Colheita 2016

Colheita 2016
Seja bem-vindo! E que nunca nos falte o pão, o vinho e a saúde e alegria para compartilhar!

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Em busca do Espírito das Festas

Amanhã é dezembro e não é demais pensar naquilo que já passou na cabeça de todo mundo com mais de 25 anos ao menos uma vez na vida: cada vez o ano parece passar mais rápido!
Envolvida como estive em uma porção de viagens, compromissos profissionais, doenças em família e mais outros percalços da vida, vi novembro passar como se houvesse uma névoa na minha frente que permitisse somente programar os próximos 20 passos...
Então é dezembro, época de finalizar as coisas, época de pensar em reuniões familiares e de amigos, em compras de presentes, em cardápios de festas, e em um pouco de descanso ao fim de tudo isso.
Mas a minha confissão pública é de que neste ano eu não me sinto muito festiva e sei que esse sentimento tem que ser combatido com figuras natalinas de montão, luzinhas nas janelas, listas de compras e consultas a livros de receitas. Alguma forma de resgatar o espírito festivo do porão das obrigações e frustrações cotidianas.
Então, saí ontem à tarde (deixando de lado por algumas horas um serviço importante) e me 'joguei' em um shopping de SP. Fui ao que é mais perto de minha casa e me arrependi. A decoração de lá, sempre atrativa, este ano está infeliz, desastrosa mesmo.
Por terem conseguido alguma parceria com empresas de vinho (vejam como não existe acaso e onde eu fui parar...) eles estão fazendo uma daquelas promoções de troca de notas fiscais por cupons para concorrer a viagens para Itália, França e Chile e para kits de taças, decanters, essas coisas. Para conseguir preencher UM cupom você tem que gastar um mínimo de 800 reais no shopping. A metade, se for com um cartão de crédito que faz a promoção lá.
Até aí tudo bem, o valor é absurdo mas o shopping está em uma das áreas nobres da cidade. Mas a decoração tem elfos (ou papais-noéis verticalmente prejudicados) segurando cachos de uvas sobre barricas. Que absurdo!
Que mundo é esse que associa uma coisa tão importante no imaginário infantil ao consumo de uma bebida alcoólica?
Antes que chovam críticas, não estou sendo puritana não. Aliás para todos os efeitos nem mesmo católica eu sou. Mas sou totalmente contra qualquer insinuação de bebidas relacionada com o mundo infantil. Eles estão expostos sim, na tv, em suas próprias casas também, mas nada disso deve vir 'casado' com o imaginário do Natal, seja ele ligado ao nascimento de Jesus ou aos presentes de Papai Noel.
O marketing algumas vezes perde o senso...o bom e o mau...e coloca tudo no mesmo saco vermelho.

Mas chega de desabafo!
Comprei algumas revistas com ideias de decoração e refeições (importadas, claro, pois as nacionais fingiram que nada está acontecendo em dezembro) e resolvi fazer um coquetel que há muito não tomava, já no aconchego de minha casa, montando minha árvore super clean.



O Coquetel de Champagne é um dos coquetéis clássicos reconhecidos pela IBA (International Bartenders Association) e, é claro que não fiz o original, pois não usaria Champagne para preparar um coquetel.
Mas eu tinha uma garrafa de um bom espumante brut nacional e fiz o delicioso e requintado coquetel. Segue a receita para quem quiser tentar:
Coquetel de Espumante Brut
Em uma taça flute colocar um cubo de açúcar, algumas gotas de angostura (um bitter feito na ilha de Trinidad e Tobago, vendido em garrafinhas como as de molho inglês), uma casquinha de limão e completar a taça com espumante brut gelado.
Como decidi combater de todas as formas a falta de espírito das festas que se abateu sobre mim, vou me propor um desafio e a partir de amanhã vou colocar aqui no blog ideias de presentes relacionados ao mundo dos vinhos e da gastronomia, como sugestões para meus leitores.
Claro que preciso avisar desde já que muitos deles são sugestões que eu mesma recebo das assessorias de imprensa, então não há como confiar cegamente. Ainda assim, sei que muita gente sente falta de ideias para presentear e de tempo para perambular pelos shoppings em busca de opções e bons preços.
Por enquanto, jingle bells, jingle bells, jingle all the way!!!


sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Dunamis - Nova Vinícola de Dom Pedrito

Estão sendo lançados hoje, em um evento na cidade de Dom Pedrito (RS), quase fronteira com o Uruguai, os dois primeiros vinhos comerciais da 'Dunamis Vinhas e Vinhedos', um projeto iniciado em 2002 pelo agropecuarista José Antonio Peterle.
Eu fui gentilmente convidada para estar nesse evento, mas como tenho que ir estar em Águas de São Pedro amanhã, tive que declinar do convite.
Os vinhedos da empresa estão localizados na própria Dom Pedrito (foto abaixo) e também na serra gaúcha, no município de Cotiporã, somando 25 hectares.

