Nas últimas semanas venho degustando mais vinhos do que o normal, e acabo me lembrando do nome brincalhão que o jornalista Roberto Gerosa dá para seu grupo de degustadores: "os homens que cospem vinho"!
É assim que tenho me sentido às vezes, cuspindo mais do que fazendo qualquer outra coisa.
No entanto, preciso dizer que tenho tido muito mais agradáveis surpresas do que decepções, entre as centenas de garrafas de vinhos brasileiros que passaram por minha taça nos últimos tempos.
Vinícolas das quais eu nunca havia ouvido falar (ignorância minha, com certeza), dos estados do Paraná e do Rio Grande do Sul, causaram grande comoção em nossa equipe de degustadores, pela excepcional qualidade dos produtos que apresentaram.
Um detalhe: tudo, absolutamente tudo, degustado às cegas, sem sabermos o que estava naquelas taças, com uma simples ordenação feita pelo sommelier que nos atende, para facilitar nossa vida de cuspidores de vinhos.
Que ordem é essa afinal?
Pois bem, essa também é uma das atribuições de um sommelier bem treinado: organizar degustações, e não apenas deixar as taças limpas, as cuspideiras com um guardanapo de papel dentro, a sala sem nenhum aroma estranho, as bebidas na temperatura correta. Além de tudo isso ele deve ser capaz de avaliar aquelas amostras e separá-las.
Vou dar um exemplo fácil: entre os espumantes, em primeiro lugar sempre os Nature ou Extra Brut, depois os Brut, os Demi-Sec e os Moscatéis. Por que? O açúcar residual, nesse caso específico, tem enorme efeito na percepção do vinho, então começamos sempre pela menor quantidade de açúcar e vamos até a maior. Um bom sommelier precisa saber fazer isso.
Quem nos atende é o competente Ney (na foto ao lado), da Praça São Lourenço que fica na Vila Olímpia, em São Paulo.
Além de boa gente, ele é aquilo que se espera de um sommelier: interessando, organizado, tranquilo mesmo que a degustação esteja lhe tomando um precioso tempo de descanso, e tem bom paladar, sem preconceitos. Também gostamos de consultá-lo quando estamos em dúvida a respeito de um vinho que não parece aquilo que deveria ser.
O trabalho do sommelier é complicado, não apenas pelo fato da profissão ainda não ser tão levada à serio como deveria neste país (quantas outras profissões afinal também passam por isso?), mas também pelo fato de que muita gente que trabalha com vinhos não tem seriedade no que faz. Aproveita o assédio dos produtores e/ou importadores para conseguir amostras, viagens, e - muitas vezes - dinheiro que não deveria chegar até seu bolso dessa forma. Alguns donos do restaurante, por sua vez, fazem vista grossa para essas práticas pois acreditam que isso enriquece o sommelier e (melhor de tudo para ele), é um dinheiro que não tem que sair de seus próprios bolsos.
No entanto, muitas vezes a casa (restaurante) acaba sofrendo com isso, pois vinhos que não seriam ideais para os pratos da casa, entram na carta pelo viés do ganho extra do sommelier.
Por isso é legal observar quem parece trabalhar com mais afinco e seriedade, como lá na Praça.
Em todas as profissões existem desafios, problemas que temos que contornar às vezes com um jeitinho que não gostaríamos de dar, mas aquelas que atendem o público diretamente estão ainda mais expostas às críticas e às práticas duvidosas que podem parecer não comprometer logo de cara, mas o fazem a longo prazo.
Talvez sejamos menos ricos finaceiramente trabalhando com seriedade e respeito ao próximo, mas com certeza a nossa consciência está mais tranquila, nosso sono é mais apaziguado e nunca irá nos faltar nada, nem vinho!
www.pracasaolourenco.com.br
Bons goles e boa semana de frio!
terça-feira, 5 de julho de 2011
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