Colheita 2016

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quinta-feira, 30 de junho de 2011

Uma degustação rara!

O sommelier Vinícius Santiago, que é mezzo paulistano mezzo gaúcho, me contou sobre uma degustação raríssima da qual participou nos últimos dias lá em Caxias do Sul.
Fiquei tão interessada que pedi para ele me escrever sobre o assunto para eu poder colocar aqui.
O texto (com fotos e tudo!) está abaixo.
Adorei! Só poderia apreciar mais se tivesse estado presente nesse momento raro.
Detalhe: até onde sei nenhuma daquelas pessoas sequer trabalhou para a extinta Bacardi-Martini, mas isso mostra como o vinho brasileiro vem sendo levado a sério pelas pessoas envolvidas no meio. Degustar, conhecer e estudar, tudo isso faz parte do crescimento de nossa indústria.
Vinícius, muito obrigado meu amigo!


"Era domingo, início da tarde e eu viajando de Canela para Porto Alegre. Mecanicamente pego o celular para dar uma olhada no twitter e vejo que o pessoal do @vinhosdobrasil está preparando uma degustação de vinhos Baron de Lantier, de 92 a 97. Eno-gerontófilo assumido que sou, mais que depressa telefonei para o Orestes, assessor de imprensa do Ibravin, pra ver se ele sabia de alguma coisa e, mais do que isso, me incluir na degustação. Ele atende ao telefone e, para o meu desgosto, não sabia de nada. Falou que isso era coisa do Maurício Roloff, jornalista responsável pelas mídias digitais dos Vinhos do Brasil, mas que no dia seguinte iria conversar com o pessoal do Ibravin e me daria um retorno.
Na segunda-feira à tarde, recebo uma ligação do Orestes, confirmando a minha presença na degustação que aconteceria no Restaurante Per Manggiare em Caxias do Sul e, mais do que isso, teria carona garantida com o gerente de marketing do Ibravin, Diego Bertolini. Tudo acertado, na terça-feira, 28 de junho, às 18h encontrei-me com o Diego e com o Maurício para irmos à Caxias. A expectativa dos três era imensa, assim como o receio de que os vinhos estivessem mortos, ou pior, decrépitos.
Chegando ao Per Manggiare, encontramos o organizador da degustação, o sommelier Arlindo Menoncin e o proprietário do restaurante e dos vinhos, Afonso Golin, enófilo e ex-presidente da SBAV-Caxias do Sul. Também estavam presentes: o jornalista Irineu Guarnier Filho, apresentador do programa “E por falar em vinhos” do Canal Rural; a jornalista Andreia Debon, do jornal O Florense e da revista Bon Vivant; o sommelier César Curra, da vinícola Viapiana, de Flores da Cunha.

Os vinhos foram abertos do mais antigo para o mais jovem, aumentando assim a chance de boas surpresas. Todos eles foram devidamente decantados, para evitar possíveis borras. A primeira (boa) impressão veio das rolhas. Com exceção da amostra 95 que quebrou, nenhuma apresentou falhas ou vazamentos. Abaixo, a descrição resumida de cada amostra:

1.     BARON DE LANTIER – CABERNET SAUVIGNON – VINDIMA 1992 – 11,5%
BACARDI-MARTINI DO BRASIL INDÚSTRIA E COMÉRCIO
V: Límpido e brilhante, com coloração atijolada. Boa intensidade de cor.
O: Volátil, com algo a frutas vermelhas em compota e uvas passa. Notas de oxidação e vinagre balsâmico.
P: Grande acidez e vivacidade, com taninos ainda presentes. Seus aromas evocam vinho do porto tawny, mas muito magro. Pouco persistente.
Vinho velho, cansado de guerra, mostrando seu último suspiro. Seus aromas volatilizaram rapidamente, deixando apenas a imagem do que foi um dia.

