Mas antes um pouco de 'contexto histórico'. Ponches eram muito comuns no Brasil nas décadas de 1950/60/70. Não havia festa sem eles. Em minha casa, no dia 1o de janeiro, o ponche de frutas servido dentro de uma enorme melancia era um 'clássico.
Nos EUA (de onde veio a foto acima) eles ainda aparecem quentes ou frios e estavam em todos os filmes que mostravam os jovens em bailes dos anos 50/60, em geral na mesma atitude da foto: 'batizando' o ponche. Isso porque os ponches podem ser com ou sem álcool.
Hoje, muita gente confunde ponche com Sangria, mas não são a mesma bebida. Falarei de Sangria oportunamente.
Equipamentos: um recipiente de vidro ou plástico com tampa que caiba na geladeira, faca afiada, uma poncheira ou saladeira grande (ou até mesmo jarras) copos ou taças bojudas e colherinhas.
Ingredientes: 1 garrafa de dois litros de soda limonada (não use diet), 1 garrafa de vinho frisante (Salton Lunae, Almadén Sunrise, Marcus James Frisante) OU (se quiser mais forte) 1 garrafa de espumante Brut, suco de dois ou três limões, um pau de canela, 4 a 5 cravos, 200 ml de conhaque, 1/2 xícara de chá de açúcar, 1/2 lata de pêssegos em calda (guarde meia xícara da calda da lata), folhas de hortelã para decorar.
Escolha duas frutas de cada um dos tipos (pode ser mais, mas deve levar ao menos duas): crocante (maçã fuji/verde, pera firme, grãos de uva Itália), ácida (kiwi, abacaxi, morango, maracujá, ameixa fresca), doce (cereja, melão, melancia, lichia).
Evite frutas como banana, mamão, abacate e goiaba, pois seus sabores tendem a se sobrepor aos outros.
No dia anterior: lave e pique as frutas todas dentro do recipiente com tampa. Observe que as frutas tenham uma boa mistura de cores e que os pedaços sejam de tamanhos similares. Coloque o suco de limão e o açúcar sobre as frutas, a canela e o cravo, a calda dos pêssegos e o conhaque. Misture tudo bem e deixe descansar na geladeira até a hora da festa.
Aproveite para colocar o vinho e o refrigerante de limão também na geladeira.
Montagem no dia da festa: retire as frutas da geladeira alguns minutos antes de começar a festa. Mexa bem e prove o açúcar, deve estar doce mas não enjoado. Transfira metade das frutas para a poncheira (já no lugar onde ela vai ficar) e volte o restante para a geladeira. Com delicadeza coloque metade da garrafa de soda limonada e metade da garrafa de vinho frisante. Acrescente pedras de gelo. Misture ligeiramente com uma concha e espalhe umas folhinhas de hortelã para decorar. Sirva a seguir com a colher para comer as frutas. Quando estiver acabando misture novamente os ingredientes para mais uma rodada.
Versão sem álcool: para as crianças e adolescentes o ponche pode ser feito sem álcool. Não coloque o conhaque na maceração das frutas e nem o vinho. No lugar do vinho frisante coloque uma garrafa de suco de uva integral.
Agora, a título de curiosidade, tomo a liberdade de reproduzir aqui uma matéria que escrevi há muitos anos para a Claudia Cozinha, quando a revista ainda era separada da Claudia.
Espero que gostem.
Boa passagem de ano e EXCELENTES BRINDES!
ORIENTE E
OCIDENTE NO COPO
Combinações ricas em aromas, sabores e frescor, os ponches são bebidas cheias
de história e tradição que podem ou não levar álcool
O ponche é o
ancestral dos coquetéis modernos e um parente próximo do quentão junino
brasileiro. Tanta familiaridade é explicada por variadas histórias que se
completam unindo o oriente e o ocidente. Um dos pontos de partida é a Índia, de
onde vem a palavra 'pânch', do
vocabulário hindustani ou da palavra 'panchan' do sânscrito e que significa
'cinco', fazendo uma referência ao número mínimo de ingredientes que deve
conter um bom ponche e às suas qualidades: azedo, doce, fraco, forte e
condimentado. No oriente os ingredientes mais comuns eram o limão, açúcar, água,
especiarias e uma bebida destilada chamada 'arrak' (*). Em sua viagem rumo ao
ocidente, no século 17, a receita foi transcrita por marinheiros e passada para
o povo europeu que a adaptou aos seus gostos e ingredientes locais. Na França
antiga um ponche poderia ser simplesmente um vinho tinto leve com rodelas de
laranja e condimentado com noz-moscada ralada, muito parecido com a atual
Sangria espanhola. Entre os ingleses, provavelmente os responsáveis pela
chegada do ponche à Europa, a bebida se sofisticou com o uso do rum caribenho
vindo das colônias e com a criação de um recipiente adequado para a mistura de
grandes quantidades de líquidos. A nossa tradicional poncheira recebeu, por
aquelas terras, o nome de um homem muitíssimo elegante para seu tempo e que
vestia-se com um casaco cujas pontas eram cortadas em tiras. A poncheira que
leva seu nome de família, 'Monteith', tem a borda recortada á moda das tiras do
casaco, para que a ela se adaptem as taças que servirão o ponche. Continuando
sua viagem, na distante Suécia, o sabor do rum não era tão apreciado, mas o
frio intenso pedia uma bebida forte então se criou um ponche com rum, canela,
cravos e aguardente de uvas, que é consumido desde o século 19.
Os ingleses se
encarregaram de levar o ponche para sua colônia que viria a ser os Estados
Unidos. E lá, a bebida virou uma espécie de instituição nacional. Não há filme
americano com baile de formatura ou festa de reencontro que não mostre uma
linda poncheira na principal mesa do salão. Por lá o ponche é consumido em suas
versões com álcool e sem, mas em geral é preparado frio, enquanto na europa as
versões quentes eram (e ainda são) mais populares.
Chegando ao
Brasil, em 1821, segundo relatos de um viajante francês, o ponche se adaptou ao
nosso clima e incorporou sabores e aromas típicos de nossa região, assim como
as frutas e os sucos e passou a frequentar as festas de família e as
comemorações de Natal e Ano Novo. Mas não é somente no verão que o ponche é
apreciado, o nosso quentão, tão popular nas festas juninas, nada mais é do que
um legítimo representante dos 5 ingredientes do original indiano, com o limão,
o gengibre, a cachaça, o açúcar e a água.
Quente ou frio,
com álcool ou sem, o ponche é uma bebida rica que admite muitas combinações.
Você pode criar a sua, seguindo uma regra muito popular no Caribe: "Uma
parte de Azedo, Duas partes de Doce, Três partes de Forte, Quatro partes de Fraco
e cinco pitadas de especiarias, misture tudo com muito gelo". As opções
incluem sucos de frutas cítricas ou não, pedaços de frutas, bebidas destiladas
(como o rum ou o conhaque), bebidas fermentadas (como vinhos e espumantes),
licores, refrigerantes com sabor de frutas, água e açúcar.
(*) Arrak é um termo genérico utlizado para definir
bebidas destiladas incolores na região da Índia, de Bornéu e da Indonésia. Pode
se referir a um destilado de arroz, de cana de açúcar (muito parecido com o rum),
de tâmaras ou até mesmo a um destilado da seiva do coqueiro. O nome, deriva da
palavra árabe 'arak', que significa seiva.
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