Colheita 2016

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sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

"Über" almoço

Um deliciosa discussão que tenho frequentemente com meus alunos é sobre até onde vão os superlativos.
O conceito de dar notas aos vinhos é criticado por muita gente, pela relatividade do gosto e do paladar de quem degusta, e é quase impossível não levar isso em consideração para bem e para mal.
No entanto, pontuações são mais fáceis de assimilar do que outros conceitos. Todo mundo entende que 89 pontos é melhor do que 84 e que vinhos pontuados acima dos 90 pontos devem ser muito melhores do que os outros, qualquer que seja o paladar.
Mas o mundo é cheio de idiosincrasias não é? (risos). Pois no mundo da moda não é bem assim. Existem as modelos, as top-modelos, as super-modelos e as 'über'-modelos. Classe exclusivíssima encabeçada pela brasileiríssima Gisele Bündchen (ou Pëitchen, como eu prefiro chamar, contorcida de inveja). O que virá acima disso? Existe algo acima disso?

Quando eu era criança existiam mercados (sou paulistana, filha de paulistanos) e apenas um ou dois supermercados (Sé e Peg e Pag). No começo de minha adolescência apareceu um hipermercado, o SuperBom, que era um luxo (tinha lanchonete dentro, com balcão em formato de U e vendia eletrodomésticos) e daí em diante o show dos superlativos começou: hipermercado, megaloja, maxishoping etc.
Não dá mais para encontrar superlativos. Acabou...e é por isso que as lojas do Grupo Pão de Açúcar estão menores de certa forma e cada dia com mais cara de mercados especiais. Notem bem 'mercado'!
Outro exemplo são os celulares, eram gigantes, chamados de 'tijorola' e depois ficaram tão pequenos que poderiam ser guardados aí em cima, entre os 'peitchen' da linda Gisele. E agora? Sonho de consumo de nerds e nem tão nerds são celulares que funcionam como computadores de mão, ou seja, cresceram novamente.
Mas e o vinho Sílvia? Cadê? 
Então...tudo isso é para contar que ontem estive em um 'über' almoço no restaurante D.O.M, de Alex Atala, mas também finamente comandado por sua equipe. Esse almoço, para uns dez jornalistas, foi oferecido pela VCT Brasil. VCT é Viña Concha y Toro e o objetivo da equipe liderada pelo mais novo pai do pedaço (Francisco Torres) era lançar a nova safra do tinto top deles: o Don Melchor 2008, cujo chegada ao mercado foi adiantada em alguns meses, por conta da grande saída da safra de 2007.
É um 'über' vinho. Com certeza entre os 3 melhores tintos do Chile (sim, minha personalíssima opinião). E nada mais adequado para acompanhar vinhos top-super-mega do que um restaurante à altura.
Claro que existem controvérsias (e vaidades...risos) e já escutei outras pessoas dizendo que a comida lá era correta apenas e, pior, escutei falarem mal de um dos sommeliers e 'otras cositas'. Como eu já havia entrevistado o Atala em umas duas ocasiões (faz muito tempo) e numa das vezes comido um prato que ele preparou em pé na cozinha enquanto ele falava, resolvi ir de cabeça aberta e com muita disposição para o trânsito de São Paulo 'pré-festas'. 
O que eu encontrei foi, resumido a uma palavra em meio a tantas aqui: IM-PE-CÁ-VEL. Serviço de garçom, dos dois sommeliers (a da casa e o da VCT), comida e atmosfera. Über bom! Ha ha ha!
A proposta era, também, de degustarmos com os diferentes pratos, as três últimas safras de Don Melchor: 2006, 2007 e 2008. Os vinhos foram abertos, decantados, resfriados e devolvidos para as garrafas para serem então servidos. As taças, brilhantes, pareciam estar sendo utilizadas pela primeira vez.
Fomos acomodados e foi servido o Terrunyo Sauvignon Blanc 2008, do Vale de Casablanca, que nos acompanhou durante o purê de alho, a coalhada fresca com zátar e a manteiga aviação em latinhas individuais.
Permaneceu com o Chibé (ou tabule paraense), uma combinação provocante de farinha d'água com jambú (que causa ligeiro amortecimento das papilas), camarões, viera, lula, ervas e cebola roxa.
Trocamos de vinho para o segundo prato, que eu infelizmente não fotografei. Foi um fetuccine de pupunha à Carbonara, com micro cubos de bacon que pareciam ter sido feitos por chineses presos. A sugestão foi acompanhá-lo com o Don Melchor 2006. Mas creio que quase todos os presentes provaram todos os pratos com os três vinhos tintos. Até mesmo a sobremesa...
O segundo prato quente foi uma costelinha de porco com molho agridoce, mandioca à Brás e espuma de Cabernet Sauvignon. Um desses pratos que dão vontade de repetir a porção. No entanto, numa refeição como essa (embora com atores de primeira linha), o Oscar vai para o conjunto da obra e o que vale é passar por todo o ritual.
O prato seguinte foi um confit de pato com molho de vinho Madeira, purê de cará e pimenta verde, sugerido para acompanhar o lançamento de 2008. Fez bonito. Seus sabores intensos, um pouco mais adoçados e gordurosos, contrastaram bem com o vinho ainda um pouco jovem e pungente, de acidez mais marcada.
E quando você pensa que não há mais surpresas, acontece uma subversão da ordem: saem os tintos e entra outro branco, o top de linha da VCT: Chardonnay Amelia 2008, também do vale de Casablanca. Um Chardonnay de elegância ímpar, para acompanhar o Aligot, um purê de batatas que é levado quase ao ponto de bala, com a adição de dois queijos e o trabalho primoroso do garçon ao manuseá-lo na panela de ferro com duas colheres, até o ponto correto. Não dá para sair da cozinha pronto, tem que ser feito no salão, para provar que algumas habilidades delicadas continuam a ser exercidas pelos bons garçons da cidade.
 É óbvio que ninguén resistiu a provar o Aligot com os vinhos tintos também. Mas esse prato é perfeito para um Chardonnay amadeirado como o que foi servido.
Para fechar esse banquete, a torta de castanha do Pará com sorvete de whisky e calda de chocolate. Óbvio? espere um pouco e olhe bem o prato: a calda de chocolate é polvilhada com flor de sal e o prato com curry, além das folhinhas de mini rúcula. Acompanhando esse exotismo todo, um vinho doce de colheita tardia da uva Sauvignon Blanc de 2006, do vale do Maule.

Daí você, meu leitor, que está aí indignado, um pouco invejoso, pensando em impropérios ou, quem sabe, com aquela sensação de que essa era a vida que você queria ter, vai meu recado: esse foi mesmo para fechar com chave de ouro em tranca de madeira nobre este ano complicado em minha vida. Não posso nem me desculpar e nem mesmo sentir pelos outros que foram convidados e não compareceram. Cada um sabe o que é importante em cada dia que passa, certo?
Eu entendi que, quer tenhamos palavreado ou não, existem superlativos. E esse almoço da Concha y Toro no D.O.M foi um deles!

Um comentário:

  1. Babaruca,uca,uca!!!!!!
    como dizem aqui no sul, "cento por cento" um evento dessa envergadura... se os Marques de Casa Concha já são bom....
    é nessas horas que se diferencia os gurís dos homens...cosa de loco...
    no mas, por aqui continuamo na peleia pra divulgar o consumo de tão nobre trago...
    saludos
    Zzé
    ps: devo voltar em breve a São Paulo pra visitar meu padrinho..conforme combinamos umas copas... pretendo llevar uns espumantes daqui....

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