Você tem sede de que? *
Eu
tenho sede de água límpida e fresca. Mas tenho vontade de espumante, de
café recém coado, de suco de
melancia gelado, de um dry martini bem preparado.
Eu
tenho sede de saber. Mas tenho vontade de parar e rever, de algumas vezes em
nada crer, de deixar acontecer, de fingir que sei, e não entender.
Eu
tenho sede de carinho. Mas tenho vontade de paixão, de amor no chão, de perder
a razão, de construir um ninho.
Eu
tenho sede de chuva. Mas tenho vontade de tufão, das paisagens áridas do
sertão, de andar entre os bosques, de inspirar o vento.
Eu
tenho sede da estrada. Mas tenho vontade das paradas, das longas jornadas, das
pernas cansadas, de todos os caminhos que às vezes vão dar em nada.
Eu
tenho sede de beleza. Mas tenho vontade de cabelo sem cortar, de barriga sem
malhar, de comer bobagens sem pensar.
Eu
tenho sede de paz. Mas tenho vontade de justiça, de que acabe toda a cobiça, de
tampar os canos das armas com cortiça, de sorrir de leve - como a Mona Lisa.
Eu
tenho sede do presente. Mas não esqueço do passado, não deixo quase nada de
lado, às vezes nem abandono o que está errado.
Não
tenho sede do futuro. Mas tenho vontade de que lá habitem as águas límpidas, o
saber, o carinho e a paz. O presente que será, minha alma sem sede.
E
você? Você tem sede de que?
(*)
Sinceros agradecimentos aos compositores Sérgio Brito, Arnaldo Antunes e
Marcelo Fromer – in memoriam – da
Banda Titãs, pela composição de 1987 “Comida” de onde saiu o nome e a
inspiração deste texto.
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