Fiquei tão interessada que pedi para ele me escrever sobre o assunto para eu poder colocar aqui.
O texto (com fotos e tudo!) está abaixo.
Adorei! Só poderia apreciar mais se tivesse estado presente nesse momento raro.
Detalhe: até onde sei nenhuma daquelas pessoas sequer trabalhou para a extinta Bacardi-Martini, mas isso mostra como o vinho brasileiro vem sendo levado a sério pelas pessoas envolvidas no meio. Degustar, conhecer e estudar, tudo isso faz parte do crescimento de nossa indústria.
Vinícius, muito obrigado meu amigo!
"Era domingo, início da tarde e eu viajando
de Canela para Porto Alegre. Mecanicamente pego o celular para dar uma olhada
no twitter e vejo que o pessoal do @vinhosdobrasil está preparando uma
degustação de vinhos Baron de Lantier, de 92 a 97. Eno-gerontófilo assumido que
sou, mais que depressa telefonei para o Orestes, assessor de imprensa do
Ibravin, pra ver se ele sabia de alguma coisa e, mais do que isso, me incluir
na degustação. Ele atende ao telefone e, para o meu desgosto, não sabia de
nada. Falou que isso era coisa do Maurício Roloff, jornalista responsável pelas
mídias digitais dos Vinhos do Brasil, mas que no dia seguinte iria conversar
com o pessoal do Ibravin e me daria um retorno.
Na segunda-feira à tarde, recebo uma
ligação do Orestes, confirmando a minha presença na degustação que aconteceria
no Restaurante Per Manggiare em Caxias do Sul e, mais do que isso, teria carona
garantida com o gerente de marketing do Ibravin, Diego Bertolini. Tudo
acertado, na terça-feira, 28 de junho, às 18h encontrei-me com o Diego e com o
Maurício para irmos à Caxias. A expectativa dos três era imensa, assim como o
receio de que os vinhos estivessem mortos, ou pior, decrépitos.
Chegando ao Per Manggiare, encontramos o organizador da degustação, o
sommelier Arlindo Menoncin e o proprietário do restaurante e dos vinhos, Afonso
Golin, enófilo e ex-presidente da SBAV-Caxias do Sul. Também estavam presentes:
o jornalista Irineu Guarnier Filho, apresentador do programa “E por falar em
vinhos” do Canal Rural; a jornalista Andreia Debon, do jornal O Florense e da
revista Bon Vivant; o sommelier César Curra, da vinícola Viapiana, de Flores da
Cunha.
Os vinhos foram abertos do mais antigo para
o mais jovem, aumentando assim a chance de boas surpresas. Todos eles foram
devidamente decantados, para evitar possíveis borras. A primeira (boa) impressão
veio das rolhas. Com exceção da amostra 95 que quebrou, nenhuma apresentou
falhas ou vazamentos. Abaixo, a descrição resumida de cada amostra:
1. BARON DE LANTIER – CABERNET
SAUVIGNON – VINDIMA 1992 – 11,5%
BACARDI-MARTINI DO BRASIL
INDÚSTRIA E COMÉRCIO
V: Límpido e brilhante, com coloração
atijolada. Boa intensidade de cor.
O: Volátil, com algo a frutas vermelhas
em compota e uvas passa. Notas de oxidação e vinagre balsâmico.
P: Grande acidez e vivacidade, com
taninos ainda presentes. Seus aromas evocam vinho do porto tawny, mas muito
magro. Pouco persistente.
Vinho velho, cansado de
guerra, mostrando seu último suspiro. Seus aromas volatilizaram rapidamente,
deixando apenas a imagem do que foi um dia.
2. BARON DE LANTIER – CABERNET
SAUVIGNON – VINDIMA 1993 – 11%
BACARDI-MARTINI DO BRASIL
INDÚSTRIA E COMÉRCIO
V: Límpido e brilhante, com coloração
atijolada. Boa intensidade de cor.
O: Resinoso e algo herbáceo, com notas
de nozes e castanhas. Depois de um tempo na taça, apresentou notas de açúcar
queimado.