As primeiras vinificações foram feitas na Embrapa com o apoio técnico do enólogo e pesquisador Celito Guerra, que não participa do evento de hoje por estar dando aulas em uma universidade francesa.
Quando os resultados se mostraram promissores, foi chamado mais um nome de peso da indústria nacional para ser o consultor dos vinhos, o chileno Mario Geisse, do qual vocês já ouviram falar muito aqui (ele é dono da Vinícola Geisse em Pinto Bandeira e sócio e Diretor Técnico da vinícola Casa Silva no Chile).
Ainda não provei os vinhos, então só posso registrar quais eles são: o tinto chama-se Cor e é um corte das uvas Merlot e Cabernet Franc da safra 2008 e o branco chama-se Ser e é um corte das uvas Sauvignon Blanc e Chardonnay da safra 2010 (as fotos das garrafas estão abaixo).
Fico sempre feliz ao saber que mais uma empresa está interessada em produzir vinhos que obedeçam aos modernos padrões de qualidade que, na última década, foram capazes de iniciar o longo processo de colocar o Brasil entre os produtores respeitados do mundo.
Seja bem vinda Dunamis e bons brindes!

P.S.: Fico sabendo, também, que por algum tempo (devido a pequena produção desses vinhos e aos seus preços mais condizentes com a realidade brasileira) eles só serão vendidos no RS.



quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Muito para contar!

Antes de mais nada, por favor dêem uma olhada no blog do jornalista e enófilo Roberto Gerosa.
Ele, ao lado de alguns poucos escolhidos, esteve em uma degustação super privilegiada, que nós apreciadores de vinhos precisamos - ao menos - saber que ocorreu.
http://colunistas.ig.com.br/vinho/

Na foto ao lado vocês podem ver a turma do curso de Formação de Sommelier do SENAC de Águas de São Pedro, ao final do jantar harmonizado onde foram entregues os diplomas de conclusão.
Nessa turma todos são funcionários do SENAC e entre eles estão garçons do Grande Hotel (de Águas e de Campos do Jordão), professores do curso superior de Gastronomia, dos cursos de capacitação técnica e de gratuidade, funcionários de áreas correlatas da escola e chefs de cozinha.
É um público que vai utilizar os conhecimentos do curso para aprimorar suas próprias áreas de atuação, sejam elas diretamente ligadas ao serviço do vinho ou não.
O jantar, com entrada, prato de massa, prato de carne e sobremesa, acompanhado de espumante nacional Cave Pericó Brut, Cabernet Franc 2004 da Gillmore do Chile e Vinho do Porto LBV 2001 da Graham's, aconteceu no Villa Tardivelli, na última 3a feira.
Abaixo as fotos de alguns dos alunos: Fábio, Valéria e Tiago.




Por último, mas não menos importante, quero contar que ainda dá tempo de visitar a Abravinis, uma feira de vinhos com produtos que vem diretamente dos produtores/importadores para o consumidor final, cheia de bons preços.
Excelente maneira de preparar a adega para as festas de final de ano e também comprar alguns presentes especiais.
Os ingressos custam R$ 60,00 mas se você fizer alguma compra terá um bônus de R$ 30,00 nas suas compras.
Termina hoje às 10 da noite no Clube Pinheiros na Avenida Faria Lima, em São Paulo.


sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Vinhos no Bom Retiro!

