Eu já sabia que mal não faz, pois as videiras são plantas muito resistentes e (como a natureza segue um sábio ciclo) nesta época estão em dormência, guardando energia e aprofundando raízes em busca de nutrientes no solo. Por isso perdem folhas, pois quando a quantidade de sol à qual estão expostas é menor, elas diminuem seus processos e deixam de gastar energia para levar seiva até as folhas, que secam e caem. As fotos abaixo, feitas pela jornalista gaúcha Andréia Debon, mostram algumas vinhas em Flores da Cunha, no mês de julho, em um amanhecer de temperaturas beirando o negativo. Obrigado Andréia, por me permitir usá-las no blog!
Em lugares de frio intenso e contínuo, as videiras podem ficar cobertas de gelo por semanas, sem que isso prejudique a planta.
O que eu não sabia - e quem me contou foi o enólogo chileno radicado no Brasil Carlos Abarzúa - é que esse frio intenso é, na verdade, benéfico para a planta. Ele diminui a possibilidade de pragas causadas pelas mudanças de temperatura e umidade e consequentemente os tratamentos químicos que seriam necessários para as videiras são muito menores - senão inexistentes nessa época, garantindo uma planta muito mais sadia.
A natureza é sábia e precisa, nós é que muitas vezes a alteramos e depois não compreendemos por que os tomates não têm mais gosto de nada, as laranjas são azedas e ressecadas, entre tantos outros produtos sujeitos à sazonalidade mas que nós insistimos em ter em nossas mesas todos os dias.
O frio, em alguns casos, também é um presente incrível para as uvas.
Que o diga a vinícola Pericó, que vai lançar oficialmente no próximo mês de outubro o primeiro Ice Wine brasileiro, obtido com o congelamento das uvas cabernet sauvignon em junho do ano passado, em São Joaquim.
O enólogo Jefferson S. Nunes, proprietário do Enolab de Flores da Cunha, é quem faz esse vinho para a Pericó e me contou há poucos dias que neste ano também conseguiram algumas poucas uvas congeladas e que ele recém iniciou o processo de fazer algumas (muito poucas) garrafas do que seria a segunda safra desse raro vinho. É bem provável que essa safra - de tão pequena - nem seja lançada comercialmente, mas sirva sim como controle e estudo desse diferenciado vinho.
Na foto abaixo, uma parte da colheita das uvas congeladas no ano passado, em São Joaquim (SC).
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