P: Boa intensidade de boca, com taninos
presentes e acidez média. Apresentou notas de madeira e nozes no paladar, com
persistência média-baixa.
Mostrou-se melhor no nariz
do que em boca, com bom volume e melhor persistência que a amostra anterior.
Vinho velho, com algo a dizer.
3. BARON DE LANTIER – CABERNET
SAUVIGNON – VINDIMA 1994 – 11,4%
BACARDI-MARTINI DO BRASIL
INDÚSTRIA E COMÉRCIO
V: Límpido e brilhante, com coloração
atijolada. Boa intensidade de cor.
O: De início, notas de redução que, com
a oxigenação, foram se transformando em passas, couro, resina, balsâmico,
champignons e notas defumadas. Boa intensidade.
P: Excelente acidez e boa adstringência,
com taninos sedosos. Boa intensidade de boca, com notas de resina e kirsch.
Persistência média.
Apresentou grande
equilíbrio e boa complexidade do início ao fim da degustação. Foi o destaque da
noite. Um senhor de idade, sem muito pela frente, mas de riqueza evidente.
4. BARON DE LANTIER – CABERNET
SAUVIGNON – VINDIMA 1995 – 11%
BACARDI-MARTINI DO BRASIL
INDÚSTRIA E COMÉRCIO
V: Turvo, com partículas em suspensão. Alaranjado.
O: Notas adocicadas evocando mel. Algo
terroso e herbáceo, com resina, erva seca e notas tostadas.
P: Boa acidez e taninos presentes, com
algo a fruta na boca. Curto e mais discreto que o anterior.
Vinho curto, pouco
expressivo. Não chegava a ser desagradável, mas era básico. Um vinho velho.
5. BARON DE LANTIER – CABERNET
SAUVIGNON – VINDIMA 1996 – 11,2%
BACARDI-MARTINI DO BRASIL
INDÚSTRIA E COMÉRCIO
V: Alaranjado, limpo e brilhante.
O: Xaroposo, apresentando iodo e frutas
em calda. Notas de maçã cozida.
P: Boa acidez e adstringência intensa.
Ataque intenso, mas curto no fim de boca.
Outro vinho curto e pouco
complexo. Ótimo ataque, mas decepcionante no final. Outro vinho velho.
6. BARON DE LANTIER – CABERNET
SAUVIGNON – VINDIMA 1997 – 11,4%
BACARDI-MARTINI DO BRASIL
INDÚSTRIA E COMÉRCIO
V: Opaco, de coloração alaranjada e com
pouca intensidade.
O: Boa intensidade aromática, com frutas
vermelhas (cerejas, groselhas).
P: Boca grande, com bom frescor e
taninos não plenamente fundidos. Apresentou notas de kirsch e cerejas em calda
no fim de boca. Persistência média.
Impressionou pela potência,
apesar da idade. Boa fruta no nariz e no fim de boca, sendo o segundo vinho
mais agradável da noite. Outro senhor de idade, com menos riqueza que o 94, mas
com boas histórias pra contar.
Alguns fatos chamaram a atenção de todos
durante a degustação como o baixo teor alcoólico dos vinhos, a boa acidez e
taninos ainda presentes. Todos os vinhos eram velhos, mas nenhum se mostrou
senil ou morto. A degustação foi um testemunho do poder de guarda dos vinhos
brasileiros, mesmo antes das grandes mudanças que ocorreram na virada do
século. Mostra também a vocação que a Serra Gaúcha possui para a elaboração de
vinhos gastronômicos, com teor alcoólico não muito elevado e boa acidez.
Após a degustação, o grupo foi convidado a jantar no Restaurante Per
Manggiare, mas esse é assunto para outra conversa. Agradeço ao Afonso pela
generosidade imensa em ceder os vinhos e proporcionar um jantar delicioso. Ao
sommelier Arlindo Menoncin pela organização e perfeita condução da degustação.
E ao Ibravin pelo convite para participar desse momento memorável.
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