Para quem não é de São Paulo é necessária uma explicação.
O Bom Retiro é um bairro antigo da zona central da cidade, delimitado por importantes avenidas como a Tiradentes e monumentos como a Pincoteca do Estado e a Estação da Luz.
É um bairro de comércio de roupas e acessórios, em sua grande maioria por atacado.
Zona tradicional de imigrantes, já foi ocupado por italianos, judeus e gregos. Alguns de seus restaurantes, sinagogas e lojas ainda estão por lá.
Mas os imigrantes das últimas décadas são os coreanos e os bolivianos, que ocuparam a maioria das lojas. Os coreanos, em geral, são os donos e os bolivianos trabalham nas oficinas de costura.
Neste ponto vocês já devem estar se perguntando: o que tudo isso tem a ver com vinhos?
Pouco, mas vou explicar.
O enólogo Adolfo Lona veio ontem para SP para alguns compromissos profissionais e propôs a mim e a meu colega Marcel Miwa, que nos encontrássemos para o almoço.
Como ele estava hospedado na Barra Funda e precisava voltar ao hotel com certa ligeireza após o almoço, propusemos um almoço diferente, o Bistrô da Sara (foto abaixo), na rua da Graça, coração do Bom Retiro.
Verdade seja dita que não é para todo mundo. Não pela comida, que é deliciosa, claro. Mas o local (quando ainda era da proprietária judia era conhecido como 'buraco da Sara', por ficar abaixo do nivel da rua) é um amalgama de estilos com base no rústico, que pode não agradar algumas pessoas que vem a SP pensando em luxo, glamour e sofisticação.
Felizmente, Adolfo Lona não é assim.
Chegamos cedo, caminhamos alguns quarteirões vendo as lojas - afinal ele não conhecia o bairro - e voltamos ao buraco, perdão, bistrô, para encontrar o Marcel.
Provamos 3 vinhos sob o olhar um tanto crítico dos outros comensais, um branco húngaro da uva Pinot Blanc, trazido pelo Marcel, um rosé da Villa Francioni (que eu levei) e um tinto Syrah da Casa Morandé, do Chile, também trazido pelo Marcel (foto abaixo).
Conversamos com a proprietária do local (sempre disponível apesar de atenta a todos os movimentos do pequeno e lotado bistrô) sobre a venda de vinhos e ela nos falou que é difícil, pois durante a semana as pessoas estão em compras e a trabalho e praticamente não bebem nada de álcool.
Segundo ela, no verão e principalmente aos sábados, quando forma-se uma fila de pessoas a espera de mesas, ela oferece uma taça de espumante, que é sempre bem vinda, mas mesmo assim as pessoas não estendem o prazer para durante a refeição.
Eu entendo que o brasileiro associe o consumo de bebidas alcoólicas à preguiça e aos momentos de lazer, mas na maioria das vezes uma taça de vinho acompanha muito melhor uma culinária de qualidade (ontem, por exemplo, havia no buffet pequenos varenikes de abóbora recheados com carne-seca, que fizeram par perfeito com o Syrah) do que um enorme copo de suco de laranja ou de mamão.
Essa mudança de mentalidade (e de costume) passa por muitas coisas, desde a conscientização de que um pouco de vinho faz bem para a saúde - para pessoas que não têm problemas relacionados ao consumo de álcool, óbvio - e deve se tornar um hábito assim como o consumo diário de vegetais, grãos integrais e frutas, pela oferta de produtos de qualidade com preço mais competitivo (nesse sentido Adolfo, Marcel e eu concordamos que a embalagem Bag in Box é a chave do sucesso) e pelo conhecimento, sem o qual nada disso é possível.
Senão, o ciclo vicioso se forma com um 'exército' de calorias da refeição, mais um suco com açúcar (algumas vezes até com leite condensado) e como sobremesa um 'balde' de açaí com banana e granola.
Para as mulheres, então, nem se fale, pois uma taça de vinho tem o poder de acalmar os ânimos e ainda diminuir a ansiedade, fazendo com que a ingestão de açúcar seja menor. E, no caso do Bom Retiro, pode ser que acalme até a disposição de comprar aquela bolsa cor de laranja que - é óbvio - você só irá usar uma vez e se arrepender cada dia que abrir o armário.
É melhor e mais barato tomar uma taça de vinho, e o coração agradece.
Bons goles para todos, bom final de semana e estejam em Paz!


quarta-feira, 17 de novembro de 2010

200a Postagem!