2.     BARON DE LANTIER – CABERNET SAUVIGNON – VINDIMA 1993 – 11%
BACARDI-MARTINI DO BRASIL INDÚSTRIA E COMÉRCIO
V: Límpido e brilhante, com coloração atijolada. Boa intensidade de cor.
O: Resinoso e algo herbáceo, com notas de nozes e castanhas. Depois de um tempo na taça, apresentou notas de açúcar queimado.
P: Boa intensidade de boca, com taninos presentes e acidez média. Apresentou notas de madeira e nozes no paladar, com persistência média-baixa.
Mostrou-se melhor no nariz do que em boca, com bom volume e melhor persistência que a amostra anterior. Vinho velho, com algo a dizer.

3.     BARON DE LANTIER – CABERNET SAUVIGNON – VINDIMA 1994 – 11,4%
BACARDI-MARTINI DO BRASIL INDÚSTRIA E COMÉRCIO
V: Límpido e brilhante, com coloração atijolada. Boa intensidade de cor.
O: De início, notas de redução que, com a oxigenação, foram se transformando em passas, couro, resina, balsâmico, champignons e notas defumadas. Boa intensidade.
P: Excelente acidez e boa adstringência, com taninos sedosos. Boa intensidade de boca, com notas de resina e kirsch. Persistência média.
Apresentou grande equilíbrio e boa complexidade do início ao fim da degustação. Foi o destaque da noite. Um senhor de idade, sem muito pela frente, mas de riqueza evidente.

4.     BARON DE LANTIER – CABERNET SAUVIGNON – VINDIMA 1995 – 11%
BACARDI-MARTINI DO BRASIL INDÚSTRIA E COMÉRCIO
V: Turvo, com partículas em suspensão. Alaranjado.
O: Notas adocicadas evocando mel. Algo terroso e herbáceo, com resina, erva seca e notas tostadas.
P: Boa acidez e taninos presentes, com algo a fruta na boca. Curto e mais discreto que o anterior.
Vinho curto, pouco expressivo. Não chegava a ser desagradável, mas era básico. Um vinho velho.

5.     BARON DE LANTIER – CABERNET SAUVIGNON – VINDIMA 1996 – 11,2%
BACARDI-MARTINI DO BRASIL INDÚSTRIA E COMÉRCIO
V: Alaranjado, limpo e brilhante.
O: Xaroposo, apresentando iodo e frutas em calda. Notas de maçã cozida.
P: Boa acidez e adstringência intensa. Ataque intenso, mas curto no fim de boca.
Outro vinho curto e pouco complexo. Ótimo ataque, mas decepcionante no final. Outro vinho velho.

6.     BARON DE LANTIER – CABERNET SAUVIGNON – VINDIMA 1997 – 11,4%
BACARDI-MARTINI DO BRASIL INDÚSTRIA E COMÉRCIO
V: Opaco, de coloração alaranjada e com pouca intensidade.
O: Boa intensidade aromática, com frutas vermelhas (cerejas, groselhas).
P: Boca grande, com bom frescor e taninos não plenamente fundidos. Apresentou notas de kirsch e cerejas em calda no fim de boca. Persistência média.
Impressionou pela potência, apesar da idade. Boa fruta no nariz e no fim de boca, sendo o segundo vinho mais agradável da noite. Outro senhor de idade, com menos riqueza que o 94, mas com boas histórias pra contar.
Alguns fatos chamaram a atenção de todos durante a degustação como o baixo teor alcoólico dos vinhos, a boa acidez e taninos ainda presentes. Todos os vinhos eram velhos, mas nenhum se mostrou senil ou morto. A degustação foi um testemunho do poder de guarda dos vinhos brasileiros, mesmo antes das grandes mudanças que ocorreram na virada do século. Mostra também a vocação que a Serra Gaúcha possui para a elaboração de vinhos gastronômicos, com teor alcoólico não muito elevado e boa acidez.
Após a degustação, o grupo foi convidado a jantar no Restaurante Per Manggiare, mas esse é assunto para outra conversa. Agradeço ao Afonso pela generosidade imensa em ceder os vinhos e proporcionar um jantar delicioso. Ao sommelier Arlindo Menoncin pela organização e perfeita condução da degustação. E ao Ibravin pelo convite para participar desse momento memorável.






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