Colheita 2016

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domingo, 24 de abril de 2011

Dos confins do Brasil

Está fazendo quase um ano - foi na Expovinis do ano passado - que eu conheci a Guatambu.
Eles estavam entre os 4/5 estandes dos vinicultores da campanha gaúcha logo na entrada da feira. Cheguei até eles pois já conhecia, e apreciava, o trabalho da vinícola Cordilheira de Sant'anna e lá me perguntaram se eu já havia provado os vinhos da Campos de Cima (de Itaqui) e da Guatambu, duas das vinícolas ao lado deles.
Eu não conhecia nenhum dos dois, mas fui conquistada logo de cara! Da Campos de Cima (de Hortência e José Ayub) falarei em outro post, pois hoje vou falar da Guatambu.
Fui recebida por toda família (o que no Brasil é bastante comum no mundo do vinho), pai, mãe, filha e genro. Naquele mesmo dia quase 'obriguei' os donos a me venderem duas garrafas de seu Cabernet Sauvignon e uma delas foi aberta na mesma noite, durante um jantar com vinhateiros muito tradicionais da serra, que ficaram impressionados.
De lá para cá muito vento varreu os campos, e somente no mês passado eu consegui cumprir a promessa de ir conhecer as terras deles, durante a viagem que fiz para a Campanha.
A família Pötter é estabelecida em Dom Pedrito, extremo sul do país, muito próximo da fronteira com o Uruguai e são agropecuaristas importantes não apenas da região, mas do Brasil.
O monumento ao lado - que fica na entrada da cidade - foi doado por eles para a municipalidade no ano passado e celebra a paz farroupilha.
Mas o terroir onde ficam os vinhedos está um pouco afastado da cidade, por uma estrada de terra (ou de chão, como dizem eles) muito boa. Cheguei já no final da tarde, na companhia de Gabriela - a filha mais velha que é agrônoma e especializada em enologia - e de Valter, o pai, que é veterinário de formação, mas cuja lide nos campos lhe ensinou muito mais do que o trato com os animais.
A entrada dos vinhedos está na foto do começo deste post e nesta outra está a casa sede vista dos vinhedos ao cair da tarde.
Os vinhedos são jovens (de 2003) e uma boa parte ainda está sendo implantada. Desde o começo eles tiveram o apoio da Embrapa, na pessoa do enólogo Mauro Zanus, que fez as primeiras vinificações de teste e até hoje os auxilia nos vinhos tranquilos.
Já o primeiro espumante da vinícola - que será lançado nessa próxima semana na Expovinis - vem das mãos do enólogo uruguaio Alejandro Cardozo, da vinícola Piagentini de Caxias do Sul.
Gabriela e o pai (ambos na foto ao lado) estarão aqui em São Paulo apresentando essa e outra novidade, a safra nova do Gewurztraminer, que para mim promete muito, vindo dessa região.
É interessante perceber como a vitinicultura vem se desenvolvendo rapidamente na Campanha Gaúcha, ao meu ver a região nova mais promissora de todo o Brasil. E tenho observado famílias, enólogos e empreendedores, muito empenhados em desenvolver essa indústria em um região até "ontem" conhecida apenas pelos longos campos de pasto e plantio de cereais, que na geografia forma o 'bioma pampa'.
Claro que pesa o fato da Almadén ter sido salva do limbo pela Miolo e da própria Cordilheira de Sant'anna estar disposta a falar de seus desafios e conquistas na mesma região.
Tanto é que a associação dos produtores da Campanha tem como presidente o gerente da Almadén, Afrânio de Morais e como vice Valter Pötter, e luta para que seus 14 vinhateiros e mais um produtor de uvas trabalhem sempre nos mais altos padrões de qualidade, para 'trabalhar certo desde o começo', como eles costumam dizer. E que ninguém deixe de levar esse pessoal a sério, pois além da Miolo - que está lá não apenas com a Almadén mas também com o Seival Estate (antiga Fortaleza do Seival) e com a Bueno Estate - do Galvão Bueno - também a Salton adquiriu uma enormidade de terras por lá. Isso sem contar os outros vinhateiros, que podem parecer pequenos agora, mas não entraram nessa briga para perder, como a Dunamis e a Peruzzo, entre outras.
O que me agradou especialmente na Guatambu (além de seu Cabernet que continuo achando correto, saboroso e com excelente relação de preço x qualidade) é a alegria com a qual trabalham, um profissionalismo que não é artificial, um orgulho em ver os frutos da terra em cada taça, satisfazendo paladares.
Torço para que sigam trabalhando assim e que dessa maneira correta, agradável e profissional, tenham sucesso. E aproveito para contar que compartilho com outros jornalistas amigos da simpatia pelos nomes escolhidos para os vinhos: Rastros do Pampa, Luar do Pampa, Nuances do Pampa.
Em tempo: a vinícola está em construção já, e Gabriela espera poder vinificar a safra 2012 em 'casa própria', que também deverá alavancar o enoturismo da região.

P.S.: A associação de Vinhos da Campanha conseguiu dar um passou ousado. Na cidade de Santana do Livramento, bem na avenida onde o Brasil se funde com a cidade de Rivera no Uruguai, eles adquiriram um imóvel em uma importante avenida que dá acesso às compras no Uruguai. Alí colocaram sua sede e uma loja com os vinhos de seus associados. É uma forma de dar visibilidade e - quem sabe - diminuir as compras de vinhos estrangeiros (muitos deles falsificados) que vem do lado de lá da fronteira.

Um comentário:

  1. Buenas Sílvia, Gracias por tão importantes informações.
    Pra mim que sou de Santana do Livramento é um orgulho saber que a região está em franca expanção de tecnologia e qualidade do nobre Líquido....
    saludos
    Jose@penadelsur.com.br

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