Caros leitores, sinto muito que esta - que é a minha duocentésima postagem - precise vir com um pedido de desculpas.
Há alguns dias vinha observando que esse número redondo se aproximava, e secretamente desejava que essa postagem fosse um momento especial.
É e não é.
É, pois este blog começou como um desafio que me foi feito e se transformou em um trabalho prazeiroso, de retorno humano e informativo imenso e que se prova interessante não somente para mim que o faço, mas para algumas pessoas que passam por aqui diariamente, em busca de novidades, e me dão um bom feedback. Isso tudo é muito especial.
Mas este momento não é especial por conta de circunstâncias da vida, sobre as quais eu não tenho nenhum controle e que me ocuparam (e ainda ocupam) nos últimos dias, fazendo com que o tempo que posso dedicar à este blog tenha sido restringido.
Minhas desculpas, muito sinceras!
Ainda sobre a passagem do tempo, mas agora falando de vinhos brasileiros, quero contar sobre alguns vinhos que provei nos últimos dias. Foram três vinhos brasileiros de diferentes procedências mas com  uma coisa em comum: todos eles têm mais de 4 anos.
O que isso quer dizer? Quer dizer que muitos produtores afirmam que não fazem vinhos de guarda pois as pessoas compram vinhos para beber rapidamente e não para guardar, que vinhos para suportarem o teste do tempo precisam de estrutura, em geral de passagem por madeira de boa qualidade e de uvas em maturação muito boa. Ou seja: são vinhos que não admitem disfarces.
Não vou entrar no mérito dessa questão, pois os vinhos que tomei vem suportando bem o teste do tempo.
O espumante brut da linha Premium da Casa Valduga era 2006. Delicioso, fresco, borbulhante, frutado. Vai suportar mais um ou dois anos com a galhardia de um champenoise bem feito e amadurecido com cuidado nas caves da foto ao lado.
O branco, da vinícola Villaggio Grando de Santa Catarina (o lago de fazenda é o que aparece na foto mais acima), um Chardonnay 2006 estava fresco e agradável, mesmo sem a 'segurança' da passagem por madeira, que dá certa longevidade aos Chardonnays, mas que em muito casos é usada para encobrir defeitos.
O terceiro vinho, feito por uma mulher da qual sou fã, foi o Cordilheira de Sant'Anna Cabernet Sauvignon 2004, de lá de Santana do Livramento, da propriedade do casal de enólogos Rosana Wagner e Gladistão (na foto abaixo). Delicioso, elegante, estilo do Velho Mundo com bela cor, bom corpo e delicadeza.
Não é a primeira vez que Rosana acerta em vinhos longevos. Na foto ela e o marido aparecem brindando com o Gewurztraminer 2004, que eu ainda tomei no começo deste ano e recomendo imensamente aos preconceituosos de plantão que provem. Se é que ainda é possível encontrar alguma garrafa dele no mercado.
Por fim, quero dizer que alguns de nossos vinhos já começam a mostrar que o cuidado de um enólogo zeloso, um terroir decente e uma safra boa são mais determinantes do que a 'vocação' do país para vinhos jovens ou não.
Guardar um vinho - algumas vezes até esquecê-lo na adega - para mais tarde provar e ter uma feliz surpresa, é mostra de que a nossa indústria anda dando sinais efetivos de que sabe o que faz - ao menos alguns produtores, é claro - e que poderemos alongar o prazer de uma boa safra por mais alguns anos.
Bons goles, sem preconceito de idade!
(e que venham mais 200 postagens!)

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Dois Homens do Espumante Brasileiro

