Colheita 2016

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domingo, 31 de julho de 2011

PRECONCEITO - Substantivo Masculino

Segundo o Dicionário Novo Aurélio Século XXI: preconceito  [De pre + conceito] 1. Conceitos ou opinião formados antecipadamente, sem maior ponderação ou conhecimento dos fatos; ideia preconcebida. 2. Julgamento ou opinião formada sem se levar em conta o fato que os conteste; prejuízo. 3. Por extensão: Superstição, crendice; prejuízo. 4. Por extensão: Suspeita, intolerância, ódio irracional ou aversão a outras raças, credos, religiões etc.



E você? Tem preconceitos?
Aposto que vai dizer que não.
Vai dizer que nunca fecha o vidro quando vê pedintes no semáforo ("Não é preconceito, é medo"), que nunca pensou que outros estados brasileiros são mais pobres por conta das pessoas que neles vivem ("É cultural, não vai mudar, é da natureza deles"), que nunca olhou para um gordinho na fila da salada da churrascaria e pensou "ah tá bom que ele come salada", que nunca deixou de comprar uma peça pois embaixo dela estava escrito "Made in China".
Não, você não tem preconceitos, os outros é que têm.
Claro que você nunca foi a um casamento onde estavam servido espumantes brasileiros e pensou "que pobreza, será que não dava para servir um lambrusquinho, um prosequinho", claro que você nunca foi a uma reunião de queijo e vinho na casa de um amigo e deixou de levar aquela garrafa de vinho brasileiro pois "ia pegar mal chegar lá com uma garrafa de vinho brazuca".
É claro que você não é assim. Afinal, se fosse não estaria lendo este blog, certo?
Então você não é preconceituoso, você apenas oculta um pouquinho a verdade quando lhe convêm. Puxa, tudo mundo faz isso certo?
Sim, aparentemente em nossa sociedade todo mundo faz isso. Triste, mas verdadeiro em uma enormidade de casos.
MAS...isso não faz as coisas ficarem certas, isso não auxilia nem conserta nada. Não contribui com nada.
Ontem eu estava assistindo (tentando assistir ao menos) a extremamente tediosa cerimônia de sorteio das chaves da Copa do Mundo de Futebol, que aconteceu na Marina da Glória, no Rio de Janeiro. Puxa como aquilo foi chato! Mas era necessário e foi o primeiro evento oficial, em solo brasileiro, da enorme competição que está por vir.
Não vou entrar no mérito de que vai dar tempo de construir tudo o que tem que ser construído, consertar o que precisa de reparos ou limpar o que está sujo. Muito menos vou falar da qualidade do futebol praticado por jogadores que faturam por mês o mesmo que algumas cidades do interior arrecadam.Deixo isso para os blogueiros do esporte.
No final das contas, até que fiquei contente com a transmissão. Achei as piadinhas dos apresentadores mal ensaiadas mas inofensivas, achei que o palco (meio "cerimônia do Oscar") estava adequado, achei as apresentações musicais ruins (à exceção do neto do Jobim), mas ainda assim corretas para aparecermos no exterior, e fiquei pensando no quanto teremos que lapidar, martelar, dirimir e engolir nossos preconceitos para podermos sediar uma Copa do Mundo.
E aí? Vamos servir Prosecco na Copa? Vamos servir 'reservado' sulamericano, vamos servir 'super toscanos' para provarmos que somos globalizados, que temos dinheiro?
E você? Qual é a imagem do país onde você vive, que você sustenta, que lhe dá o sustento, que lhe dá as raízes, que você vai querer apresentar para o mundo todo que vai estar nos observando e julgando?
Para falar mal ou bem é preciso conhecer, senão fica como a explicação do dicionário "Conceito formado sem maior apreciação ou conhecimento dos fatos", e olha que não vale aquela sua experiência de dez anos atrás, com sua turma, quando todo mundo estava meio bêbado e bebeu a porcaria de vinho de garrafão que estava na frente.
Que fique claro que eu não vou deixar de beber Proseccos, vinhos chilenos, argentinos, italianos, espanhóis, portugueses, australianos, sulafricanos, alemães etc, até que minha saúde assim o permita.
Mas se quando eu vou à Itália sou apresentada aos vinhos italianos (todo mundo sabe que nem tudo o que se faz lá são Proseccos DOCG, grandes Barolos, super toscanos, etc) de todos os estilos e tipos, quando vou ao Chile ou à Argentina acontece a mesma coisa, porque quando vem um estrangeiro ao Brasil eu tenho vergonha, preconceito, ou o que quer que seja de apresentar o que é feito aqui?
Toda caipirinha é boa? Nem todas. Caipirinha é coisa séria e é difícil de fazer. Toda feijoada é gostosa? Nem todas, aliás poucas são realmente boas.
O vinho é sim uma de nossas tradições herdadas, não apenas dos portugueses que nos colonizaram, como dos italianos e espanhóis que vieram habitar em nossas terras há muitos, muitos anos.
Tradição por tradição estaríamos bebendo cauím até hoje e nada mais.
Então, precisamos conhecer mais, saber mais sobre quem somos, sobre o que fazemos. Deixar a arrogância, a soberba, o preconceito de lado por algum tempo e provarmos os vinhos brasileiros de coração aberto. É preciso conhecer para criticar e ouso dizer que também é preciso conhecer para apreciar.
Isso haverá de enriquecer não apenas a nossa forma de receber os estrangeiros, mas a nós mesmos, que poderemos nos orgulhar de nossos produtos, de nossa herança cultural e de nosso aprimoramento tecnológico.
Pense nisso, sem preconceitos, por favor!


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