Hoje mostro mais algumas enotecas, espaços dedicados às provas e a compra de vinhos de determinadas regiões (sim, pois a maioria desses espaços é precisamente para mostrar os vinhos de uma determinada região).
Na cidade medieval de Dozza, perto de Bologna, fica a 'Enoteca Regionale Emilia Romagna', localizada no subsolo do palácio Sforza. Um lugar espetacular, por fora e por dentro, que deixa boquiaberto qualquer turista.
Estive lá para uma apresentação sobre a região e uma breve degustação, de três vinhos, em uma espécie de bar de vinhos, ao lado da 'loja' - se é que se pode chamar aquilo de loja - pois o local como já disse, o subsolo de um castelo medieval, é uma joia arquitetônica, adaptada para ser um espaço dos mais de mil rótulos de vinhos da região. Todos os produtores fazem questão de estar lá, pois alguns têm vinícolas muito pequenas e não possuem espaço para receber turistas.
Isso é uma coisa para se pensar, pois aqui no Brasil, muitas vezes, o produtor deveria estar investindo seus recursos para melhorar seus vinhos, mas está investindo em estrutura turística, para atrair gente. Aquele vinho ficará 'quase' bom em um belo lugar, mas provavelmente não terá o mesmo gosto quando a outra garrafa chegar em casa. E o cliente? Vai beber só a lembrança da beleza? Como diz Carlos Cabral, vender a primeira garrafa é fácil, difícil é vender a segunda.
A foto acima é uma cortesia de minha prima Ana Maria, feita na Provence em 2009.
Já na França, onde vinho é levado tão a sério que nem precisa ser coisa séria (é uma espécie de segunda pele nas pessoas), os espaços dedicados à prova (degustação) e venda de vinhos variam de acordo com o estilo da região.
Na Provence, onde o charme está no ar (não por acaso perfumado de lavanda, miguês e rosas), um dos lugares que é parada obrigatória é a Maison des Vins, na cidadezinha de Les-Arcs-sur-Argens. A vinoteca, como eles chamam por lá, é a vitrine dos vinhos da denominação de origem da Provence.
Para se ter uma ideia do profissionalismo desse espaço, a cada dia 16 a 20 vinhos deiferentes estão disponíveis para serem provados pelos visitantes. Os vinhos se alternam todos os dias para que nenhum produtor se sinta prejudicado.
Se o viajante for um conhecedor com mais experiência, pode pedir uma degustação diferenciada e nesse mesmo espaço também são oferecidos cursos de degustação para iniciantes e iniciados.
A Provence está bem representada aqui no Brasil, o grupo 'Vins de Provence' tem boa atuação aqui em SP, e promove alguns eventos através de Raphael Allemand, que trocou a França pelo Brasil há alguns anos e vem fazendo trabalho sério, dedicado, apesar de não ser possível ter aqui uma vinothéque como eles têm lá.
Também é possível encontrar bons vinhos da Provence em um espaço simpático que é 'quase' uma enoteca, a loja e importadora Le Tire Bouchon, no bairro de Santa Cecília aqui em SP. Aliás é uma das poucas boas lojas que não têm medo de ter bons vinhos brasileiros em suas prateleiras (e serve um delicioso cassoulet aos sábados, nas mesas dentro da própria loja).
Também sem preconceitos como a Tire Bouchon, quem mais tenta fazer um trabalho nesse estilo, com nacionais e importados em boa combinação, é a Lis Cereja (sim, ela é tão linda como o nome) e o sommelier Ramatis Russo, em um belo espaço na Vila Olímpia.
No entanto, por conta das forças que atuam na cidade de São Paulo, o espaço - que tinha tudo para ser nossa primeira enoteca 'per se'- é cada dia mais um super agradável restaurante/bistrô, onde os bons vinhos e a boa música ao vivo (jazz e música espanhola em noites especiais) se combinam. Também é importadora e loja, claro.
O nome? Enoteca Saint Vin Saint (foto abaixo, não muito recente, perdoem-me). Ou seja, seria realmente nossa primeira enoteca, uma pena que o mercado (e os 'gérsons' e os impostos) não entende isso direito.
Em meu 'mundo ideal', essas enotecas são espaços despojados, simpáticos, onde passamos para 'uns goles' num dia qualquer, para pegar aquela garrafa diferente para o jantar, onde paramos com uma amiga com a qual queremos conversar (e uma taça de espumante é muito necessária para o bom andamento do papo), onde somos recebidos como velhos conhecidos e quando há uma novidade - quer sejamos clientes de 100 reais ou de mil reais - somos chamados para um gole. E não abusamos, provamos o vinho, falamos a verdade (agrada ou não, eu compraria ou por que não compraria), trocamos 'um dedo de prosa' e seguimos nosso caminho.