Como contei na semana passada, estive em Garibaldi por umas 24h (não é anormal para minhas viagens) e pude conhecer uma pessoa que acredito que 'faltava no meu Curriculum' e encontrar uma outra que aprecio muito.
São dois enólogos. O primeiro é Adolfo Lona (na foto abaixo), que nasceu na Argentina (claro, todos temos defeitos...he he he), mas como é muito inteligente, adotou o Brasil para viver em 1973 e os espumantes como trabalho de uma vida. Não conhecê-lo era para mim uma tristeza enorme trabalhando neste mundo do vinho, e agora que o conheço ficou pior, pois vejo quanto tempo perdi...
Lona é o presidente da CPEG (Cooperativa de Produtores de Espumantes de Garibaldi), um projeto há muito necessário para dar visibilidade e novo fôlego àquela que já foi a cidade responsável pela produção de 90% dos espumantes brasileiros.
O projeto foi oficializado no sábado passado, com a entrega dos diplomas e selos e a apresentação dos 12 primeiros rótulos de espumantes certificados da Marca Coletiva da região.
Para quem não sabe, Adolfo Lona foi trazido pelo grupo italiano Martini para fazer e lançar nada menos do que a linha de espumantes De Greville.
Todo mundo com mais de 30 anos lembra (e quem gosta de espumantes com certeza bebeu de suas garrafas).
Claro que eram outros tempos, onde as empresas mais importantes eram as estrangeiras, que dominavam o modus operandi e portanto detinham os melhores rótulos. É só pensar em Chandon, Forestier, Almadén, Domecq etc.
Mas Garibaldi já tinha alguns nomes muito importantes, pois não foi nenhum acaso o motivo pelo qual esses grandes estrangeiros instalaram-se aqui. A região tinha vocação para os espumantes - não sei se gosto dessa expressão, mas vá lá.
O que me leva ao outro nome desta postagem: Gilberto Pedrucci, que trabalhou "somente" 24 anos na Peterlongo. Que tal?
A Peterlongo, para os preconceituosos de plantão, é somente a primeira vinícola brasileira a fazer espumantes champenoise de alta-qualidade. Em 1913 (!!!) quando Armando Peterlongo fundou a empresa, ainda eram chamados de Champagne e na década de 1950 eram vendidos em NY para a loja Macy's.
Pedrucci é um vencedor. Discreto e sempre bem acompanhado da linda esposa Lorena, suportou os altos e baixos de uma empresa que, embora grande e importante, não acompanhou as inovações do mercado.
A Peterlongo ainda passa por ajustes, mas é possível dizer que nos últimos 6 ou 7 anos recuperou a qualidade de seus produtos. Mas isso é outra história que pretendo contar depois.
Gilberto Pedrucci (foto abaixo), embora confesse que o que gosta mesmo é de estar na cantina, encarregando-se pessoalmente dos meticulosos processos de fabricação de espumantes, é um grande administrador, de carisma sutil, que já o levou para muitos cargos importantes, inclusive a presidência da Fenachamp.
Atualmente ele cuida de sua própria vinícola (assim como Adolfo Lona que faz deliciosos espumantes rosés, entre outros), a Casa Pedrucci, onde faz o que gosta e sabe da maneira que quer fazer. Coisa rara nesse mercado desgranhento que temos no Brasil, mas uma recompensa pelos anos de (aprendizado também, óbvio) trabalho para outros patrões.
Gilberto também é um dos diretores da CPEG, na parte dos espumantes de método tradicional (ou champenoise), ao lado de um jovem do qual ainda se vai ouvir falar muito: Ricardo Chesini, que conseguiu em poucos anos de muito trabalho transformar uma empresa familiar que só fazia vinhos de mesa e destilado de uva em uma importante produtora de espumantes (bons espumantes!).
Esse pessoal trabalha em pequena escala (antigamente o projeto era até conhecido como 'micro-champanherias'), mas com cuidado extremo e tentando convencer aqueles que trabalham com maiores volumes a adequarem alguns de seus produtos aos bons princípios aprendidos com a pequena produção de qualidade.
Estão conseguindo, pois a adesão das grandes vem acontecendo gradualmente (Cooperativa Garibaldi, Courmayer, etc que têm talentos como o enólogo Gabriel Carissimi, por exemplo) e já trouxe um enorme presente para a CPEG: a assinatura de um contrato de cooperação com nada menos que o 'Comitê Interprofissional do Vinho de Champagne' da França (claro!!!).
Trabalhar em prol do bom vinho brasileiro não é fácil para ninguém - para quem vende, quem faz, quem divulga - mas é necessário, e não somente por uma questão de ufanismo (coisa besta de quem pensa pequeno), mas para que o mercado consiga separar o que é qualidade do que é volume e 'ganhação de dinheiro'.
Como eu sempre digo: beber melhor e não beber demais!
Bom final de semana e bons goles de espumantes.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Só para quem gosta de gatos!

Encontrei essa fábula em um blog português.
Sugiro que os que gostam de animais (especialmente de gatos), leiam-na.
Nada a ver com vinho, mas sugiro que sorver uns goles de Moscatel de Setúbal seria adequado durante a leitura!
http://caleijadasnilgas.blogspot.com/2010/10/o-gato-da-gaita.html


segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Aniversário!

