Bem, não foi capuccino, mas um chocolate quente, como vocês podem ver abaixo.
Era sábado de manhã e eu estava em um café na Via dell' Independenza, bem no centro de Bologna. Fazia muito frio, o suficiente para uma calorenta como eu usar luvas e cachecol.
Na mesa ao lado da minha, um grupo da terceira idade sorvia machilattones como chamaram (xícaras grandes de café com leite) e conversava animadamente.
Ao contrário de tantas outras cidades italianas, Bologna não é dominada pela terceira idade. O que acontece é que a cidade é grande, com indústrias poderosas e, acima de tudo, uma enorme universidade (a mais antiga da Itália e talvez a mais antiga do mundo), que oferece até cursos superiores em inglês. Isso faz com que a cidade seja vibrante, jovem, movimentada.
A foto acima é de uma das laterais da Piazza Maggiore, referência e ponto de encontro de toda gente. Naquela manhã, acontecia um pequeno protesto (pacífico, claro) pedindo paz na Líbia. Os italianos são muito dependentes do petróleo da Líbia e mantêm algumas relações comerciais com o país que permitem a entrada de pessoas. Isso quer dizer que estão preocupados com uma possível fuga em massa da população para seu país.
Sábado também é dia de mercatto (um equivalente de nossa feira, mas somente com roupas, calçados e artigos para casa, desde decoração até higiene). Ocupa um enorme espaço, é 'quase' silencioso, bastante lotado e bem ordenado. A enorme diferença é que se estende até o final da tarde.
Andar pelas ruas de uma cidade famosa pela cor de sua arquitetura (a bem da verdade quase tudo tem cor de mortadela - que os americanos chamam de bologna) e pelas arcadas que cobrem a grande maioria das calçadas, é um convite para parar e fotografar a cada 100 metros.
Em um dos caminhos me deparei com a parte de trás de uma igreja (foto abaixo), que não seria nada diferente do restante da paisagem se não fossem as tumbas suspensas, deixadas ao ar livre. Bem, não se pode dizer que estejam exatamente 'em solo sagrado' pois não estão nem enterradas e muito menos no chão. Mas não tive tempo de parar para investigar mais.
O fato é que, como fazia muito tempo que eu não ia para a Itália, estava meio que 'descalibrada' em termos da elegância natural desse povo, de sua rica história e culinária, de seu modo de vida ao mesmo tempo contemplativo e exuberante.
Um bom exemplo é a foto acima. O pallazo é muito, mas muito antigo, mas sob sua arcada que suporta a história de séculos, fica uma galeria de arte moderna e contemporânea, assim, no meio do caminho, como se fosse a coisa mais natural. Como para eles é natural calçar sapatos Gucci e perfumar-se com Prada, sem que isso seja um motivo de briga por conta do orçamento doméstico.
Meu amigo Marcos, que esteve comigo por algumas horas na cidade na 6a feira, comentou que ficou espantado durante os dias em que passou lá trabalhando, com a quantidade de gente comendo e bebendo o tempo todo. Era como se o horário do capuccino con panini da manhã se imiscuisse no horário da taça de vinho com insalatta e pizza do almoço e assim por diante durante todo o dia e em todos os lugares. Eu concordo pois percebi isso também, e ainda comentamos mais uma coisa: como as pessoas são, em geral, magras, mesmo vestidas em suas pesadas roupas de inverno. Acreditamos que alguns dos motivos sejam o fato de que caminham muito (as ruas estão sempre cheias), alimentam-se com menos porcariada americanizada e ainda por cima vivem menos caóticamente.
Para mim, em uma semana naquele lugar, com a 'dieta' deles eu iria virar a 'própria' Bologna, a gorda!
Perto do horário do almoço do sábado, resolvi voltar para a praça Maggiore e sentar-me em um dos cafés sob o sol muito agradável, de frente para a igreja que ficou inacabada quando decidiram que o centro do papado não seria mais lá, mas sim em Roma. A basílica de Bologna, dedicada a São Petrônio, era para ser a sede do Vaticano. Aposto que quase ninguém sabe disso....É a 6a maior igreja do mundo e a 4a da Itália.
Enquanto eu observava as pessoas passeando na praça, turistas e moradores, a artista que apresentava um teatro de bonecos para as crianças que brincavam por lá, os casais sempre enamorados come in Italia sorvendo seus spritzers, pedi uma taça de vinho branco, que, por meros 6 euros, veio com o acompanhamento acima.
Sabem o que pensei? Que é IMPOSSÍVEL fazer semelhante coisa no Brasil. Em lugar algum, nem mesmo em nossas cidades do vinho, podemos sentar num café/bar/restaurante, pedir uma taça de vinho branco (a taça era de cristal), receber um acompanhamento que - naturalmente - fará com que você beba mais e pagar por isso 15 reais com o serviço incluso.
Cultura de vinho pessoal, cultura de vinho!
Domani ché di piú! Saluti!
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