...uma vinícola chamada "Companhia Vinícola Riograndense", da cidade de Flores da Cunha (RS).
Ela foi muito grande para os padrões brasileiros do começo do século passado. Chegou a ser a maior do país.
Segundo o livro "Presença do Vinho no Brasil", do mestre Carlos Cabral, em 1938 eles lançaram os primeiros vinhos com as variedades das uvas no rótulo, criando nos brasileiros o hábito de pedir vinhos pela cepa.
A marca desses vinhos? Granja União. Na foto ao lado estão as terras dos antigos vinhedos da empresa, que se desfez na década de 1990.
Os vinhedos ficaram com a vinícola Luiz Argenta, que recuperou o solo, a casa antiga e construiu a mais moderna e inovadora vinícola do país. Já falei deles aqui, por isso não vou me alongar nessa parte.
As terras, como disse, ficaram com a Luiz Argenta, mas a marca foi parar no Vale dos Vinhedos, na Vinícola Cordelier. É uma propriedade impressionante, logo na entrada do Vale dos Vinhedos, lembrando à todos que estamos em 'terras de imigrantes' com sua arquitetura à la Toscana (foto abaixo).
Os vinhos da Cordelier são bastante premiados, seus espumantes de alta qualidade e seu tinto Equilibrium, são legítimos representantes do que o Brasil faz bem, pelas mãos do enólogo Dario Crespi.
A linha Granja União permanece firme, com muitos varietais.
Nesse mesmo prédio que se vê acima, fica a loja e um restaurante muito diferenciado, o Don Ziero (foto abaixo) onde já estive várias vezes e sempre saí satisfeita, seja com o atendimento, com o ambiente e com a comida.
Mas agora, tudo muda de mãos. O proprietário da Cordelier (Lídio Ziero) vendeu a marca Granja União para a Cooperativa Vinícola Garibaldi e vendeu as instalações da empresa para uma fábrica de destilados de uma cidade próxima. A marca Cordelier, no entanto, permanece em seu poder, mas ainda não se sabe o que será feito dela.
Há algum tempo vinham circulando rumores de que a vinícola não ia bem. Mas rumores devem ser escutados com muito cuidado, pois podem ser enganosos. Que a vinícola estava à venda, isso eu já sabia há algum tempo, mas não imaginei que fosse ser loteada, com as marcas para vários lados e a estrutura para outro.
É triste.
No entanto, toda história tem mais de um lado, e esta tem o lado de quem comprou a marca Granja União. Um lado bem mais feliz. Na foto abaixo está Oscar Ló, presidente da Cooperativa Garibaldi, a nova proprietária da marca.
A Garibaldi tem vários motivos para comemorar, pois amanhã celebrará 80 anos de fundação, com uma festança para seus quase 340 associados, e planeja dobrar a venda de vinhos finos com a entrada da Granja União em seu portfolio.
Em 2010 a empresa comercializou 280 mil garrafas de vinhos finos, o que já representava um acréscimo de 45% em relação à 2009, segundo dados informados pela própria empresa.
Quanto às mudanças que serão feitas na nova aquisição, elas serão muito pequenas, segundo afirma Oscar Ló: "Só iremos acrescentar um moscatel e mudaremos o espumante brut, mas permaneceremos com o riesling, malvasia, merlot, cabernet franc, cabernet sauvignon e tannat”, revela Oscar, “Não tem por que modificar um produto plenamente aprovado pelo consumidor”.
Agora, só resta saber no que se transformará a bela estrutura da Cordelier, o seu agradável restaurante e para onde irão funcionários que há décadas se dedicam aos bons vinhos brasileiros.
Rei Morto, Rei Posto.