Pouca gente acredita quando digo que sou filha de uma loira de olhos verdes e pele bem branquinha...
Eu mesma só acreditei quando vi uma foto de minha mãe grávida (na década de 1960 era 'feio' fotografar mulheres grávidas) no álbum de casamento de minha madrinha Magaly.
Minha mãe, Isabel, a aniversariante de hoje, fica doida quando digo isso.
É só provocação com ela, lógico, afinal tenho tantas coisas dela que ultrapassam os atributos físicos que seria impossível negar que somos mãe e filha.
Minha mãe, em seus 68 anos, viveu muitas vidas. Foi filha de pais muito rígidos, ficou orfã de mãe muito cedo, teve uma dura convivência com uma madrasta 'meia-boca', começou a trabalhar com pouco mais de 16 anos e a namorar meu pai na mesma época.
Foi secretária bilíngue e trilíngue, foi advogada, foi nora de uma sogra muito querida - como ela afirma que foi a mãe que lhe faltou - lutou (e algumas vezes ainda tenta lutar novamente) contra o excesso de peso que a perturba e persegue há decadas.
Mas principalmente minha mãe é MÃE! Esse foi o melhor dos papéis que desempenhou (e desempenha) em sua vida. É rígida sim, tem opiniões controversas e muito particulares, mas é amorosa, presente, carinhosa, disposta a qualquer coisa por aqueles que ama e, principalmente, é boa para conversar, para passear, tomar um vinho e cozinha como ninguém.
Selecionei algumas fotos - ela prefere tirar fotos do que aparecer nelas - pois acho que as imagens contam as melhores histórias.
Abaixo ela está em frente ao Louvre, em Paris, cidade que sei que ela viveria sem o menor problema - talvez reclamasse um pouco da falta de banho dos franceses, mas vamos deixar para lá.

Nesta outra foto está com sua amiga Gerda, provavelmente sua amiga de infância mais querida e mais antiga. Moravam no mesmo bairro quando crianças e nunca deixaram de se ver, falar e gostar. A foto foi feita no casamento do filho de Gerda, no final do ano passado.

Por fim, duas fotos mais recentes. Na primeira com os sobrinhos e afilhados Ricardo e Ana Cristina, no aniversário de 15 anos da sobrinha Andressa em Limeira, e com esta filha que a ama muito, muito mesmo na festa dos 80 anos da Tia Therezinha!

Parabéns mãe! Vida longa, saúde, companheirismo, muitos bons brindes e muitas viagens!


Sem barrinha de cereal!

Pessoal, sei que toda companhia aérea tem seus prós e contras.
Para vocês terem uma ideia, meu vôo do Chile para SP com a LAN em setembro, considerada uma das melhores cias do mundo, foi super apertado e eu fiquei 45 minutos na fila para despachar a bagagem, uma vez que já havia feito o check in pela internet. Ah! E o vinho não era bom ,apara completar, mesmo servido em taça de vidro bem fininho.
Mas estou escrevendo para falar de uma surpresa agradável no meio dessa montanha de chateações.
Meu vôo na última sexta-feira era às 12h58 e por conta do trânsito de SP cheguei ao aeroporto com tempo suficiente para ir ao banheiro e nada mais - ainda bem que estava só com bagagem de mão e o check in já feito.
O vôo era da TAM para Porto Alegre, o que sempre me dá uma lembrança chata, pois minha prima de 15 anos foi uma das vítimas daquele fatídico vôo de julho de 2007 que caiu em Congonhas vindo de POA. Mas águas passadas não movem moinhos, certo?
Saímos no horário - o que para Congonhas já é uma surpresa - e o serviço de bordo incluia, pasmem, uma refeição quente. Isso mesmo, em um vôo de 1h20 comida de verdade e quentinha.
Arroz branco, picadinho com legumes crocantes, cocada mole e suco de manga. Confort Food!
Que tal?

Claro que só faltou uma pequena taça (de plástico mesmo) de um vinho nacional. Um Merlot básico.
Não sei se já tentaram isso, ou para quem é necessário pagar para entrar nas cias aéreas, mas acho que faria diferença para a imagem de nossos vinhos se eles fossem servidos como uma cortesia aos passageiros de vôos nacionais. Mesmo os vôos curtos como esse.
Quem sabe alguém não se anima a fazer um 'bag in box' de razoável qualidade que facilite o serviço dentro do avião. Aquela torneirinha iria deixar a vida dos comissários bem mais simples e os passageiros - que a bem da verdade bebem qualquer coisa que seja oferecida - iriam acabar provando e quem sabe alguns reticentes seriam conquistados...
Tudo moderno, sem garrafinhas, sem saca-rolhas (que é perigoso dentro do avião) e fazendo uma concorrência saudável com as onipresentes cervejas.
Fica a ideia e meus cumprimentos para a TAM pelo serviço e pela comidinha quente que fez toda a diferença!

