Minha cabelereira, que bebe vinho mas quase não tem nenhuma ideia do que está provando, me perguntou ainda nesta semana se todo vinho tinto é seco e todo branco é doce, pois ela sempre achou isso óbvio.
Vejam só quão básica é essa pergunta na cabeça de alguém.
Eu tive que começar pedindo para que ela se lembrasse das uvas de mesa, as uvas que comemos no Natal e no Ano Novo aqui em SP. Se ela não tinha percebido que as escuras eram tão doces (e muitas vezes até mais) quanto as brancas.
Ela disse que sim, e só então parou para pensar e vi em seu rosto aquele vislumbre de entendimento.
Claro que é uma pessoa que não pretende se aproximar do vinho como nós, e devemos sempre nos lembrar dessas pessoas para mantermos o pé na realidade (deve ser a única coisa que nos separa dos enoarrogantes).
Mas mesmo entre apreciadores há uma dúvida que pouca gente tem coragem de perguntar: se a uva fina, na parreira, é doce.
Vejam só, não estou falando do óbvio. Estou falando que esse processo químico que transforma açúcar em álcool é óbvio para quem trabalha com isso e para quem pára e pensa, mas para quem simplesmente bebe uma taça de vinho aqui e alí, essa é uma questão que faz sentido.
E antes de me alongar em outra vertente: SIM, uvas no ponto ideal de maturação para vinhos não espumantes são doces, muito doces na verdade, sejam elas brancas ou tintas.
Assim, a experiência que vou relatar a seguir era, até bem pouco tempo, para poucos. Felizmente poderá ser para qualquer um que tiver a disposição de ir até Bento Gonçalves no começo de cada ano.
A Vinícola Monte Lemos (Dal Pizzol) promoveu, no último sábado, o lançamento de um projeto que eles chamam de audacioso e eu chamo de sensacional, o Vinhedo do Mundo.
Dentro do propriedade da família em Faria Lemos, onde fica o parque temático da uva e do vinho - sobre o qual já falei aqui - há um espaço de meio hectare (foto acima) que, desde 2005, vem sendo preparado pela empresa, em uma parceria com a Embrapa, para abrigar uma coleção de 500 variedades de uvas de várias partes do planeta.
Neste lançamento já estão em produção 164 variedades vindas de 22 países.
As autoridades presentes ao evento (e eram muitas!) colheram uvas de vários países e enquanto elas faziam isso eu caminhei entre os vinhedos e provei muitas cepas diferentes. Em minhas mãos, abaixo, vocês veem os cachos da uva Lambrusco, colhidos pelos jornalistas presentes ao evento.
Sim, é a uva - tinta - com a qual se faz aquele vinho frisante que uma porção de gente adora.
É uma uva típica da região da Emiglia-Romagna, que produz vinhos fáceis, mas não tão ordinários como os que chegaram a abarrotar prateleiras pelo Brasil afora há alguns anos. Muitos dos que ainda estão aqui nem sequer são espumantes naturais, portanto recebem adição de gás-carbônico para ficarem borbulhantes. É praticamente um refrigerante fermentado de uva.
Mas vejam como são lindos os cachos da Lambrusco (e de grãos muito doces).
Dentro do vinhedo, eu estive em Portugal e fotografei a uva branca Fernão Pires (que também é conhecida em terras lusitanas com um nome feminino - Maria Gomes) que pareceu-me bastante doce e de elevada acidez.
Fui até a Espanha, logo na fileira ao lado, e provei a tinta Aragonez (foto abaixo), com sua suavidade e sabor diferente, além de passear pelas cepas que fazem o Valpolicella (Corvina, Rondinella e Molinara), que estão todas lá, lindas, doces na fileira da Itália.
Enfim, imagino que deu para entender que aqueles momentos, sob chuva fina, que passei no Vinhedo do Mundo, foram uma breve e intensa aula sobre viticultura, como jamais tive em nenhum outro local.
Acredito que os objetivos propostos pela Dall Pizzol para a utilização desse vinhedo serão plenamente atendidos, que são o de ser uma referência cultural para a mais importante região vitivinícola brasileira, uma fonte de observação, estudo e fornecimento de material vegetativo, um atrativo turístico e - o que mais importa para nós, enófilos - um local para ver aquilo que só conhecemos por fotos ou em separado em viagens ao exterior.
Uma experiência inesquecível!
Na foto abaixo está Carlos Paviani, do Ibravin, que assim como todos os presentes, ficou muito impressionado com o projeto e com genuina felicidade no olhar ao colher o cachos de uva francesa Petit Verdot.
Na última foto aparecem alguns dos executores do projeto. Da esquerda para a direita, os enólogos Mauro Zanus e Humberto Camargo da Embrapa, o agrônomo Tiago, responsável pelo vinhedo e Toninho Dal Pizzol, um dos diretores da vinícola.
Bárbaro esse lugar em Faria Lemos,
ResponderExcluirestive hoje falando com a Bruna Cristófoli pela manhã, e com a tiurma da Viapiana pela tarde... ótimos momentos na serra gaúcha....
saludos
José