossível saber, naqueles dias, que restaurantes, bebidas, comidas, lugares e pessoas diferentes seriam o meu combustível para a vida. Tanto a estrada quando o destino que me dariam o sustento e o prazer na vida adulta.
A Cantina Alemã não é mais dos mesmos donos, mas aqui há uma diferença enorme. Fundada em 1964, ela foi vendida em 1986 para um de seus funcionários que - naquele tempo - já trabalhava na casa há 13 anos. E ele decidiu que tudo permaneceria igual. Assim ele, sua esposa e seu filho administram o restaurante há quase três décadas e, agora posso dizer isso: com a mesma qualidade e simpatia da qual eu me lembrava.
A temperatura externa de 32 graus me fez pedir um chopp, que veio acompanhado de uma pequena porção de uma salada de batatas frescas e bem temperada e de alguns pedaços de salsicha de verdade, não genérica, além de mostarda amarela e escura, de bom sabor e cremosidade.
Durante o almoço há a possibilidade de se pedir do cardápio executivo, onde as porções são menores e o preço também. Eu escolhi o goulasch, que veio acompanhado de purê de batatas, repolho roxo agridoce com zimbro e arroz branco. Delicioso e do tamanho exato da fome.
Conversando com os donos, pude perceber uma parte daquilo que faz uma casa ser tão longeva como essa: dedicação diária, atenção com a qualidade e uma certa despreocupação em querer ser mais do que é, apoiada na certeza de que muitas pessoas, assim como eu, se sentem confortadas ao entrarem em um lugar despretencioso (no bom sentido) e que nos alimenta o corpo e a memória.
Foi um passeio e tanto, que pretendo repetir muito em breve, agradecida por descobrir que em meio a tantas e tantas mudanças pelas quais a vida nos obriga a passar, uma parte minha sobrevive criança e feliz, dentro da Cantina Alemã de Campinas.