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Merlot Nacional

Antes que pensem em qualquer coisa, eu não vou entrar no mérito de que a Merlot é ou não é a cepa emblemática da Serra Gaúcha ou como gostam de dizer, do Brasil.
Vou dizer duas coisas: o Chile sofre com a ligação emblemática com a Carmenére e a Argentina também com a Malbec. Um simples estudo de caso vai revelar que esse marketing de 'cepa emblemática' tem duas faces e elas não têm necessariamente o mesmo valor, como numa moeda.
Esta postagem, no entanto, tem uma razão. Vocês já perceberam que poucas vezes eu falo de um único vinho e não é somente por não querer privilegiar uma produtor em detrimento de outro. Mas é principalmente porque este blog não tem função comercial. Não é minha pretensão que alguém pense: "A Sílvia falou no blog, então deve ser bom, vou lá comprar".
Este blog tem função informativa e pretende que os leitores conheçam mais sobre vinhos, principalmente os nacionais, é claro. Se vão beber ou não, essa não é uma preocupação minha.
Assim, aqui vai um pouco da história recente do vinho brasileiro.
Vou falar do vinho Merlot Reserva da Pizzato, e é bom que eu diga logo de cara que nem provei essa nova safra (2006) pois ele está sendo lançado agora.
O primeiro Merlot da Pizzato foi lançado em 1999 e, devido a nada mais que sua qualidade, tornou-se um legítimo representante da boa vitivinicultura do Vale dos Vinhedos, em uma época de pesada concorrência estrangeira e muitos lançamentos nacionais.
Não sei se todos sabem (alguns já leram por aqui) que o sr. Plínio Pizzato é um viticultor respeitado, que aprendeu com seu pai e durante anos produziu uvas para outros vinhateiros no sul.
Na década de 1990 os preços da uva caíram e a família decidiu se arriscar a fazer seu próprio vinho. O sucesso veio logo. Por fatores bem racionais como as boas uvas do Sr. Plínio, a dedicação dos filhos (dois enólogos Flávio e Ivo), das filhas (Flávia e Jane) e da esposa, dentro e fora da cantina.
Até hoje todos (à exceção de Ivo que faleceu e atualmente é sua esposa Sílvia quem trabalha na empresa) estão cuidando dos negócios da família.
A Pizzato Vinhas e Vinhos (esse é o nome oficial) é uma dessas pequenas grandes empresas. Pequena em tamanho e volume de produção, mas enorme em cuidado, simpatia e dedicação.
Na foto ao lado, Plínio Pizzato durante a festa da Vindima deste ano leva crianças em seu trator, junto dos turistas que visitam a propriedade e tem o prazer de ouví-lo falar sobre suas uvas.
Os espumantes da Pizzato são deliciosos, o único branco, um Chardonnay sem madeira, é diferenciado e fresco, pois ousa ir contra o estilo do vale de enfiar madeira em tudo. Eles têm também um assemblage, que é a cara da empresa, pois leva o nome de Concentus, o que significa que todos da família tiveram que estar em consenso para aquele corte.
Sim, sou 'um pouco' fã dos Pizzato, mas principalmente tenho um enorme respeito pelo trabalho que fazem.
Sobre o Merlot é essencial dizer que foi a Pizzato quem chamou a atenção para o potencial dessa uva dentro do Vale dos Vinhedos. Se alguém quiser falar de um ícone da Merlot no Vale, com certeza é o Pizzato Reserva 1999.
Recentemente a vinícola fez uma degustação vertical de nove safras e de uma maravilha que eles lançaram na Expovinis deste ano, o DNA99, um Merlot single vineyard super especial, com uvas da mesma parcela de onde veio seu primeiro Merlot, onde tudo começou. Uma degustação histórica, como pouquíssimas vinícolas podem se dar ao luxo de fazer com a mesma qualidade.
Por fim, é importante dizer que a Pizzato tem a Jane, a 'filial' da vinícola em São Paulo. Linda (isso é consenso entre donos de lojas, restaurantes etc.), competente, tranquila e uma companhia sempre agradável, é a filha do Sr. Plínio que desbravou o mercado paulistano.
Eu a conheci faz alguns anos (creio que uns 6 ou 7) e naquela época já pude testemunhar o esforço que ela, seu marido - herdeiro de outra importante vinícola brasileira - e dois outros herdeiros (Márcio Marson e Patrícia Carraro), faziam  nesta cidade que pode ser bem cruel, ao visitar tantos restaurantes, bares, hotéis e lojas tentando receber a atenção dos proprietários para mostrarem seus vinhos - precisamente aqueles que trouxeram o vinho brasileiro para a modernidade. Esse grupo de herdeiros recebeu tantos 'nãos' que nem sei como o sorriso ainda está no rosto de Jane (foto ao lado). Deve ser a persistência de nossos vinicultores diante de um público ignorante.
Imagino que isso explique aos leitores um pouco do respeito que tenho pelo trabalho dessas pessoas, que continuaram tentando, sorrindo, explicando e teimando que nossos vinhos mereciam (e merecem) um lugar de destaque em nossas adegas, em nossas taças, em nossas cartas de vinho.
Assim, fico feliz em contar que a safra 2006 do Pizzato Reserva Merlot já está no mercado, como testemunha de uma boa história que nossos vinhos estão, lentamente, escrevendo.
Bons goles!

