Colheita 2016

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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

IPs e DOs

Bom dia!
Feliz semana de verão para todos!
Indico a leitura da matéria de hoje do Jornal do Comércio de Porto Alegre (link está abaixo), que entrevista o presidente da Aprovale, Rogério Valduga, empresário e vitivinicultor gaúcho, sobre o desconhecimento dos consumidores acerca das Indicações de Procedência e das Denominações de Origem, não apenas de vinhos, mas também de outros produtos, como queijos, café e até mesmo as panelas de barro feitas no Espírito Santo, que agora tem certificação de origem.

http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=85803

Concordo com Valduga em muitos aspectos, mas vou mais longe ainda: acho que o brasileiro médio (que é precisamente o consumidor que precisa ser conquistado pela indústria vitivinícola) vem sofrendo, nos últimos 20 anos, de um desconhecimento atroz sobre variados temas de nossa cultura e tradições.
Vou por ênfase aqui na palavra desconhecimento, subproduto das falhas que vem sendo cometidas nos últimos 30 anos no processo educacional brasileiro, do qual já falei aqui. Mas não apenas isso.
A maior parte dessas pessoas entende como 'cultura' aquilo que a mídia de massa propaga, ou seja, a fácil trilogia "futebol, carnaval e cerveja (ou cachaça)".
O que ninguém se detêm para pensar é que essa trilogia é alimentada por milhões e milhões de dinheiros (sim, pois existe mais de uma moeda em jogo aqui) que, num círculo vicioso e viciante, alimentam e conservam essa mídia de massa, e portanto, se não houver 'dinheiros' nos bolsos certos, é apenas disso que a mídia vai falar, e é apenas isso que o brasileiro médio vai entender como 'seu'.
Não tenho nada contra essa trilogia, entendam. E sei que isso também é Brasil, mas não apenas isso.
Temos praias (muitas), vales, montanhas, grandes cidades, canyons, rios e riachos, corredeiras e cordilheiras, quedas d'água e cachoeiras, caatinga e pantanal, floresta tropical e subúmida, campos e planícies.
Somos brasileiros portugueses, brasileiros italianos, brasileiros espanhóis, brasileiros índios, brasileiros  africanos, brasileiros árabes (libaneses/turcos/marroquinos), brasileiros orientais (japoneses/chineses/coreanos), brasileiros sulamericanos (argentinos/paraguaios/colombianos/peruanos), brasileiros alemães (poloneses/húngaros/búlgaros). Somos brasileiros de todas as etnias.
Temos Carnaval, temos Bumba-meu-Boi, temos Congada, Folia de Reis, Festa de Vindima e da Uva, Festas Juninas monumentais, o Círio de Nazaré e a Lavagem das Escadarias do Bomfim, entre tantas outras festas que celebram o sincretismo religioso e a "panela de pedra-sabão borbulhante" de cultura que é este país.
É por tudo isso que concordo sim, com o que disse Rogério Valduga, mas acho que a solução do problema passa por uma coisa que ninguém quer encarar: a falta de educação focada na cultura geral e popular que vem junto com ela.
Quando eu critico programas do tipo BBB o que eu estou criticando, na verdade, é o 'zero' de informação que está por detrás dessa programação (e nem estou discutindo aqui o aspecto psicológico de um viver 'através' de personagens televisivos). Não estou, também, defendendo aquelas programações 'culturais' de alguns canais alternativos que se dedicam à horas e horas de uma mesma coisa dita cultural, sem narração, sem trilha-sonora, sem atrativos.
Para fazer uma comparação rápida e utilizando a mesma rede de televisão, tomamos o Globo Repórter, um dos programas de maior audiência desse canal. E dentro dele quais são os 3 tipos de reportagem que mais despertam atenção? Saúde, Natureza e Aventura. Ou seja, fora os temas de saúde (que não raro fazem paralelo com a medicina natural e com as tradições de cada região), tudo o mais fala de cultura, tradição e regionalidade.
Ou seja, é um racionício raso dizer que o BBB é o que a polulação quer ver. O BBB é, sim, uma forma de fazer a população comprar um lixo travestido de entretenimento. Dá mais audiência e dinheiro do que o Globo Repórter, com certeza.
Por fim, não acredito (e nem desejo) um mundo de 'direita nacionalista' onde todos os desenhos animados japoneses sejam trocados pela Emília ou pelo Jeca Tatu, e todos os brinquedos da Disney sejam substituídos pelo Cocoricó. Esse movimento de globalização é sem volta, não tem choro nem vela quanto a isso.
Mas acredito que uma nação bem educada faz escolhas mais inteligentes, e sabe quando está sendo iludida ou ludibriada e algumas vezes até permite isso, pela conveniência da catarse. E a palavra chave aqui é conhecimento. Nada, nada substitui a informação e o conhecimento, em nenhuma instância de nosso viver.
Bons brindes nesta semana quente!

"Em fevereiro (em fevereiro) tem carnaval (tem carnaval). Tenho um fusca e um violão. Sou flamengo e tenho uma nêga chamada Teresa, mas que beleza!" Jorge Benjor

3 comentários:

  1. Concordo em gênero, número e grau! (que expressão antiga!!!)
    Vanja Hertcert

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  2. Parabens pelo post,

    Estamos iniciando uma nova importadora e queremos com sua opiniao.

    http://www.somostintos.blogspot.com/2012/02/vinhos-espanhois-somos-tintos.html

    Um abraço

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  3. Oi Silvia! Faz tempo que não passo por aqui... Concordo contigo, um dos problemas 'culturais' do Brasil é a falta de conhecimento da sua própria cultura regional. Gosto, por exemplo, de ver valorizado nosso RS na novela das 6 da Globo. As pessoas vestidas, carinho, uma trama leve... Incomparável com os programas de horários mais adiantados, que foram banidos da minha casa. BBB, não sei nem do que se trata. Daí, como é época de férias, meus filhos querem dormir na casa de amigos. E nessas casas se assiste esses programas. Vem a questão: por que eu não posso assistir? Haja argumentos para explicar antes de perder a paciência...
    É uma questão cultural, como diz a minha mãe e eu repito sempre.
    bjks

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