Esse lugar, ao menos aqui, não existe.
Bom final de semana e bons goles!
Ah! Os links: http://www.saintvinsaint.com.br/
Oi Silvia,
ResponderExcluirconcordo com vc, pq já visitei vários lugares semelhantes dos quais vc fala na Italia.
Bene,mas penso que , não é somente abrir um espaço ,bistrô/desgustação...
É necessario que haja anterioremente , uma estruturação que deveria ser natural, passada de pai pra filho, reconhecendo a nossa identidade, valorizá-la e demonstrá-la através do seu vinho e do espaço para tal ( sem a necessidade de copiar!).Não necessariamente que deva haver o espaço, mas a mentalidade e entendimento sim.
Falo, pq minha Especilidade é em Patrimônio CULTURAL,minha pesquisa do mestrado (UFRGS), permeia os territórios do vinho,identidade...e trabalhando em Bento Gonçalves,observo o quanto as pessoas estão interessads em somente vender o seu vinho...
O produto final é uma consequência, também econômica, antes do produto final na garrafa, há toda uma estruturação e diferenciação, pois pessoas como vc , procuram a singularidade do vinho e do lugar, vero ?Caso contrário, vc compra o vinho e desgusta em casa, não é mesmo ? Ma, dove restano alora, queli momenti indimenticabili e meravigliosi che possiamo vivere attraverso il vino nei suoi luoghi ?
Buon fine settimana !
Arq.Urb.Marilei Piana Giordani
Bento Gonçalves- RS
Prezada Marilei,
ResponderExcluireu não poderia concordar mais com o seu ponto de vista!
Ano passado, durante o congresso de Enoturismo o assunto de Patrimônio Cultural e Paisagem Vitícola foi abodado brilhantemente pel espanhol José Elias Pastor, da Vinã Tondônia.
Acredito que sua tese, nas mãos das pessoas certas, só poderá dar bons frutos. Frutos esses, que toda a sociedade poderá aproveitar, com bom gosto e discernimento!
Obrigado pela mensagem!
Sim, Silvia,
ResponderExcluirConversei com José Elias ( maravilhoso!) no Congresso e inclusive apresentei meu artigo no evento cientifico- Paisagem Cultural e o Enoturismo no Vale dos Vinhedos,sendo q este foi realizado depois que o Congresso havia terminado,com uma platéia de no máximo 10 pessoas, fora os 7 que apresentaram..,
Mas parece que as pessoas daqui, acham mais singificativo o Patrimônio Vinícola da França,Itália, Espanha..., e o seu fica sempre em segundo plano, ou totalmente invisibilizado quando se mostra a identidade do vinho brasileiro.Tudo é um conjunto de iniciativas,ações, gestão, que resulta no produto final, na garrafa e no ambiente que o cerca e aí, o torna singular !vero ?
As pessoas daqui tem dificuldade de entender este posicionamento ( mas acham maravilhoso o José Elias falando...), de que o vinho não é só uma bebida, mas um produto cultural , mas para visualizar , é necessário pessoas capacitadas, Especilistas, e com o olhar técnico que sabem diferenciar a singularidade.
abbracci cara !
Ti lascio mia home page
wwww.arqmarileipianagiordani.com.br
querida!! adorei o post....e obrigada por todos os elogios!!
ResponderExcluirbeijos!!!
Silvia!!
ResponderExcluirI have a dream!!! Será que um dia, num futuro não tão distante, alguém se inspira e abre uma enoteca dessas aqui em Bento Gonçalves?! Ai... depois que fiquei num hotel pertinho de Verona que tinha anexa uma enoteca assim, fiquei com muita saudade!!! Ir lá, beber no balcão, e beliscar alguma coisinha... que sonho.
Enquanto tento fazer algo assim com meus vinhos aqui no Spazio, sinto por muitas pessoas, que esta cultura ainda está "gestando" aqui.
Mais um detalhe - o cachorrinho na última foto :) amei!
Bem... mas a arquiteta eu já tenho, a Marilei, do comentário aí em cima, fez o projeto do Spazio pra nós.
Baccioni!
Bruna
Ciao Bruna !
ResponderExcluirGrazie! Voi avete uno Spazio con segno di qualitá nel vostro progetto!
Isso é o importante, quando se ressalta a identidade do lugar e das pessoas ali vivem e tranformam o vinho em um produto cultural e singular.
Baci alle due !
Marilei