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Espumantes em Festa!

O próximo final de semana será borbulhante nas cidades de Bento Gonçalves e Flores da Cunha!
É que acontecem respectivamente a 14a Noite de Gala do Espumante, no tradicional hotel Dall'Onder e a 3a Noite do Espumante e Baile de Máscaras no Clube Independente.
Na foto abaixo (feita por Silvia Tonon) a festa do ano passado no Dall'Onder. Este ano, depois das 21h da sexta-feira, dia 5 de novembro, são esperadas mais de 900 pessoas para dançar (os Golden Boys vão tocar), provar espumantes de 18 vinícolas participantes e degustar a culinária do chef italiano Luciano Boseggia, convidado especial do evento.

Já em Flores da Cunha a festa será temática. organizada pela Associação de Produtores de Vinhos dos Altos Montes, a comemoração deste ano terá Paris e o Carnaval da Cidade Luz como inspiração. Nas fotos abaixo, a festa do ano passado, onde o tema foi Veneza.
São esperadas 450 pessoas na festa de sábado, dia 6 de novembro, à partir das 22h30. 12 vinícolas associadas levarão seus vinhos para a festa e 12 casais de comendadores estarão recepcionando os convidados na porta e entregando as máscaras.

Eu vou estar em Garibaldi na próxima sexta-feira para a apresentação do Consórcio de Produtores de Espumantes e se a programação permitir, vou tentar ir até a festa do Dall'Onder.
Para nós, paulistanos, esse tipo de festa praticamente não existe mais. Produções com bandas, chefs convidados, roupas especiais, perderam-se junto com a garoa da cidade. Sintoma triste de nosso progresso.
Talvez seja por isso que nas festas de 15 anos e nos casamentos as produções estejam cada vez mais exageradas, ostensivas, por que as pessoas têm vontade de estar em uma bela festa, com detalhes cuidados, trajes diferentes de seu cotidiano, boa música e companhia alegre. Viver uma noite especial é importante para muitos, mesmo que as pessoas não se dêem mais conta disso e adorem dizer que é tudo frescura, bobagem, perda de tempo e dinheiro.
Eu não concordo. Verdade que qualquer exagero prolongado é realmente estranho em uma realidade desigual como a nossa. Mas uma boa festa de vez em quando não compromete o carma de ninguém. E as pessoas precisam se lembrar como é se vestir de maneira especial (sem jeans e tênis), dançar (música de verdade), exercitar a arte da conversação, comer e beber bem sem se preocupar com mais nada, em um belo ambiente onde não estejam marcando seu consumo em um papelzinho e nem organizando uma fila para pagar a conta na saída.
Verdade seja dita, é preciso se permitir ser feliz, aproveitar as coisas boas e estar entre amigos com uma taça de espumante na mão. Reclamar é fácil, ficar bravo também, mas aceitar a Cinderela que existe dentro de todos nós pode ser mais complicado do que acreditar em contos de fadas.
Bons goles e sejam felizes!!!!!


segunda-feira, 1 de novembro de 2010

1o de Novembro - dia de Todos os Santos

(N.T.: Jamais lidei com algo tão difícil como minha própria alma, que algumas vezes me ajuda e em outras se opõe a mim)

The Sufi tradition contains the idea that each of our souls has come down here from some other place and will, like the Prodigal Son, eventually develop a desire to go back:
“My soul is from elsewhere, I’m sure of that,
and I intend to end up there.
This drunkenness began in some other tavern.
When I get back around to that place,
I’ll be completely sober.”
(N.T.: A tradição Sufi contêm a ideia de que cada alma vem ao mundo de algum outro lugar e que irá, tal qual o Filho Pródigo, finalmente desejar para lá voltar:
"Minha alma é de algum outro lugar, tenho certeza
e eu pretendo finalizar meus dias lá.
Esta embriaguês começou em alguma outra taverna.
Quando eu voltar para aquele lugar,
Eu estarei completamente sóbrio.")